Flu, no sufoco, toma a vantagem do Timão

A temperatura no gramado do Maracanã chegou a 47 graus, antes de Romário, de 36 anos, o mais velho em campo, levar o Fluminense à vitória sobre o Corinthians por 1 a 0, pela semifinal do Campeonato Brasileiro. Durante pouco mais de 90 minutos, os jogadores dos dois times se submeteram a uma exaustiva tarefa: ter de correr a fim de deixar para trás a falta de respeito da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da Rede Globo, responsáveis pelo horário da partida.

O Corinthians classifica-se para a final se vencer o Tricolor carioca na quarta-feira, em São Paulo, por qualquer placar. Poderia atuar pelo empate se Guilherme não desperdiçasse pênalti no último minuto de jogo. A bola bateu no travessão.

Apesar do calor intenso, o Fluminense entrou em campo às 15h50, a 10 minutos do início do clássico. Romário foi o primeiro a deixar o vestiário, depois de um bom tempo longe do convívio das Laranjeiras. Nos últimos 15 dias, só apareceu uma vez para treinar na sede do clube.

Com 14 minutos de jogo, Fabinho e Fábio Luciano já tinham passado próximo ao banco de reservas do Alvinegro para pedir água. O primeiro tempo foi arrastado, com poucas chances, marcação acirrada e muito trabalho para os massagistas de Corinthians e Fluminense, sempre prontos a jogar garrafinhas plásticas em campo para não deixar ninguém desidratado.

Não bastou ao Corinthians dominar o meio-de-campo a maior parte da partida. O goleiro Kléber, do Fluminense, foi pouco exigido. Deivid e Gil pareciam afetados pelo desgaste físico. Faltou energia também no estádio, já no segundo tempo, com pane no sistema elétrico do Maracanã. Os painéis não funcionaram por minutos. Depois, deixaram o jogo de lado e passaram a informar sobre campanhas contra a dengue, de matrícula da rede de ensino do Rio e, repetidas vezes, a respeito do resultado final de um torneio de futebol das escolas de samba da cidade.

Enquanto isso, Deivid, num contra-ataque, chutava de primeira, a um metro da pequena área. A bola saiu na linha lateral. O número de passes errados aumentava à medida que torcedores passavam mal na arquibancada e no setor de geral. Dezenas foram atendidas com tontura pelos médicos de plantão.

Para continuar como ameaça iminente ao time paulista, Romário também pediu água à beira do campo. Abastecido, correu para a área. No minuto seguinte, recebeu passe de calcanhar de Roni e fez o único gol do jogo. Teve fôlego até para dançar na comemoração.

Ficha Técnica

Local: Maracanã (Rio de Janeiro). Árbitro: Márcio Rezende de Freitas (Fifa – SC). Gol: Romário, aos 31′ do 2.º tempo. Cartões amarelos: Marciel e Válber. Público: 56.760 pagantes. Renda: R$ 681.705. Fluminense: Kléber, Flávio, César, Zé Carlos e Marquinhos; Marcão, Marciel (Yan’) e Zada (Carlos Alberto); Magno Alves, Roni (Válber) e Romário. Técnico: Renato Gaúcho. Corinthians: Doni, Rogério, Fábio Luciano, Scheidt e Kléber; Vampeta, Fabinho (Leandro) e Renato (Fabrício); Deivid, Guilherme e Gil (Marcinho). Técnico: Carlos Alberto Parreira.

Dança foi uma homenagem

A dança de Romário após o gol da vitória sobre o Corinthians foi uma homenagem a um grupo de amigos que foi ao Maracanã e com quem ele costuma sair para dançar ao ritmo do hip-hop. O artilheiro do Fluminense tem agora 16 gols, três a menos que Luís Fabiano, do São Paulo, o principal goleador do Campeonato Brasileiro.

Apesar de ter decidido o jogo de ontem, Romário continou em silêncio. Faz mais de dois meses que não concede entrevistas. Ele não vem treinando com o grupo e, portanto, não vai comparecer às Laranjeiras na tarde de hoje, na reapresentação da equipe. Depois de um leve treino, o time do Fluminense viaja para São Paulo. Romário só se reapresentará à comissão técnica na noite de terça.

Bastante cumprimentado por dirigentes e torcedores do clube, pela ousadia de ter escalado três atacantes (Romário, Magno Alves e Roni), o técnico Renato Gaúcho vai poder contar com a volta de Beto, que cumpriu suspensão, no jogo de quarta-feira, no Morumbi.

O treinador elogiou a aplicação tática do Fluminense e também fez uma menção especial ao Corinthians. “Vencemos uma grande equipe do futebol brasileiro, jogando sempre para a frente”, disse. Feliz por ter invertido a vantagem adversária, Renato Gaúcho afirmou que seu time está disputando uma partida de 180 minutos e que não pode comemorar nada.

O técnico não quis fazer nenhuma comparação do jogo de quarta-feira com o da primeira fase do Brasileiro, em que o Fluminense derrotou o Corinthians por 2 a 0, em São Paulo. “As circunstâncias eram diferentes”, avaliou. Mais uma vez, ele não quis antecipar o time do próximo jogo. Vai deixar para fazer isso no dia da partida.

Apesar de tudo, Timão deixa o Rio confiante

Os jogadores e comissão técnica do Corinthians deixaram rapidamente o Maracanã mas os que falaram demonstraram a mesma opinião: a derrota por 1 a 0 para o Fluminense não abalou o estado emocional da equipe. “Temos todas as chances do mundo de reverter o quadro. A partida deste domingo foi muito equilibrada, cadenciada por causa do calor, mas tivemos possibilidades de sair na frente do placar”, avaliou Carlos Alberto Parreira.

Na visão de Fábio Luciano, o Corinthians viverá na quarta-feira um momento em que terá a chance de demonstrar a mesma maturidade do primeiro semestre, quando conquistou os títulos da Copa do Brasil e do Torneio Rio-São Paulo. “A nossa situação é perfeitamente reversível. Principalmente porque o grupo já demonstrou ter experiência e sangue frio nos momentos mais complicados. Sem contar que vamos atuar no Morumbi, com apoio da torcida.”

O zagueiro atentou para o fato de que basta uma vitória simples para o Corinthians chegar a mais uma decisão. “O clima no vestiário após o jogo de hoje (ontem) não era de pessimismo. Pelo contrário. Se formos analisar friamente os lances, veremos que os dois times chegaram praticamente o mesmo número de vezes ao gol.”

Parreira também isentou Guilherme de culpa pela derrota, ressaltando que o atacante é o cobrador oficial de pênaltis da equipe. “Vocês (jornalistas) são engraçados. Quando o Guilherme marcou um gol de pênalti no último minuto contra o Paraná, ninguém veio me questionar. Agora, todos me cobram sobre o motivo pelo qual ele cobrou a penalidade máxima. Era ele ou o Rogério, e essa decisão é tomada pelos próprios atletas dentro de campo, sem minha interferência.”

O treinador também não admitiu que tenha se precipitado ao substituir Gil quando o placar estava empatado em 0 a 0. “Coloquei o Marcinho porque o Gil não estava mais agüentando acompanhar as descidas do lateral Flávio. O calor estava insuportável e precisava de alguém mais fresquinho.”

Mesmo prevendo dificuldades por ter que reverter uma desvantagem, o treinador desvinculou a situação do Corinthians à do São Paulo, que na semana passada precisava vencer o Santos por dois gols de diferença para se classificar mas perdeu e foi eliminado. “O São Paulo precisava marcar dois gols. Nós temos que fazer apenas um, talvez até meio. Meu discurso só pode ser otimista.”

Romário

Aclamado pela torcida do Fluminense, Romário também mereceu considerações de Parreira. “Se não fosse ele, o Fluminense dificilmente teria chegado na posição que chegou. Tem sido decisivo em todas as últimas partidas.”

O goleiro Doni também falou sobre o artilheiro, que já marcou 16 gols no campeonato. “O lance do gol foi muito rápido. Se fosse qualquer outro jogador que tivesse recebido a bola, talvez pudesse ter feito a defesa. Mas com o Romário é diferente. É impossível saber onde ele vai chutar”.

Embora reconhecesse que o calor contribuiu para tornar o jogo cadenciado, Marcinho procurou outra explicação para a derrota corintiana. “Futebol é assim mesmo. Eles tiveram uma chance e marcaram. Temos que manter a tranqüilidade porque o confronto será diferente no Morumbi.”

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