Festa só fora de campo. Lá dentro, deu Paraguai

A era Scolari terminou como começou. Foram pouco mais de treze meses no comando da seleção brasileira, com um início e um final semelhantes: derrotas por 1 a 0.

Se na estréia o vencedor foi o Uruguai, ontem a vitória foi do Paraguai, em pleno Estádio Plácido Castelo, em Fortaleza. A equipe de Luiz Felipe mostrou os mesmos defeitos de quase todo esse tempo -um time baseado apenas na individualidade dos jogadores, sem muita tática. Sorte dele (e dos brasileiros) que houve um pentacampeonato no meio do caminho.

O clima era propício para uma grande festa – Fortaleza mais uma vez se preparou para receber a seleção, a temperatura não era tão alta (no início do jogo era de 30ºC), e o Castelão (que abrigou a Copa dos Campeões) recebia bom público. Mas o ?clima? não era de festa – a CBF organizara o jogo, segundo acusações, com fins eleitorais; o horário continuava absurdo para um jogo de seleção na quarta-feira – o trânsito era caótico nas imediações do estádio – e o segundo pai de Luiz Felipe Scolari, o ex-treinador Carlos Froner, falecera pela manhã.

Com os prós e os contras sendo pesados, a bola rolou. Antes disso, a cena simbólica: Cafu levantou a Taça Fifa para relembrar o dia da conquista do pentacampeonato. Em relação ao time campeão do mundo, mudanças – o esquema 3-5-2 caiu por falta de zagueiros e Ricardinho assim ganhava uma vaga no meio-campo. Na primeira chance real, aos 4 minutos, Rivaldo recebeu de Ronaldinho e chutou à direita de Tavarelli.

A partida era de festa e o ritmo era de treino – pelo fato de apenas Marcos, Anderson Polga, Gilberto Silva e Kléberson estarem jogando regularmente. Apesar disso, o Brasil dominava, muito pelo imenso respeito devotado pelos paraguaios no início do jogo. A folga virou apatia e o Brasil não conseguia mais chegar ao ataque. Do outro lado, Cuevas exigiu de Marcos ótimas defesas.

O ?sono? brasileiro foi quebrado por um ótimo arremate de Kléberson de fora da área, que Tavarelli se esticou para defender. Aos 26 minutos, Ronaldo teve sua primeira – e única – chance, tentando encobrir o gol paraguaio. Só que isso era pouco – e tanto a seleção deu espaço que Cuevas fintou Edmílson aos 27 minutos e chutou com força, vencendo Marcos.

Ronaldo e Marcos saíram e começou aí a série de mudanças de Luiz Felipe – na ocasião, entraram Luizão e Dida. Na volta do intervalo foram mais seis mudanças, mas o estilo de jogo, no entanto, não mudava, já que o conjunto realçava a falta de ritmo da maioria dos jogadores. A grande estrela da partida tornou-se Kaká, alvo do frenesi das garotas que estavam no Castelão.

A primeira oportunidade real do segundo tempo aconteceu com Denílson, que chutou de fora da área para a defesa de Tavarelli.

As chances de buscar a vitória eram desperdiçadas uma a uma, principalmente porque cada jogador buscava seu brilho individual – quem se irritava era Luiz Felipe, que abandonara a tranqüilidade de antes do jogo para gritar desesperadamente com os jogadores. Edílson até marcou um gol, mas o lance foi invalidado por impedimento. E se não fossem Emerson e Rogério Ceni, o Paraguai venceria por um placar mais dilatado. A derrota fecha uma página gloriosa do futebol brasileiro com uma capa pobre, mas bem próxima da realidade do esporte no país. A seleção volta a jogar em novembro, contra um combinado do resto do mundo, em Nova York – já sem Felipão, a partir de agora ex-técnico do Brasil.

CBF descarta volta de Felipão

Fortaleza

– AE O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, praticamente descartou a possibilidade de o técnico Luiz Felipe Scolari voltar a dirigir a seleção em janeiro de 2003, quando deve ocorrer o anúncio do novo treinador do time. O dirigente relutou em falar do assunto. Diante da insistência dos repórteres, acabou dando mais do que uma pista. “No almoço (na CBF, há duas semanas), pedi que continuasse. Ele não quis. Seria total falta de bom senso voltar atrás.”

Ricardo Teixeira também negou uma “coincidência premeditada” entre a decisão de anunciar o novo técnico no início de 2003 e a disposição de Felipão de passar os últimos meses de 2002 descansando, retomando as atividades de campo em janeiro. “Não venham fazer essas relações, porque são fantasiosas”, disse o presidente da CBF.

Se um retorno de Felipão à seleção pode não estar tão próximo, não quer dizer que esteja fora de cogitação. Ricardo Teixeira deixou isso claro ao se dizer grande admirador do trabalho do técnico e comentar que qualquer brasileiro gostaria de ver Felipão novamente na equipe. Mas, com um convite a outro treinador em 2003, uma eventual volta de Felipão ficaria condicionada ao desempenho do novo ocupante do cargo.

Indagado sobre as qualidades de Oswaldo de Oliveira, Vanderlei Luxemburgo e Carlos Alberto Parreira, principais candidatos à sucessão de Felipão, o presidente da CBF limitou-se a dizer que são bons técnicos.

Ele afirmou também que o técnico da seleção principal será, no mínimo, consultado sobre a escolha de quem vai trabalhar com a seleção pré-olímpica. Sobre quem dirigirá a equipe no próximo e último amistoso do ano, em novembro, ainda sem adversário e local definidos, Ricardo Teixeira deu a entender que fará da escolha uma homenagem, sem afetar os clubes que disputam o Campeonato Brasileiro. “Seria uma barbaridade tirar um técnico do campeonato para um jogo só”, explicou. Depois, desconversou sobre o acerto para a contratação do ex-jogador Falcão para coordenador-técnico da seleção.

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