Festa e protesto com casa cheia

Como previsto, o jogo foi de casa cheia. Melhor ainda que, para felicidade geral da Polícia Militar, staff de segurança do clube e famílias coxas-brancas, somente uma torcida compareceu em peso ao Couto Pereira. Antes da bola rolar, o prenúncio de lotação se confirmou com louvor. E apenas 25 ocorrências foram registradas na sala de triagem da PM, ao final da partida. Destas apenas duas foram encaminhadas para a Polícia Civil (roubo).

Por volta das 15h30, filas tomavam conta das ruas que davam acesso ao estádio estavam tomadas por intermináveis filas. Em frente à entrada da rua Amâncio Moro, uma multidão se aglomerava e entoava os gritos de “guerra” e incentivo ao clube do coração. Na Mauá, as filas se estendiam por mais de duzentos metros.

Muitos aproveitaram a visibilidade da final, para fazer seu protesto contra o conflilto no Oriente Médio. “O Bush é um capitalista idiota”, bradavam os garotos Bruno e Tiago Andrade, que junto com o amigo Luiz Ramos produziram um cartaz com uma quadrinha engraçada (“Bush seu troxa, no war e vem torcê (sic) pro Coxa”).

Mais adiante, também seguindo para a entrada da Amâncio Moro, um grupo de 20 pessoas da mesma família dava um tempo para uma pose histórica, com o estádio Alviverde ao fundo. Otimistas, os integrantes do grupo previam: “vai dar 3×0”.

Quase na frente da entrada, da Amâncio, os comandos O.P.B (Organização Pixadores do Boqueirão), Stiga e Mais Atrevidos, produziram um caixão de protesto contra a guerra: “Morte ao Bush, parem a guerra”. Sobre o jogo, a previsão era de 3×1 para o Coritiba.

No edifício nas esquinas da Amâncio Moro e Mauá, o coxa-branca Cícero Bággio acertou o resultado final. “Vai das 2 x 0 para o Coxa”, previa o torcedor que acompanhou de perto toda a agitação para compra de ingressos antecipados. “As filas chegavam à Mauá, saindo das bilheterias da curva, em frente ao estacionamento”, revelou Baggio.

Já o alviverde Jean Feder, que estava acompanhando o filho, que integrava o corredor humano que serviu para a entrada do Coxa, estava “com a pulga atrás da orelha. Tô me lembrando do Figueirense”, falou Jean, lembrando da derrota Alviverde que praticamente o eliminou o Brasileiro do ano passado.

Do lado do Paranavaí, o movimento foi bem calmo. Pouco mais de 600 pessoas ocuparam o espaço reservado para o visitante. Os mais animados eram os das famílias Guedes, Lopes e Pinheiro, que confiavam na vitória do Vermelhinho. Moradores de Curitiba há 15 anos, não esqueceram a origem. “Somos pés vermelhos com orgulho”, revelou Jorge, que esperava ver seu time vencer a final por 2 a 0.

Violência estraga o chope

Uma festa durante o dia começou a se complicar no começo da noite. Anunciado pelo presidente Giovani Gionédis como uma confraternização para toda a nação coxa-branca, o festejo preparado, com trio elétrico, ao som da banda “Ipsis Literis” e regado a cerveja, teve um final antecipado e por pouco não se acabou de forma trágica.

Tudo começou ainda no deslocamento dos heróis no tradicional desfile em carro do Corpo de Bombeiros. O veículo foi estacionado na rua Mauá, e os campeões subiram para se deslocar até o estacionamento, pela rua Amâncio Moro e um pequeno trecho na Ubaldino do Amaral, até chegar ao trio elétrico.

Foi justamente aí que a confusão se armou. Torcedores insistiam em subir no caminhão, para festejar ao lado dos ídolos. Outros, se colocaram em frente ao caminhão, impedindo o mesmo de sair do lugar. Para superar o problema, foi chamada a polícia montada, que dispersou a multidão. A reação dos populares foi imediata, em um misto de provocação e enfrentamento. Enquanto alguns subiam no caminhão à revelia, outros atiravam pedras para atingir soldados e suas montarias.

Contornado este problema, os campeões fizeram o percurso, mas a confusão entre polícia e torcida ainda estava longe do fim. Os policiais eram alvo da ira dos torcedores e pedras, latas de cerveja e até um latão de lixo serviu de munição para a turba.

Já com os campeões sobre o trio elétrico, o problema agora passou para outro lugar. A organização da festa escolheu as bilheterias como ponto de distribuição das geladas. Como o espaço era muito pequeno e as filas inexistentes, a multidão começou a se aglomerar e a confusão tomou conta do ponto de distribuição da bebida, mas se transformou no estopim da batalha entre PM e torcida.

Números preliminares, levantados pela reportagem da Tribuna, indicam que pelo menos seis pessoas foram baleadas depois da ação do Batalhão de Choque. Alguns encaminhados pelo Siate para os hospitais da região, enquanto outros eram atendidos em ambulâncias que se deslocaram para o local.

Márcio Aparecidos Dantas, 21, baleado na cabeça, estava imobilizado pois apresentava um quadro de convulsão. Já Antônio R. G. de Oliveira, 32, ambulante, levou um tiro no joelho e foi socorrido pela própria PM.

Com isso, a festa que foi programada para “virar a noite”, foi cancelada pelo comando do policiamento que daria segurança à final, por volta das 21h50 de ontem. Por volta das 22h30, já não havia mais som e o estacionamento, desativado para receber a torcida e comemorar, mais parecia uma praça de guerra. No fim da noite, um bip divulgado pelo Hospital Cajuru, dava conta que a instituição atendeu pelo menos quatro crianças atingidas por balas de borracha.

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