Felipão: “Nós nos vemos em 2006”

Porto Alegre (AE) – “Nós nos vemos em 2006. Tá legal?” A frase de Luiz Felipe Scolari, último pronunciamento público antes do recolhimento para o descanso de uma maratona de 72 horas entre a final da Copa do Mundo, no Japão, e sua casa, em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, semeou esperança nas centenas de vizinhos que, quase em delírio, saudaram a volta do técnico no final da tarde de ontem. Juntada aos últimos pronunciamentos do técnico, a manifestação de Canoas deixa claro que Scolari já não tem a certeza que exibia antes da final da Copa de que deixaria a seleção.

Em entrevista coletiva dada no palco da Epatur, em Porto Alegre, Scolari remeteu a decisão para depois das férias de 20 dias. Mesmo ouvindo o grito uníssono de “fica” da platéia, o técnico disse que só vai discutir o assunto quando retornar de uma viagem de descanso que vai fazer pela Serra Gaúcha e litoral catarinense.

Movido a desafios, Scolari havia confidenciado a amigos, antes de se tornar técnico do Brasil, que gostaria de dirigir o Uruguai.

Na semana passada ele teria recebido um convite da federação uruguaia. Mas com o sucesso na Copa poderia estar encaminhando a realização de outro sonho, o de treinar um clube espanhol ou italiano.

Nada disso se compara, no entanto, à perspectiva de levar o Brasil a conquistar sua primeira medalha olímpica, em Atenas, em 2004, e ao hexacampeonato mundial, na Alemanha, em 2006. Desafios à altura do maior colecionador de faixas de campeão em atividade no Brasil e que vão pesar na decisão que ele vai tomar durante as férias.

Festa

No Rio Grande do Sul os pentacampeões Scolari, Ânderson Polga, Flávio Teixeira, Paulo Paixão e Darlan Schneider não foram recebidos por multidões como em Brasília e no Rio de Janeiro. O desfile em caminhão do Corpo de Bombeiros, do aeroporto ao largo da Epatur, durou menos de uma hora e foi saudado por poucas pessoas nas ruas. As diversas alterações no horário – que mudou do início da noite de segunda-feira para a madrugada de terça-feira e finalmente para o início da tarde – confudiram os torcedores.

Mesmo assim havia pelo menos 10 mil pessoas na festa de Porto Alegre, cerca de duas mil em Canoas e mais de 500 na recepção organizada pelos vizinhos de Felipão.

As festas, no entanto, tiveram momentos emocionantes comandados, várias vezes, pelo próprio Scolari, que tomou chimarrão, jogou pacotes de erva-mate para o público, sambou com passistas da escola de samba Estado Maior da Restinga, e pediu para o público contar com ele até cinco para sair repetindo “penta, penta, penta”.

Falando diretamente com a platéia, Scolari disse que o Brasil não esquece a garra e a disciplina dos gaúchos quando buscam um objetivo.

Na coletiva, voltou-se novamente para o público para salientar que a torcida gaúcha ajudou a fazer a história do penta quando apoiou incondicionalmente a seleção no crucial jogo com o Paraguai, quando o Brasil estava em crise, nas eliminatórias.

Scolari também referiu-se ao descrédito da seleção antes da Copa afirmando que a resposta de seu grupo foi o trabalho. “Eu deixo um sentido de organização, de companheirismo, uma amizade que acredito que em outras seleções nunca foi igual”, disse, referindo-se ao seu legado ao futebol. “Se formos organizados seremos imbatíveis pelo resto da vida.”

Depois da festa de Porto Alegre, Scolari, Schneider e Murtosa foram recebidos em Canoas, onde também desfilaram em caminhão do Corpo de Bombeiros. Mas nas duas concentrações de torcedores, no centro da cidade e diante de seu edifício, Scolari, educadamente agradeceu o carinho do povo e pediu para descansar. Depois de chegar em casa, voltou a acenar da janela, sem conseguir esconder o cansaço.

Os vizinhos, compreensivos, começaram a se retirar da rua, deixando-a em silêncio para que o comandante do penta pudesse enfim dormir.

Além das chaves de Porto Alegre, que recebeu do prefeito João Verle, Luiz Felipe receberá os títulos de cidadão honorário da capital gaúcha e de Canoas e a medalha Negrinho do Pastoreio, do governo do Estado, nos próximos dias. A comenda é destinada a pessoas que prestam relevantes serviços ao Estado e à Pátria. Os outros integrantes da seleção que atuam ou nasceram no Rio Grande do Sul vão receber a medalha João Saldanha, de mérito desportivo, que Scolari já tem desde que conquistou a Libertadores com o Grêmio.

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