Aquele Gol espírita

Favorito, Grêmio estava em sua terceira final contra o Ferroviário

Tarde de domingo. 13 de março de 1966. Estádio Willie Davids. Era a primeira partida decisiva para conhecer o campeão paranaense de 1965. O Grêmio Maringá, bicampeão estadual e tricampeão do Norte do Paraná, era favorito. Além de ter um time tecnicamente impecável, o alvinegro fazia a terceira final consecutiva pelo cetro máximo e lutava pelo inédito titulo de tricampeão estadual, coisa que o interior nunca chegou perto. O Ferroviário, adversário que sucumbiu dois anos antes diante do Galo do Norte no primeiro título do alvinegro, lutava para tirar do interior uma hegemonia que já durava quatro anos. Embora o ataque do Grêmio fustigasse e criasse chances uma atrás da outra no primeiro tempo e grande parte do segundo, o gol não saia porque o goleiro Paulista fazia defesas milagrosas em uma de suas melhores partidas no gol do Boca Negra. O futebol tem muitas máximas. E uma delas diz: quem não faz, leva.

Aos 35 minutos do segundo tempo, aconteceu a jogada que desembocou no gol que a imprensa chamou de “espírita”, porque o cruzamento tomou rumo inesperado por todos. Madureira recebeu a bola de Paulo Vecchio, passou por Pinduca e viu Bídio e Humberto entrando na área pelo lado esquerdo. Ele se preparou para cruzar e cruzou. O goleiro Maurício saiu para interceptar e a bola pegou efeito, em vez de ir em direção dos dois atacantes, ela entrou no gol. A Tribuna escreveu no dia seguinte: “Foi um gol espírita. Um gol para entrar na história”. A torcida maringaense não acreditava no que via. Acontecia algo raro e impensado: o Grêmio perdia em casa. E numa partida decisiva. Quando a partida acabou, a torcida começou a desconfiar que o título de tricampeão ficara distante de Maringá. Porque o Ferroviário não iria deixar escapar na Vila Capanema vantagem que conquistou na casa do adversário. E o Ferroviário não deixou mesmo. Na segunda partida, no dia 20 de março, o Boca Negra venceu por 3×1 naquela que Paulo Vecchio considerou a melhor partida de sua carreira. E o time de Vila Capanema quebrou, finalmente, a hegemonia que o Norte mantinha no futebol do Estado.

No entanto, se em campo houve gol “espírita”, a realidade era que fora de campo algumas turbulências andaram turvando as coisas para o Grêmio. O certo é que na véspera as coisas não andavam boas para o time de Maringá, embora coberto de glórias. Algumas semanas antes da decisão, a diretoria do clube suspendeu e colocou à venda um de seus melhores jogadores, o quarto-zagueiro Roderley, acusado de indisciplina. Ele chegou a ser cogitado em trocas por Gauchinho e Leocádio, dois bons jogadores do Londrina, que o Grêmio cobiçava. O União Bandeirante também quis o jogador. No entanto, alguns dias depois, o zagueiro foi perdoado e reintegrado. Mas ficou no ar uma ameaça do presidente do clube, Navarro Mansur, de que haveria limpeza no elenco depois da decisão do título. Um tipo de aviso que não melhora ambiente em nenhum clube, principalmente às vésperas de uma decisão, como aconteceria em poucos dias.

 FavoritoAlém disso, a própria diretoria do clube contribuía para criar clima de crise, agindo como verdadeiros “espíritos de porco”. Poucos dias depois do rendoso amistoso contra a União Soviética, que gerou arrecadação, segundo a Tribuna, de 100 milhões de cruzeiros, o Galo do Norte era notícia estadual por não pagar taxa de 3 milhões de cruzeiros para a prefeitura por usar o estádio que era de propriedade municipal. A reação da diretoria foi colocar à venda seus principais jogadores, como Edgard, Roderley e Pinduca, alegando falta de dinheiro. O diretor Aníbal dos Santos Matias ordenou ao tesoureiro do clube redigir e entregar aos três atletas uma carta para que “fossem procurar time”. A torcida maringaense ficou atônita principalmente porque “os jogadores nada tinham a ver com o caso”. De qualquer forma, blefe ou não, a crise criada poucos dias antes da decisão não foi benéfica para o time. Como se viu em campo. Onde apareceu até gol espírita.

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