Automobilismo no sangue

Família Campos coloca mais um integrante no automobilismo

Julio Campos (esq.) e Raphael Campos (dir.): primos treinam juntos e o mais velho dá conselhos ao mais novo, que já vem conquistando resultados. Foto: Divulgação

Dizem por aí que, às vezes, um gosto esportivo está no sangue de uma família. É muito comum pai e filho torcerem pelo mesmo time ou adotarem um esporte como hobby. Mas e quando esse hobby é levado mais a sério e um parente vira inspiração para uma carreira? Existem muitos casos assim também. Em Curitiba, existe um pessoal que está ligado diretamente ao automobilismo.

A família Campos vem fazendo escola. Tudo começou com Marco Campos, que correu na Fórmula 3000, mas teve a carreira e a vida interrompidas em uma fatalidade. Em 1995, o piloto, com apenas 19 anos, sofreu um grave acidente e Paris e acabou falecendo. No entanto, o desastre não tirou a família das pistas.

Mais tarde, o irmão mais novo de Marco, Júlio Campos, transformou o gosto pelo kart em profissão e atualmente é um dos principais pilotos da Stock Car, principal categoria do automobilismo brasileiro. Mas, a história não para por ai. Júlio, ao mesmo tempo em que pilota, vem se transformando em uma espécie de técnico de uma nova geração da família.

Desde pequeno Julio levou o primo para o kart. Foto: Arquivo pessoal
Desde pequeno Julio levou o primo para o kart. Foto: Arquivo pessoal

O piloto vem ajudando o primo Raphael Campos, de 22 anos, que vem dando passos largos na carreira. Em 2016, correu na Sprint Race, onde conseguiu ótimos resultados para uma estreia, terminando a temporada na quarta colocação.

“Foi incrível, um sonho realizado. Consegui fazer poles, ganhei corridas, sempre briguei entre os três primeiros, aprendi muito, pois nunca tinha andado. Me ensinaram muito e fiz uma família nova esse ano”, disse ele, que começou tarde no automobilismo.

Desde pequeno Raphael se interessava por carros, ainda mais por ter morado com Julio Campos quando era criança. Porém, por circunstâncias da vida, ele precisou morar nos Estados Unidos com o pai e se arriscou no futebol. A iniciativa de voltar a correr só partiu quando ele fez 18 anos e comprou seu primeiro kart. Aí a velocidade que corre nas veias da família se acendeu e a história começou.

“Quando eu fiz 18 anos acabei comprando meu primeiro kart e fiquei apaixonado, era o que eu queria. Quando eu tinha 19 anos, o Julio mandou uma mensagem para o meu pai e fazer carreira aqui”, disse ele.

“Como o meu tio mora nos Estados Unidos, ele passou muito tempo aqui em casa, na criação mesmo, dos 3 aos 4 anos e depois dos 8 aos 11. É como se fosse um irmão mesmo. Por isso fica até mais difícil fazer coach, por ser da família. Eu comecei cuidando dele no kart, em outubro do ano passado, até ele entrar na Sprint. Ele é muito cru, é muito novo, tem dados bons, ganhando corrida, fazendo pole, tem um talento muito bom, mas ainda é muito novo mesmo, não tem experiencia com corridas, ajuste de carro”, elogiou Julio Campos, que, na verdade, foi o maior incentivador da carreira do primo.

“Foi mais o Júlio. Com ele aqui no Brasil, um dos melhores pilotos, e eu não podia perder essa oportunidade, de ter um piloto na família. No começo, morei com ele, nos primeiros seis, sete meses, e isso abriu melhores caminhos”, afirmou Raphael.

Profissão x proteção

Aos poucos, o primo mais novo vai pegando conselhos com o mais velho. São detalhes em uma conversa, observando os acertos nos carros na Stock Car, as manobras na pista, a frieza ao encarar problemas. Mas sempre com aquele carinho de família, que em alguns momentos ficam pra fora do autódromo.

“Na pista, meio que coloca o lado família de lado e fica mais profissional. Claro que às vezes ele fica mais bravo que o normal, mas conseguimos separar bem. Uma vez por semana nós treinamos juntos no kart”, disse Raphael Campos, que acompanha o primo em várias provas da Stock Car, que, inclusive, é o grande objetivo dele na carreira.

“Eu quero chegar na Stock Car, quero fazer uma carreira no Brasil, mas se o automobilismo me levar para outro lugar, eu vou seguir a carreira. O que eu quero é correr”, afirmou ele, que pretende seguir nos carros de turismo.

Em 2016, Raphael Campos fez sua estreia na Sprint Race e terminou a temporada em quarto lugar. Foto: Divulgação
Em 2016, Raphael Campos fez sua estreia na Sprint Race e terminou a temporada em quarto lugar. Foto: Divulgação

Carreira

Tudo foi muito rápido na carreira do jovem piloto. A ajuda da família vem sendo decisiva nos resultados, mas a falta de base quando criança, algo muito comum entre os pilotos, fez com que o processo tivesse que ser acelerado.

“Com a ajuda que temos, de conhecer os atalhos para cortar caminho, acredito que podemos ver um jeito mais rápido dele chegar em uma categoria profissional. Ele vai ter mais dificuldades com esses garotos que desde pequeno correm de kart. Mas em dois, três anos, pegando experiencia ele vai estar pronto”, acredita Julio Campos.

Para compensar este ‘tempo perdido’, a rotina de Raphael é intensa. Durante a semana, todos os dias ele vai à academia pela manhã, e de terça à sexta, pratica duas horas de kart, o grande aprendizado de qualquer piloto.

“O kart tem que ser redondo, não pode brincar muito com o volante e tudo é mais rápido. Apesar de estarmos indo mais devagar, por estar perto do chão, tudo fica mais rápido, com menos tempo para pensar. Já no carro tudo é mais devagar, tem mais tempo para corrigir, pode dar um cutucão no volante”, explica ele.

Se Raphael vai chegar aonde quer, só o tempo vai dizer, mas se depender dos elogios do primo mais famoso, em breve pode ser que os dois acabem transformando os duelos de kart em brigas por posições na Stock Car.

“A evolução dele foi muito legal. A diferença do Rapha é isso, eu vejo ele como um irmão. Se ele virar um super piloto é ótimo, ele é da família”, conclui Julio.