Entrevista com técnico rubro-negro

Daniel DereveckiNo final de agosto, Ney Franco desembarcou em Curitiba com um único objetivo: livrar o Atlético do rebaixamento. Mas, em sua cabeça, havia muito mais em jogo: o futuro profissional e a necessidade de mostrar aos críticos que é um treinador em ascensão e, principalmente, um homem vitorioso.

Passados quase três meses, o técnico impediu o descenso do Furacão e praticamente o classificou à Copa Sul-Americana. Com isso, ganhou prestígio junto ao clube, à torcida, e a oportunidade de trabalhar por mais uma temporada. De contrato renovado e feliz pela permanência, Ney Franco recebeu o Paraná-Online para conversar sobre família, trabalho e planos futuros.

No bate-papo foi possível constatar que no comando do Atlético está um homem inteligente, extremamente ligado à família e compromissado com seu trabalho. Como todo ser humano, sonha alto, mas acredita em seu potencial. Traça metas e demonstra ser obcecado pela vitória. E com razão. Em três anos como técnico profissional, Franco tem três títulos de expressão – campeão mineiro pelo Ipatinga, campeão carioca e da Copa do Brasil com o Flamengo – e comandando as categorias de base do Galo e Cruzeiro acumulou 22 troféus em dez anos.

Daniel DereveckiCuritiba caiu no gosto do comandante. Franco elogiou a região onde mora (Batel) e destacou a diversidade gastronômica da capital. Para ele, os curitibanos são muito parecidos com os mineiros, porque ?não são atirados e respeitam a individualidade das pessoas?.

Franco tem na música um hobby, mas a sua paixão é dividida entre a família e o futebol. A esposa Erica e o filho Felipe (2 anos) são os companheiros e o porto seguro nas horas de frustração. No lado profissional sonha em dirigir a seleção brasileira, mas diz que para isso tem muito a aprender.

A seguir, um pouco de Ney Franco.

Paraná-Online – Como foi o início de sua carreira?

Ney Franco – Tentei ser jogador, mas passei cedo no vestibular para Educação Física. Na universidade, tive oportunidade de conhecer pessoas ligadas ao futebol. Quando me formei, veio o convite para ser preparador físico na base do Atlético Mineiro. Comecei a carreira de treinador no infantil do Cruzeiro, passando pelo juvenil e juniores. Nesse período dirigi o profissional do Cruzeiro em oito jogos, como interino. Em 2005 fui para o Ipatinga e depois Flamengo.

PO – Foi um salto muito grande sair do Ipatinga e dirigir o Flamengo?

NF – Não. Eu estava preparado e foi o melhor passo que dei na minha vida. Foi uma oportunidade e a agarrei. Se não tivesse feito bom trabalho, não estaria no Atlético. Tenho quase três anos como treinador profissional e títulos que muitos não têm em 15 anos de carreira. Só no Flamengo foi um ano e dois meses com três títulos e a revelação de jogadores, entre eles o mais valioso do plantel atual: Renato Augusto.

PO – A influência da mídia atrapalha?

NF – Hoje, o treinador que não consegue ter uma boa relação com a mídia, não consegue ler um jornal ou ver o noticiário esportivo onde está sendo criticado, se perde. O treinador tem que conviver com o elogio e a crítica e ter autocontrole. No meu caso, tenho certeza que possuo e estou preparado para dirigir qualquer equipe brasileira. Sei me posicionar e lidar com a imprensa, seja nas críticas ou nos elogios.

Daniel DereveckiPO – Onde Ney Franco quer chegar profissionalmente?

NF – No topo. O primeiro objetivo é me estabelecer como treinador de Série A. Depois quero chegar à seleção. Sei que preciso de muitos resultados positivos nos clubes: ser campeão brasileiro, regional e passar credibilidade à CBF e à critica esportiva. Mas isso é para longo prazo. Estou com 41 anos. Se conseguir, beleza. Se não, não vou me frustrar.

PO – Qual o seu projeto pessoal de vida?

NF – Está relacionado à qualidade de vida da minha família. Não passar aperto financeiro e me manter trabalhando com futebol enquanto tiver saúde. E não falar em aposentadoria tão cedo.

PO – O que significa o futebol pra você?

NF – É o meu ganha-pão. Hoje tenho condições de dar uma boa vida para minha esposa e filho, ajudar os irmãos a estudar e os pais se precisarem. Também é minha paixão em termos esportivos. Se não fosse treinador, estaria envolvido de alguma maneira com o futebol.

PO – O que aprendeu com o futebol?

NF – Disciplina. Hoje sou rigoroso com o horário e o futebol me auxiliou. Também me ajudou a ser mais organizado e a lidar com as pessoas. Na adolescência era tímido e o futebol reverteu isso. Também me fez evoluir muito como pessoa e me deu oportunidades de conhecer países e outras culturas.

PO – Qual a importância de ter uma base familiar?

NF – É enorme. É o que te dá sustentação. Nos momentos de frustração, a primeira coisa que você quer fazer é chegar em casa e abraçar seu filho. E quando faz isso, esquece todo o resto.

PO – Quais dificuldades o trabalho impõe no relacionamento com a família?

NF – O treinador não tem fim de semana, viaja muito ou está concentrado. Chega um momento em que a ausência da família prejudica por causa da saudade. Você gostaria de ficar mais junto da esposa, acompanhar o crescimento do filho e não pode. Tem que ter tranqüilidade nesses momentos.

PO – O Ney Franco é um dos melhores técnicos da nova geração. Como analisa esse rótulo?

NF – Acho que fui muito feliz em aproveitar as oportunidades que tive. O Atlético me deu a chance para eu dar a volta por cima e me recuperar. Saí do Flamengo em 15.º lugar e peguei uma equipe que estava na mesma posição no campeonato (16.º). Queria provar para mim mesmo que poderia tirar um time do rebaixamento e mostrar que o problema no Flamengo não era exclusivamente eu, mas uma série de fatores, até mesmo problemas internos.

PO – Qual estilo adota como treinador: paizão ou xerifão?

NF – Tenho minha metodologia que me acompanha desde as categorias de base. No Atlético também está dando certo, pois vim para tirar o time do rebaixamento e conseguimos. Nessa metodologia, além do lado técnico tem o lado da personalidade, que não muda. Tem o momento certo de cobrar os jogadores, às vezes individualmente e às vezes coletivamente. Não sou muito de gritar com jogador. Sou mais da persuasão, de chamar o atleta e dialogar. É dificil dizer se sou semelhante a algum treinador. Acho que vai chegar o momento em que vou ter a minha figura bem demarcada no mercado e espero que seja do lado positivo.

PO – Desde a chegada no Furacão como tem sido o dia-a-dia?

NF – Dia-a-dia de muito trabalho, correria. Da forma que cheguei, além de trabalhar no clube trazia muito material para casa. Então, até agora, foi de trabalho intenso. Não deu pra relaxar. Fomos traçando metas a cumprir e agora tem que traçar planos para a temporada de 2008. Mas quando tem folga, tento ficar o máximo com minha família.

PO– Qual a importância da torcida nessa campanha?

NF – Peguei um grupo com medo de jogar na Arena e ele se recuperou com as manifestações positivas. A partir do bom resultado contra o Atlético Mineiro começou na cidade esse clima de ter que ganhar todos os jogos na Arena e foi muito legal. A torcida tem participação importante no crescimento da equipe.

PO – Ney Franco definido por ele.

NF – Sou um profissional capacitado para desenvolver meu trabalho. Me preparei, mas tenho muito a evoluir na carreira. Acredito que sei liderar bem um grupo e, como todo líder, tenho aspectos positivos e negativos. Considero que tenho mais acertos do que erros.

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