Dupla pedala de Monterrey a Fortaleza para ver o México

Roupas sujas, chinelos velhos e pneus gastos nas surradas bicicletas. Os amigos Hector Maldini e Edgar Gari deixaram a cidade de Monterrey, no México, e vieram para o Brasil para tentar ver algum jogo da Copa. Largaram seus empregos, colocaram pouco dinheiro no bolso e partiram para a maior aventura de suas vidas.

Hector tem 26 anos e era engenheiro agrônomo. Seu amigo, um ano mais velho, trabalhava como soldador no México. Os dois abriram mão do conforto e passaram a pedalar pelas estradas da América Central e do Sul. “Acho que acabamos virando hippies. Nós nos consideramos assim, agora”, diz Edgar, rindo.

Eles saíram de suas casas, em janeiro, com poucas peças de roupa, US$ 200 (R$ 447) no bolso, deixando para trás uma vida com um pouco mais de conforto. “Vamos geralmente pela estrada e por falta de grana comemos bolachas com manteiga. Quando entramos no Brasil, passamos a tomar café com bastante açúcar, para dar energia”, diz Hector.

A dupla estava em Fortaleza com somente R$ 4 no bolso. “É o que temos no momento, para passar toda a estadia por aqui”, brinca Edgar, lembrando da dificuldade que é viajar com pouco dinheiro. “Nós fazemos artesanato para vender e nos exibimos com malabares para tentar ganhar alguma coisa”, acrescenta.

Ao sair de Monterrey, eles foram em direção ao sul pela América Central, atravessaram o Panamá e chegaram à Colômbia. “Lá era difícil, tivemos um período de sete dias sem banho, porque não encontrávamos estrutura nas estradas”, lembra Hector. Conheceram cidades como Medellín, Bogotá e Cúcuta, depois foram para Maracaibo, na Venezuela.

Na sequência, continuaram no sentido sul para entrar no Brasil por Roraima. Deixaram Boa Vista para trás e chegaram a Manaus. Lá, a única possibilidade que tinham para chegar a Belém era por barco. Colocaram suas bicicletas e foram pelos rios Negro e Amazonas até a capital do Pará.

A partir de Belém, os rapazes se mantiveram pelo litoral brasileiro e foram até São Luís, no Maranhão. De lá passaram pelos Lençóis Maranhenses, Delta do Parnaíba e entraram no Ceará. Em Camocim, fizeram um trajeto pela praia, durante a maré baixa, até chegarem a Jericoacoara. “O visual era lindo demais, foram noites de lua cheia, muito bonito”, conta Hector. “Difícil dizer quais são os lugares mais legais que estivemos, foram tantos que não dá para dizer apenas um. A passagem pelos Lençóis Maranhenses foi marcante.”

Como estavam de bicicleta, eles podiam pegar rotas alternativas por todo o caminho e assim não precisavam dar tanta volta para utilizar somente vias pavimentadas. A dupla calcula que percorreu mais de seis mil quilômetros. “No Brasil, a estrutura nos postos é muito melhor. Tem chuveiro e lugar para pendurarmos nossas redes para dormir. Aí o conforto aumentou”, diz Edgar.

Hector ganhou no caminho um chinelo de presente. “O meu estava todo gasto e me deram esse aqui. É um de cada cor”, afirma sobre um pé laranja e outro amarelo. Eles pretendem ir, na sequência, para Recife, onde o México encerra sua participação na primeira fase diante da Croácia, na próxima segunda-feira.

“Pena que ainda não temos ingresso, nem para o jogo aqui em Fortaleza nem para o seguinte, na Arena Pernambuco, no Recife. Vamos ver se a gente consegue”, conclui Hector, feliz da vida por ter chegado ao seu principal destino.