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Cuca exorciza o maior fantasma de todos no Palmeiras: o jejum de 22 anos

A passagem de Cuca pelo Palmeiras não começou como se esperava. A expectativa formada em torno do novo treinador era quase revolucionária após os altos e baixos de Marcelo Oliveira – o time conquistou a Copa do Brasil nos pênaltis, mas passou praticamente todo o mês de novembro do ano passado sem vencer. Com Cuca, a equipe amargou de cara duas derrotas consecutivas – uma para o Nacional, do Uruguai, pela Copa Libertadores, e outra diante do Audax, no Campeonato Paulista, que influenciaram no desempenho da equipe no 1º semestre.

Perder em casa acabou sendo um resultado decisivo para a desclassificação ainda na primeira fase do torneio continental. Depois da eliminação nos pênaltis para o Santos no Estadual, Cuca prometeu a conquista do título nacional. “Vamos trabalhar direitinho, fazer as coisas certas para conquistar o título brasileiro”, prometeu.

O compromisso público, visto com preocupação pela diretoria, tornou-se um poderoso motivador para o elenco na procura de um título que não chegava havia 22 anos. “Todos compraram a ideia”, disse Zé Roberto.

A relação de Cuca com o Palmeiras começou em 1992. Ainda como atleta, o meia habilidoso fez parte do primeiro time montado na parceria com a Parmalat, mas acabou se transferindo para o Santos no fim daquele ano, antes do histórico título estadual de 1993. Como treinador, o estilo ofensivo, baseado na versatilidade dos jogadores, moldou um jeito dinâmico de jogar.

O Palmeiras dificilmente atua pelo meio, setor sempre mais congestionado. Quase 40% dos gols da equipe foram feitos de duas formas: jogadas de linha de fundo e bola aérea. Cuca até “inovou” ao transformar o arremesso lateral em lance perigoso de cruzamento. Três gols aconteceram assim. “Criei essa jogada porque as dimensões do campo diminuíram, temos um bom cobrador (Moisés) e componentes no jogo aéreo que encaixam bem nesta segunda bola”, justificou.

Mas o Palmeiras também oscilou dentro do Brasileirão. O período mais difícil foi a sequência de três jogos sem vitória (derrotas para Atlético Mineiro e Botafogo e empate com a Chapecoense). Por várias rodadas, teve de controlar os nervos diante da perseguição do Flamengo e do Santos. O leque de opções – o Palmeiras tem o elenco mais valorizado do País – foi bem aproveitado por Cuca. Tchê Tchê, escolhido a dedo pelo treinador, tornou-se um curinga. Dudu, Gabriel Jesus e Róger Guedes também aprenderam a marcar e combater.

Cuca conseguiu montar um Palmeiras equilibrado e maduro, retrato de sua evolução. O time lembra o Atlético Mineiro campeão da Libertadores em 2013 por causa do jogo esticado e objetivo, que aposta em lançamentos. Recorre à movimentação exaustiva do Botafogo de 2007 e, obviamente, traz ecos de Goiás e São Paulo, como equipes que marcam e sabem jogar.

Esse é o Palmeiras. Depois de ter exorcizado demônios, derrubar tabus contra Corinthians no Pacaembu (21 anos), Internacional no Beira-Rio (19 anos) e Sport na Ilha do Retiro (sete anos), Cuca afastou o maior de todos os fantasmas: os 22 anos de fila no Brasileirão.

DE AZARÃO A CAMPEÃO – Após carregar fama de fracassar nas decisões, Cuca atinge novo patamar na carreira. Apesar de acreditar na sorte (mas só para quem trabalha duro), o técnico faz cara de poucos amigos e desconversa quando questionado sobre a reputação negativa. Com a histórica vitória com o Atlético Mineiro, em 2013, e agora o título nacional, ele consolida sua ascensão à beira do campo.

Seu futuro não está definido. Ele se recusou a comentar sobre o assunto antes da conquista. O presidente Paulo Nobre pensa o Palmeiras com ele em 2017, mas a China e um salário de R$ 1,5 milhão podem afastá-lo do clube.

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