Futebol sem torcida: os reflexos dentro e fora de campo

Na Dinamarca, uma solução pro futebol sem torcida: uma megablaster chamada de vídeo. Foto: FIFA

As negociações para a volta dos campeonatos no Brasil têm um ponto em comum: todos concordam que teremos um bom período de futebol sem torcida. Voltando mais cedo ou mais tarde, de forma prematura ou planejada, com protocolos mais ou menos rígidos, de qualquer forma as partidas serão com portões fechados, sem qualquer tipo de aglomeração dentro ou fora dos estádios. Um fato que muda o jogo.

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De saída, é estranho, vamos falar a verdade. Ninguém gosta de assistir ou trabalhar em um jogo com pouca gente. Tanto que o sonho dos jogadores, dos técnicos, dos jornalistas e até dos árbitros é de estar em grandes partidas, aquelas em que o estádio está abarrotado. E isso vai demorar pra acontecer – porque depois do futebol sem torcida teremos o futebol do distanciamento, com capacidade reduzida dos estádios.

E o impacto mais forte disso, que vemos na Alemanha, é o aumento de vitórias dos times visitantes. O futebol sem torcida gera a neutralidade dos estádios, mesmo aqueles considerados fortalezas para seus times. O fato de não haver mais o ‘fator casa’ equilibra o jogo antes mesmo de ele ser iniciado.

A importância do torcedor

Recuperemos o exemplo dos nossos times. Na Arena, no Couto e na Vila, as torcidas de Athletico, Coritiba e Paraná Clube promovem atos de incentivo desde horas antes das partidas. Na chegada das delegações no estádio, na criação de um clima positivo, e obviamente empurrando o time do primeiro ao último minuto. Tudo isso no mínimo dá ao mandante uma vantagem emocional. Quando não modifica comportamentos táticos e técnicos – inclusive do adversário.

O Green Hell da torcida do Coritiba. Quem cria o ambiente favorável pra jogar em casa é a galera. Foto: Albari Rosa/Arquivo

Essa vantagem pode definir jogos e campeonatos. Mas ela desaparece quando se restringe o fator local – neste caso, por uma necessidade de cuidar da saúde das pessoas. O aumento das vitórias dos visitantes não é um fenômeno apenas da Bundesliga, mas também das ligas menores na Alemanha, na República Tcheca, na Polônia e na Croácia. E em pontos corridos beneficia os times mais poderosos, como se vê com o Bayern de Munique.

Futebol sem torcida e sem pressão

Duas situações se combinam quando os jogos são com portões fechados – de um lado, os visitantes sabem que podem jogar da forma mais conveniente; de outro, os mandantes têm uma perda sensível de confiança pelo ambiente não ser mais favorável. Em cima desta combinação é que o futebol sem torcida tem essa mudança radical de comportamento dos resultados.

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Esse impacto pode ficar ainda mais evidente na retomada dos campeonatos estaduais. Aqui no Paraná, os dois confrontos mais esperados das quartas de final mudam muito com portões fechados. Tanto o duelo entre Coritiba e Paraná quanto o encontro de Athletico e Londrina ficam mais abertos e mais imprevisíveis do que normalmente já seriam.

As soluções

Mas os exemplos para tentar criar um ambiente favorável começam a aparecer. Depois de umas ideias meio tantãs, como a dos bonecos infláveis na Coreia, e outras mais simbólicas, como a colocação de fotos nas arquibancadas, vem da Dinamarca o plano mais interessante até agora. É do Aarhus, clube da primeira divisão de lá.

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Eles simplesmente instalaram telões – muitos telões – em setores do estádio e criaram uma mega chamada de vídeo. O resultado foi um jogo com torcida, de um jeito ou de outro. É uma maneira de compensar a ausência de público. E de diminuir a dor desse futebol sem torcida, uma triste e necessária obrigação do ‘novo normal’.


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