Acabou a história

Agora é oficial: Ronaldinho Gaúcho não vem para o Coritiba

Aconteceu o que alguns temiam e o que a imensa maioria imaginava. Ronaldinho Gaúcho não vai jogar no Coritiba. Em nota divulgada neste sábado (4), a diretoria alviverde agradeceu o período de conversação com Assis, irmão e empresário do jogador, e deu por encerrada a negociação. Foi o desfecho natural de um negócio planejado para ser bombástico, mas que apenas fez o torcedor ter uma vã esperança de ver um dos maiores jogadores de todos os tempos vestindo a camisa coxa-branca.

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Leia a nota oficial do Coritiba

Tudo sobre a negociação entre Coritiba e Ronaldinho Gaúcho

O pai da idéia foi Juliano Belletti, diretor de relações internacionais. O ex-jogador chegou ao Coxa com o plano de ter uma estrela mundial jogando no clube para justamente “internacionalizar” a marca. Falou-se em Kaká e Paulo Henrique Ganso, mas eram muito caros para os cofres alviverdes. Surgiu o nome do lateral Maicon, mas fixou-se mesmo em Ronaldinho. Amigo do craque desde os tempos de Barcelona, Belletti assumiu a liderança do projeto.

Seu principal parceiro no início do “plano” foi o vice-presidente Alceni Guerra. Em entrevista à Tribuna, o cartola admitiu que a contratação de Ronaldinho era mais uma ação de marketing do que realmente um acréscimo ao futebol. Para os dois convencerem o presidente Rogério Portugal Bacellar, foi um pulo. Enquanto isso, os dirigentes do futebol (Ernesto Pedroso e José Fernando Macedo) e todo o departamento de futebol estava na pré-temporada, em Foz do Iguaçu, sem saber de nada.

Afinal, parecia apenas uma daquelas especulações malucas de início de ano. Que começou a virar verdade quando Alceni e Bacellar passaram a admitir o interesse em R10. O craque recebera uma proposta do Nacional do Uruguai que envolvia até uma mansão e seguranças particulares. Era por aí que partiria a negociação com Assis, irmão e empresário do jogador, um dos mais contestados do mercado brasileiro – ele negociou com Palmeiras e Grêmio simultaneamente, mas na verdade fechava com o Flamengo; anos depois, acertou com o Vasco quando já tinha assinado contrato com o Fluminense.

O Coxa talvez tenha acreditado no “canto da sereia” de Assis quando entregou a proposta oficial, no dia 24 de janeiro – salários de R$ 300 mil, contrato até o final do ano, porcentagem no crescimento dos ganhos do marketing e as benesses típicas. Os dirigentes que conversaram com Assis chegaram a ter um rápido encontro com Ronaldinho, na beira da praia, entre um jogo e outro de futevôlei. O empresário avisou que o jogador teria compromissos no exterior nos dias seguintes, e que a resposta ficaria para o início de fevereiro. O clube aceitou a situação e ficou esperando.

Dentro do Alto da Glória, o clima era de alta tensão. Dentro do G5, Ronaldinho não era unanimidade – pelo contrário. O vice Gilberto Griebeler deu entrevista dizendo que a comissão técnica não queria a contratação. Paulo César Carpegiani, amigo da família Assis Moreira, veio a público dizer que queria R10 “com as duas pernas amarradas”. Não era exatamente a opinião externada intramuros. No departamento de futebol, era quase unanimidade a rejeição à vinda do jogador. Já os boleiros gostaram da idéia. Wilson, com bom humor, deu um recado: “Se ele vier, vai ser só depois do Carnaval”.

Ronaldinho então foi para a Europa. Primeiro em Paris, onde foi recebido com muita festa no Paris Saint-Germain, recebendo diversas homenagens. Deu uma rápida fugida do Velho Continente e esticou a turnê por Beirute, capital do Líbano. Voltou para Barcelona e foi confirmado como embaixador do Barça e atleta do time de masters, além da participação em uma série de projetos do clube catalão pelo mundo. A última parada foi Istambul, onde neste sábado (4) é a estrela de uma festa VIP em uma badalada danceteria – evento organizado pela B4L Movement, empresa criada pelo atacante Kazim, hoje no Corinthians.

Com tanta agitação, era certo para quem tivesse um pouco de discernimento que Ronaldinho não estava querendo mais a vida de atleta – treinar, concentrar, jogar. No Fluminense, seu último clube (sua última partida oficial aconteceu em setembro de 2015), ele chegava de uniforme de treino às Laranjeiras, sequer passava pelo vestiário e ia direto ao campo. Quando terminava o treino, fazia o sentido contrário e saía do campo para o carro e ia embora. A rotina já o aborrecia. Não ia ser diferente por aqui.

Mesmo assim, o Coxa acreditou. Um pouco no plano de Belletti, que pensou que convenceria o amigo. Um pouco no sonho de Alceni, que às vezes tira os pés do chão e foge da realidade do clube. Um pouco no desejo de Bacellar, que quer ver o clube chegar mais alto. Um pouco na reação da torcida, que em grande maioria apoiou a contratação de R10. E muito no papo de Assis, que já engambelou muita gente que se acha esperta (tipo Eurico Miranda). No final, deu no que deu. E o Coritiba segue a sua vida, sem Ronaldinho. O que talvez seja melhor.

Confira a nota oficial do Coritiba:

O Coritiba Foot Ball Club informa que não dará sequência à contratação do meia Ronaldinho Gaúcho. A decisão alviverde foi anunciada na manhã deste sábado (04), após comunicado de R10 aos dirigentes e gestores do clube.

Na declaração, foram destacadas as razões para a negativa à proposta coxa-branca, que mais de uma vez foi mencionada pelo empresário do atleta como muito boa. Mas os recentes compromissos assumidos pelo meia com o Barcelona e a imediata repercussão de sua nomeação como embaixador do clube espanhol, geraram reflexo em sua agenda e inúmeros novos compromissos de curto, médio e longo prazo.

Esta nova condição comprometeria o projeto desenvolvido pelo Coritiba com o jogador. Por isto, a diretoria alviverde abdicou da contratação. A decisão foi confirmada pelo presidente alviverde, Rogerio Portugal Bacellar.

O Coritiba estava negociando com o empresário de Ronaldinho há alguns dias e havia dado um prazo para a avaliação da proposta financeira e negocial enviada pelo clube. Assis, empresário e irmão de Ronaldinho, mais de uma vez exaltou o projeto coxa-branca, sua ousadia e profissionalismo.