Coritiba tenta voltar à elite do futebol brasileiro

Após os fracassos na Copa do Brasil e no Campeonato Paranaense, o Coritiba joga todas as suas fichas na disputa da Série B. Aliás, o retorno à primeira divisão é uma verdadeira obsessão para a torcida coxa-branca, que não admite qualquer outro desfecho para a competição.

Para vencer o desafio e voltar a figurar entre os grandes. O Coxa aposta num elenco que une remanescentes da campanha do ano passado com novos reforços que farão sua estréia amanhã, contra o Remo. Dos jogadores que chegaram no começo do ano, apenas o zagueiro Índio sobreviveu aos tropeços do início da temporada.

As principais esperanças da galera e da diretoria estão depositadas no volante Luciano Santos, nos meias Caio e Jackson e nos atacantes Eanes, William e Fábio Pinto, que seguirão a batuta do técnico Estevam Soares. ?Ainda não disputamos nenhuma partida para tirar um parâmetro da equipe do estadual para esta agora. A gente precisa começar o campeonato para ver se vai haver alguma mudança dentro das quatro linhas?, diz Jackson. É pelo que torce a nação alviverde.

Na Segundona pela 10.ª vez

O Coxa começa a viver amanhã sua décima temporada fora da primeira divisão nacional. Presente entre os clubes que participaram da primeira edição do Campeonato Brasileiro, em 1971, até 2005 o Coritiba havia ficado nove vezes de fora do principal campeonato do País.

O primeiro Brasileirão sem o Coxa aconteceu em 1981. Na época, a participação na elite era definida pela classificação no campeonato estadual. Assim, mesmo tendo ficado em 3.º lugar no nacional de 1980, a sexta posição no Paranaense deixou o time do Alto da Glória na Segundona.

Em 1982, as coisas foram ainda piores para o Cori. A décima posição no ano anterior e o quarto lugar no estadual deixaram o time fora até da Taça de Prata, nome da antiga Série B. O Coxa voltou à Segunda Divisão em 1983, quando ficou em 22.º lugar. Mesmo assim, voltou a disputar a Taça de Ouro em 1984.

O clube do Alto da Glória voltaria a ser rebaixado em 1989, desta vez no tapetão. Após invasão de campo num jogo contra o Sport, o Coxa foi obrigado pela CBF a enfrentar o Santos em Juiz de Fora. O Cori não aceitou a decisão, conseguiu uma liminar na Justiça comum e não compareceu à partida. A CBF não acatou a decisão judicial e rebaixou o Coritiba para a Série B.

A volta à elite só aconteceria em 1996, após o vice-campeonato na segundona do ano anterior. Depois disso, foram dez anos na elite, até ser novamente rebaixado, desta vez em campo, no ano passado.

Coxa já preparou o espírito. Viagens longas e gramados ruins

Viagem longa, campo ruim, adversário desconhecido, estádio vazio… Logo na estréia, o Coritiba receberá ?na veia? uma boa dose de Série B. Ontem à tarde, o Coxa embarcou rumo a Belém, onde amanhã enfrenta o Remo, no Estádio Baenão, com os portões fechados o time paraense foi punido com a perda de três mandos.

As dificuldades enfrentadas logo no primeiro desafio são uma amostra do que o time do Alto da Glória terá que superar para voltar à elite do Brasileirão. Mas nada que assuste o elenco coxa-branca. ?Temos consciência de que um dos principais adversários que teremos é o campo. O Baenão tem um gramado ruim, de dimensões menores. Mas sabemos que vamos enfrentar isso na Série B. Então é bom para ir acostumando a esse sistema, de campos menores, equipes de pegada boa…?, diz Kléber.

O goleiro é um dos cinco estreantes que o Coxa terá em campo no Pará. O lateral Andrezinho, o volante Luciano Santos e os atacantes Fábio Pinto e William também fazem a primeira partida com a camisa alviverde. Todos garantem que o Coritiba está pronto para encarar qualquer desafio. ?Conheço o campo e é muito ruim. É pequeno e o estado do gramado é lamentável. Mas na Série B não tem moleza.

O Coritiba está disposto e nós vamos passar por cima disso tudo?, aposta Andrezinho.

Antes do partir para Belém, o técnico Estevam Soares comandou um treino coletivo na manhã de ontem, no Couto Pereira. O trabalho fechou 15 dias de dedicação exclusiva à preparação para a Série B. ?Foram duas semanas ótimas. Nós conseguimos impor um bom ritmo de trabalhos técnicos, físicos. Deu para assimilar mais a parte tática. Alguns jogadores ainda estão aquém daquilo que nós esperamos, no aspecto físico e técnico, mas estão se sobressaindo com a garra, com a força?, ressalta o comandante alviverde. Hoje à tarde, o elenco faz mais um treino na capital paraense.

Três conhecidos da série B Dos 20 adversários do Coxa na Série B, apenas três já enfrentaram o time do Alto da Glória em partidas válidas pela Segundona do nacional: Guarani, Portuguesa e Ceará.

Foram três jogos contra o Guarani. O primeiro, em 1981, terminou com vitória coritibana por 1 a 0, em Campinas.

Depois, as duas equipes se reencontraram em 1991, em uma disputa extremamente tensa pela semifinais. No Couto Pereira, o Coxa venceu por 1 a 0. O Bugre devolveu o placar no Brinco de Ouro e, nos pênaltis, conquistou a vaga na Série A.

O Cori topou com a Portuguesa em 1993 e se deu mal. Em casa, empatou em 2 a 2 e foi derrotado por 3 a 0 em São Paulo. Já o Ceará cruzou o caminho alviverde em 95. No Couto, empate em 95. Em Fortaleza, vitória coxa-branca por 2 a 0.

Sem público, outra vez

Uma curiosa coincidência marca a estréia do Coritiba na Série B do Campeonato Brasileiro. Assim como na 1.ª rodada do Brasileirão do ano passado, o Coxa começa a campanha na segunda divisão jogando em um estádio com os portões fechados.

Punido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), devido a invasões de campo durante a disputa da Série C, em 2005, o Remo não vai poder contar com a força de sua torcida amanhã à tarde. Em 2005, situação semelhante era vivida pelo Fortaleza, adversário que o Cori bateu por 1 a 0, na largada da temporada, que terminou com o rebaixamento alviverde para a Segundona.

Apesar de a torcida azulina ser reconhecida como uma das principais armas do Leão do Norte, sua ausência no Estádio Baenão não empolga muito o elenco coritibano. ?Vai ser ruim para as duas equipes. Para quem está acostumado a jogar com torcida, entrar num estádio vazio é como se fosse um treinamento. Mas a gente tem que tirar isso da cabeça e pensar que esse jogo vai ser de uma importância muito grande para dar uma arrancada no campeonato?, diz o meia Jackson.

O técnico Estevam Soares concorda com o capitão coxa-branca. ?É positivo jogarmos com o estádio vazio. A torcida do Remo é muito forte e eles não vão ter esse aliado. Mas não podemos nos iludir com isso. Temos que jogar bola. São 90 minutos de uma guerra esportiva e temos que estar atentos. A torcida deles é muito importante, mas isso não vai diminuir o ímpeto dos atletas?, alerta.

Receita coxa é união

Deixar as diferenças de lado, esquecer as desavenças e se unir em torno do ideal de colocar o Coritiba novamente entre os grandes do futebol brasileiro. Essa é a principal receita coxa para enfrentar o desafio da Série B.

Para isso, jogadores e comissão técnica pedem que a torcida deixe de lado os protestos que tomaram conta do Alto da Glória, após o rebaixamento. O apelo é para que a torcida assuma, ao lado do time, a missão de levar o Coxa de volta à elite. ?Nós temos um compromisso com o clube. Comissão técnica, atletas, dirigentes e os torcedores junto com a gente. A maior virtude das grandes equipes que caíram e voltaram foi a unidade de sua entidade. A união de todos esses setores. É em cima disso que nós estamos trabalhando, estamos pedindo o apoio para que a gente termine bem. Não adianta você ficar trazendo traumas passados. Agora é uma outra fase, uma outra vida para o Coxa?, diz o técnico Estevam Soares.

Segundo os atletas, a galera não se arrependerá se estiver junto com o time durante toda a campanha. ?Em torneios de pontos corridos, todo jogo é decisão ?, garante o goleiro Kléber.

1990, o ano da desgraça

Talvez a pior temporada da história do Coxa. Após o rebaixamento no tapetão em 1989, o time até que conseguiu se recuperar e chegou à final do estadual contra o Atlético. Mas perdeu o título ao empatar em 2 a 2 no Couto Pereira, com um gol contra do zagueiro Berg.

Já a disputa da segunda divisão nacional foi um verdadeiro desastre. Em dez jogos, o Coritiba venceu apenas dois e teve seis derrotas. Algumas jornadas foram vexatórias, como a goleada por 4 a 0 para o Joinville. A campanha rebaixaria o time. Sorte do Coxa que a CBF acabou com a Série C em 1991, livrando o time do Alto da Glória do vexame de disputar a terceirona.

1995, fim do martírio do Coritiba

O ano do fim da agonia alviverde. Depois de cinco anos tentando sem sucesso voltar à elite, finalmente o Coxa montava um time em condições de lutar pelo título da Série B. Os destaques eram o zagueiro Gralak, o meia Pachequinho e o atacante Basílio, além do jovem Alex.

Em 28 jogos disputados, o Coxa venceu 15, teve dez empates e apenas três derrotas. Alguns jogos ficaram marcados na memória da torcida, como os 8 a 0 diante da Ferroviária (SP) e os 5 a 0 contra o Mogi Mirim (SP), já no quadrangular final.

O retorno à Série A foi sacramentado em outra partida inesquecível. No Couto Pereira, o Cori recebia o favorito Atlético de Oséas e Paulo Rink. Mas o Coxa não tomou conhecimento do rival e com sonoros 3 a 0 garantiu sua vaga entre os grandes.

Na última rodada, o Coritiba deixou o título escapar após um empate em 1 a 1 em Mogi Mirim. O troféu foi para a Baixada.

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