Coritiba foi salvo pelo goleiro Fernando

Nada melhor que um Atletiba para recuperar os ânimos. Contestado em quase toda a temporada, o Atlético jogou bem e passou sem dificuldades pelo Coritiba, vencendo por 2×0 o clássico realizado sábado, no Estádio Joaquim Américo. Em uma partida pontilhada por confusões, o atacante Dagoberto foi o melhor e Ilan, que marcou dois gols, foi o herói da partida.

O clássico foi antecipado por um mistério que já está se tornando costume em clássicos. E, no final das contas, os dois times entraram em campo com as formações usadas nos jogos anteriores – nem Daniel apareceu no Atlético, muito menos Edu Sales foi a novidade do Coritiba. Na hora decisiva, tanto Mário Sérgio quanto Bonamigo preferiram usar do pragmatismo como arma para vencer o Atletiba.

A partida começou em alto estilo – as duas equipes juntas, pregando a paz e reforçando a campanha Fome Zero (antes do jogo, houve doação de alimentos por parte dos torcedores). No primeiro lance, já foi apresentado o primeiro duelo: Roberto Brum iria perseguir Adriano. E foi o Atlético que começou com iniciativa, trabalhando em velocidade e buscando envolver a defesa coxa.

A primeira chance real aconteceu aos 4 minutos, quando Fernandinho escorou para fora um cruzamento de Dagoberto, que assumira a responsabilidade de comandar o Atlético. Ficava claro que o Coritiba jogaria no erro adversário, compactando o meio com Lima e Alexandre Fávaro e tentando os contra-ataques. Na frente, Igor vigiava Marcel, deixando Rogério Correia na sobra.

Aos 11, falhas sucessivas do ataque rubro-negro e da defesa coxa quase desaguaram na abertura do placar pelo Atlético. O primeiro arremate perigoso foi de Willians, que obrigou Diego a fazer boa defesa aos 14 minutos. Mas era uma chance fortuita, tanto que Bonamigo gritava para que sua equipe saísse da defesa. Fernando salvou o Cori aos 16, quando seu quase xará Fernandinho apareceu livre na área – o goleiro coxa defendeu com os pés.

Dagoberto seguia liderando o Atlético, inclusive nas reclamações com o árbitro. Aos 27, ele cobrou falta com perigo, obrigando Fernando a fazer boa defesa. Cinco minutos depois, Reginaldo Nascimento cometeu falta dura em Ilan – como já tinha amarelo, o capitão coxa foi expulso. Na cobrança da infração, a bola espirrou na barreira e Ilan (em posição duvidosa), de bicicleta, abriu o placar na Arena. O controle tático do restante do primeiro tempo foi do Cori, mas sem jogadas de maior perigo para Diego.

Bonamigo não recompôs a defesa como se esperava, mas colocou Edu Sales no lugar de Lima, tentando melhorar o rendimento ofensivo. O Atlético, talvez empolgado pelo gol, seguiu no ataque, inclusive dando perigosos espaços para o Coxa. Mas como tinha um jogador a mais, o Rubro-Negro mantinha o domínio territorial. Fernando trabalhou em dois lances – aos 4 minutos, na tentativa de Fernandinho, e aos 6, na falta cobrada por Ivan.

Só que as duas equipes passaram a ignorar o futebol e exagerar nas reclamações e provocações. Dagoberto, Rogério Correia, Roberto Brum e Jackson eram os “comandantes”, chegando até a trocarem empurrões. Quem mais tentava jogar era o Atlético, e percebendo isso, Bonamigo sacou o apagado Fávaro para colocar Souza. A intenção era acelerar o jogo alviverde.

Só que o domínio seguia sendo rubro-negro. Aos 17, Fernandinho chutou, a bola bateu em Willians e quase venceu Fernando. Aos 20, Odvan errou mas o ataque atleticano não soube aproveitar. O Coritiba tentava atacar no “abafa”, mas faltava tranqüilidade, que também não sobrava na insegura zaga do Atlético. Mas Dagoberto esbanjava categoria no ataque, e aos 24 ele deixou Ilan na cara do gol para marcar o segundo gol rubro-negro.

O jogo acabou ali. Mas os alviverdes ainda exageraram na violência, e Odvan acabou expulso por jogo violento em Jádson. Dagoberto ainda chegou a acertar a trave em falta e Ricardinho até driblou Fernando, mas Willians salvou o Coxa de sair goleado da Baixada. Festa atleticana na véspera do aniversário do Coritiba, vitória rubro-negra no Atletiba 317.

Críticas ao apito e ao time

Por mais que o Coritiba reclame da arbitragem de Evandro Rogério Roman, o próprio técnico Paulo Bonamigo reconhece que a equipe não conseguiu jogar no Joaquim Américo – o que fez se tornar presa fácil para o Atlético, e no final perder o primeiro clássico da temporada. O gosto amargo da derrota atrapalhou a festa de aniversário (o Cori completou 94 anos ontem) e acendeu o alerta para as últimas dez rodadas do campeonato brasileiro.

O Coxa iniciou a partida visivelmente preocupado em segurar o ímpeto inicial do Atlético.

Mas quando o time começou a fazer isso, Reginaldo Nascimento foi expulso e Ilan abriu o placar. Mesmo assim, os minutos finais do primeiro tempo foram os melhores do Cori em todo o Atletiba 317. “Nós conseguimos impor nosso jogo e tivemos algumas oportunidades. Nós precisávamos sair um pouco do campo de defesa, mas ao mesmo tempo tínhamos que cuidar lá atrás porque estávamos com um jogador a menos”, comenta o técnico alviverde.

Só que as peças fundamentais do esquema coxa não funcionaram. A primeira delas era Alexandre Fávaro, que não repetiu a atuação do jogo contra o Goiás. “Eu pretendia melhorar a criação e compactar o jogo, por isso coloquei o Fávaro com o Lima”, justifica Bonamigo. E, no segundo tempo, a entrada de Edu Sales não surtiu nenhum efeito. “Realmente não deu certo. Era uma tentativa de equilibrar as coisas lá na frente”, diz o treinador.

Mas, além dos problemas técnicos, os jogadores do Cori reclamaram – e muito – da arbitragem. As principais reclamações estavam nas expulsões de Odvan e Reginaldo Nascimento, nos impedimentos marcados e na possível “submissão” de Evandro Rogério Roman aos atleticanos, principalmente Dagoberto. “Ele exagerou nas marcações”, resume Roberto Brum. “Esse cara não entende de nada. Não podem escalar um árbitro assim em uma partida tão importante”, atira Odvan.

Além disso, o gol de Ilan gerou duas reclamações: impedimento e jogada perigosa. “Ele estava em posição irregular”, diz Brum. “Ele atingiu a minha cabeça com a bicicleta. Foi um lance capital”, completa Willians. Paulo Bonamigo não quis falar sobre o trabalho de Roman, e a diretoria se posicionou em poucas palavras. “Eu não gosto de falar de arbitragem, ainda mais quando o meu time não atua bem”, diz o secretário Domingos Moro.

Cori vive a melhor fase ao completar seus 94 anos

É verdade que ninguém queria comemorar aniversário com o gosto amargo da derrota em um clássico, mas há muito o que festejar. O Coritiba completou ontem 94 anos, e em um momento poucas vezes vivido em sua história. Somado à austeridade financeira do presidente Giovani Gionédis está a ótima campanha dentro de campo, a mais eficiente do clube em todos os tempos -melhor, em aproveitamento, até que a campanha do título brasileiro de 85. Para lembrar dos fatos de hoje e de ontem, às 20h30 acontece um jantar comemorativo no restaurante Madalosso.

Outro ponto a ser festejado é, apesar da derrota de sábado, a retomada da hegemonia do futebol paranaense. Verificados os resultados, o Coritiba é a melhor equipe do estado desde o Brasileiro do ano passado, em uma série que também conta com o título estadual invicto e com a campanha neste campeonato brasileiro. “Tirando os primeiros quatro jogos, nós tivemos até agora um ano regular, com um aproveitamento maravilhoso”, comenta o goleiro Fernando. Além disso, foram cinco vitórias em seis clássicos contra Atlético e Paraná.

A diretoria sabe que tudo que foi feito fora de campo não representaria nada se não aparecessem resultados. Para consegui-los, o Coritiba adotou fórmulas bem-sucedidas em outros clubes, incluindo o próprio Atlético, grande rival. A manutenção da comissão técnica, o pulso forte da direção nas negociações (“Eu indico a posição e eles contratam”, conta o técnico Paulo Bonamigo) e o respaldo às categorias de base (“São o nosso ouro da casa”, orgulha-se o secretário Domingos Moro) são três alicerces do futebol alviverde.

Principalmente o último ponto, que é uma plataforma básica de Gionédis. “Essa garotada não nos decepciona, são frutos que vão nos dar ainda muito mais alegrias que hoje”, garante Moro. Com isso, uma fornada de revelações apareceu no Alto da Glória, com destaque para Adriano, Marcel, Lima e Alexandre Fávaro. Aproveitando essa retomada, jogadores como Willians e Danilo tiveram novas chances e não as desperdiçaram. “O título estadual ajudou muito esses garotos. O time está mais maduro agora”, afirma Fernando.

Com o sucesso dentro de campo, Gionédis pôde continuar a trabalhar a recuperação financeira do clube. Com uma herança complicada de dívidas, o presidente coxa teve que se virar apenas com a renda dos jogos e com o dinheiro vindo da televisão. Ainda é normal que oficiais de Justiça apareçam no Couto Pereira em dias de jogos para penhorar rendas. Apesar de tudo isso, a direção consegue manter o clube andando, pagando os salários dos jogadores em dia. “A moral que a diretoria tem com os jogadores é impressionante”, confirma um membro da comissão técnica.

Por isso é que a torcida comemorou ontem, com alegria, os 94 anos do Coritiba. “Nós temos muito a festejar, várias coisas positivas estão acontecendo neste ano”, concorda Giovani Gionédis, que apesar da dificuldade ainda sonha com o presente perfeito. “Quero o bicampeonato brasileiro”, finaliza.

Camisa

O jantar de hoje (há ingressos à venda: para adultos, R$ 18,00; crianças entre 6 e 12 anos, R$ 9,00; menores de seis anos não pagam) serve também para a apresentação oficial da camisa número três do Coritiba – a segunda da série dos 100 anos do clube. O uniforme, verde com duas listras verticais brancas no centro, lembra a Fita Azul de 72 (há um selo comemorativo na camisa) e o título do Torneio do Povo do ano seguinte.

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