Copa 2018

Trio americano desafia azarão na disputa da sede para Copa 2026

Falta apenas um dia para o início da Copa do Mundo da Rússia, mas os olhos da Fifa já estão em outro Mundial. Em seu congresso anual em Moscou, nesta quarta (13), a entidade anunciará a sede do torneio de 2026, o primeiro da história com 48 seleções.

Estão na disputa uma candidatura conjunta entre Canadá, Estados Unidos e México (batizada de “United 2026”) e uma de Marrocos.

Por regra da Fifa, não puderam concorrer países europeus e asiáticos pelo fato de os continentes já sediarem as edições de 2018 e 2022.

As duas candidaturas serão votadas pelas 207 federações filiadas à Fifa (já excluindo as quatro envolvidas na disputa), numa mudança de sistema, já que antes apenas os 24 membros de seu conselho participavam da decisão. Os votos serão abertos, e quem tiver maioria simples (104) vence.

As duas candidaturas são oposição de realidade e projeto e, segundo a Fifa, representam dois extremos.

A United 2026 apresentou um caderno de encargos no qual aponta 23 cidades pré-candidatas, a serem reduzidas a 16 sedes.

Em todas elas, os estádios estão prontos e funcionando, assim como todas as obras de infraestrutura de centros de treinamentos e de transporte, como aeroportos, estradas e estações ferroviárias.

Assim, promessa da aliança é de gasto zero para montar a estrutura da Copa. As únicas despesas teriam a ver com a competição em si, como em segurança, contratação de funcionários e montagem de centros de imprensa. O valor estimado é de US$ 2,16 bilhões (R$ 8,1 bilhões), já prevendo a inflação até 2026.

“Todas as nossas estruturas já estão prontas e asseguramos que temos totais condições de entregar a maior Copa da história. A Fifa não precisa se preocupar com obras, calendário apertado e riscos relacionados a grandes construções”, diz trecho do caderno de encargos da United 2026.

Também haveria uma novidade para a competição: por ser em três países, o dia da abertura teria três jogos, um em cada um deles.

A outra candidatura, a marroquina, tem um projeto ambicioso e caro.

O país africano estima gastar US$ 15,8 bilhões (R$ 58,8 bilhões) para receber o torneio. A Rússia, por exemplo, investiu R$ 38 bilhões; O Brasil, R$ 33,3 bilhões (valores corrigidos pela inflação).

Destes, US$ 3 bilhões (R$ 11,1 bilhões) seriam destinados aos estádios. Em suas 12 sedes propostas, pretende erguer nove arenas e reformar outras cinco, totalizando 14. Uma, em Casablanca, teria capacidade de 93 mil pessoas.

Para elaborar o plano de comunicação de sua candidatura e divulgá-la, os marroquinos contrataram a empresa britânica Vero, que trabalhou em candidaturas como a do Rio de Janeiro à Olimpíada de 2016, a de Paris à de 2024 e a de Gianni Infantino à presidência da Fifa.

Marrocos também aposta em ex-jogadores como embaixadores da campanha, como o ex-lateral esquerdo Roberto Carlos, que recebeu cerca de R$ 1 milhão por dois meses de trabalho.

O Marrocos aposta na proximidade com a Europa e num fuso que permite transmissões no horário nobre do continente, diferentemente da United 2026, que teria jogos na madrugada europeia.

“Garantiremos milhares de fãs não só nos estádios, mas também na frente da TV. Nosso país está localizado no coração do mundo do futebol”, diz trecho do livro da candidatura marroquina.

“Não somos só uma Copa da África, somos da Europa também. Estamos a 14 quilômetros do sul da Espanha e a poucas horas de voo de diversos países”, disse o chefe da candidatura, Hicham El Amrani.

Um abismo financeiro separa as candidaturas quando o assunto é a quantidade de lucro que prometem à Fifa. A United fala em US$ 11 bilhões (R$ 41 bilhões), o que seria um recorde histórico. Marrocos prevê US$ 5 bilhões (R$ 18,8 bilhões), valor semelhante ao da Rússia.

Nos últimos meses, a Fifa visitou os candidatos e uma força-tarefa avaliou diversos critérios, dando pontuações de 0 a 5, com pesos diferentes. Os resultados foram apresentados antes do Congresso para tentar tornar a escolha mais técnica e menos política, o que dificilmente deve acontecer.

A candidatura United 2026 teve pontuação total de 402,8, uma média de 4. Já o Marrocos somou apenas 274,9, com uma média de 2,7.

A Conmebol já anunciou que seus 10 membros votarão a favor da United 2026. Outras associações não se manifestaram publicamente por voto em bloco, mas a tendência é que a Concacaf (32 membros) vote na United e que a Confederação Africana (55) em Marrocos. Em Oceania (11), Ásia (46) e Europa (55) há divisão. Por isso o desfecho se torna imprevisível.

O presidente americano, Donald Trump, fez uma pressão de forma indireta há algumas semanas. “Seria uma vergonha se países que sempre apoiamos votassem contra a nossa candidatura e fizessem lobby. Por que deveríamos apoiar estes países se eles não nos apoiam, inclusive na ONU?”, escreveu.

Marrocos ainda tenta fazer com que a Fifa impeça o voto de Samoa Americana, Guam, Porto Rico e Ilhas Virgens Americanas, territórios controlados pelos EUA. Uma decisão só deve acontecer momentos antes da votação.

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