Coisa de português

Favoritos do grupo D tendo em Figo o melhor jogador do mundo, segundo a Fifa -, levaram um baile dos Estados Unidos, por pouco não foram goleados e agora precisam correr atrás da recuperação. Aliás, o grupo parece estar virado de cabeça para baixo, pois o que se imaginava desde a sua formação seria a vantagem técnica de Portugal e Polônia sobre os demais, pelo bom histórico de classificação para o Mundial. Ambos chegaram como primeiros de seus grupos eliminatórios e Portugal simplesmente isolou a sempre forte Holanda com 33 gols em dez jogos -, alijando-a da Copa. A Polônia veio de um grupo mais modesto e teve apenas trabalho para disputar a ponta com a vizinha Ucrânia, mas teve campanha sem retoques.

Imaginava-se, portanto, que o confronto direto entre os dois, o clássico “Po-Po”, serviria apenas para definir a ordem do grupo. Engano geral. Vão disputar diretamente, sim, mas uma das possíveis vagas para a próxima fase, já que Estados Unidos e Coréia do Sul saíram na frente, têm três pontos cada e maiores chances de classificação.

Portugal é assim mesmo. Tem bons jogadores espalhados pelo mundo e nunca consegue juntá-los com sucesso em uma mesma seleção. Exceto pelo supertime de 1966, com Euzébio, Coluna, Torres & Cia., nunca mais brilhou e ontem esteve a repetir a mesma frustração de mundiais anteriores dos poucos que participou.

Lembrei-me da Copa de 1986, no México, a última dos portugueses antes dessa de agora. Também lá como cá, Portugal vinha de boa campanha na Eurocopa, com um terceiro lugar em 1984 (mesma posição de 2000) e bons predicados. Os europeus indicavam como um dos favoritos e nós, distantes, só tínhamos de acreditar. Até que numa noite, já em Guadalajara, houve um jantar promovido por um dos patrocinadores da Copa e tivemos (Sicupira e eu) a oportunidade de dividir a mesma mesa com Eusébio, o craque maior da história do futebol português. Eusébio estava pessimista e não acreditava em classificação, contrariando a expectativa geral. No grupo, a mesma Polônia, mais Inglaterra e Marrocos. Vitória sobre os ingleses no primeiro jogo, mas daí derrota para os polacos e outra para Marrocos esta eu vi no estádio 3 de Outubro, em Guadalajara do técnico brasileiro José Faria. Decepção para quem esperava tanto. Como agora, escapando por pouco de uma goleada dos Estados Unidos, com uma atuação pífia e ausente do Figo de tantas esperanças. Será o mesmo filme, nesta terceira copa dos nossos colonizadores?

Corda bamba

Hoje vai ser a vez dos franceses. A arrogância dos primeiros dias de Copa foi substituída por um explicável silêncio. Uma derrota para o Uruguai e lá se vai o sonho de nova conquista. E lá se vão todos para casa, sem poderem entoar o “allez les bleus” que tanto nos incomodou após a final de 1998, no Stade de France. Zidane pelo jeito não dá mesmo e agora a perda é Djorkaeff (que não faz tanta falta assim).

O problema da França de hoje é o mesmo do Brasil em 86, quando tentou preservar o time que deu show quatro anos antes, sem perceber que todos estavam quatro anos mais velhos e havia necessidade de sangue novo para o contraste em campo Valdo e Silas estraçalhavam nos treinos. A dupla de zaga francesa já passou dos 30, assim como seus principais destaques da copa anterior.

O Uruguai não é de se matar com a unha e bem que pode fazer uma graça neste confronto de hoje. Como os franceses não têm mais um carrapato como Deschamps, Recoba pode ficar solto e aí as jogadas celestes começam a surgir.

Já imaginou o que pode acontecer?

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