Capez vai apresentar a extinção da Gaviões

São Paulo

  – A guerra das torcidas uniformizadas, que já havia saltado das arquibancadas para as ruas, está invadindo agora a internet com desafios, xingamentos e palavrões contra os rivais, tudo com direito a imagem e som, como se os internautas do futebol se enfrentassem na saída do estádio.

“Já matei um Mancha Verde/torturei um Independente”, esse é um dos gritos da Gaviões da Fiel, nas páginas de um torcedor do Corinthians, numa advertência a adversários do Palmeiras e do São Paulo, que respondem no mesmo tom, com rimas e expressões impublicáveis.

Surpreso com a chegada da violência dos torcedores às telas dos computadores, que ainda não havia visto, o promotor de Justiça Fernando Capez ligou para a diretoria da Torcida Jovem e exigiu que fosse retirada imediatamente do site uma estrofe na qual o torcedor do Santos declara seu amor à violência.

“Esses versos não combinam com a conversa que tivemos em minha sala”, advertiu Capez, o homem que há quase dez anos se dedica ao combate à violência das torcidas nos estádios de futebol.

Criadas para dar força aos times do coração, numa época em que os campos de futebol eram só festa e espetáculo, as torcidas uniformizadas passaram a freqüentar as páginas policiais quando as gangues de fanáticos partiram para cima dos rivais. A repressão não tem sido capaz de resolver o problema, porque a violência simbólica de gestos e palavras vira agressão real, dentro e fora dos estádios.

Foi o que se viu na quarta-feira numa estação ferroviária do ABC, em mais um choque entre corintianos da Gaviões da Fiel e palmeirenses da Mancha Alviverde.

O promotor anunciou que vai insistir no pedido de extinção da Gaviões da Fiel, com base nos argumentos acumulados nas 20 pastas de um processo que se avoluma desde 1997 em sua sala, na 3.ª Promotoria da Cidadania. Instalado no 6.º andar de um prédio da Rua Minas Gerais, de onde se ouve o alarido dos jogos do Pacaembu, ele espera dar à maior torcida uniformizada do Corinthians, de 61 mil sócios, o mesmo destino que tiveram a Mancha Verde e a Independente.

Do simbolismo ao real

São Paulo

(AE) – Bandeiras, faixas, camisas, cantos e gritos de guerra são expressões de uma violência simbólica que, com freqüência, leva à briga entre as torcidas. “As manifestações de rivalidade não são necessariamente negativas, mas podem se transformar numa violência real de conseqüências trágicas”, adverte o professor Jocimar Daolio, que orientou ano passado uma pesquisa de iniciação científica sobre essa questão na Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Márcio Pereira Morato, o aluno de 5.º ano que fez a pesquisa, acompanhou o Guarani e a Ponte Preta em 12 jogos -seis de cada um – para entrevistar seus torcedores e observar o comportamento deles nos estádios. Uma das conclusões do trabalho foi que o clube e a torcida rivais são sempre lembrados, em desafios e provocações, mesmo quando estão ausentes. Ou seja, os torcedores se atacam com ofensas e palavrões, ainda que seus times – no caso, Guarani ou Ponte Preta – estejam jogando com um terceiro adversário.

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