Cansado e feliz, Giba é ?Cidadão?

Nem o sérvio Milinkovic, nem o polonês Gacek, muito menos o búlgaro Tsvetanov ou o russo Kasakov. A maior marcação que o atacante Giba sofreu nos últimos dias foi dos fãs e dos jornalistas, que lotaram o salão de eventos da Prefeitura de Curitiba na concorrida e tumultuada cerimônia de entrega do título de Cidadão Honorário ao melhor jogador de vôlei do mundo.

Mesmo com tanta gente, e cansado da série de viagens, entrevistas e homenagens, Giba não deixou de atender ninguém, e estava emocionado em receber a ?maior honraria desta cidade?, como disse o prefeito Beto Richa.

O título acabou sendo, de forma especial, entregue na Prefeitura, para facilitar a vida do jogador, que só tinha a tarde de ontem e a manhã de hoje para descansar – ainda hoje ele volta para a Itália, onde defende o Piemonte. ?É um reconhecimento a uma pessoa que tem uma história de realizações e exemplos de vida, e que escolheu Curitiba como sua cidade?, afirmou o vereador Reinhold Stephanes Júnior, propositor do título na Câmara Municipal.

O prefeito, que também entregou uma placa alusiva ao título mundial ao londrinense de nascimento Giba, exaltou a presença do bicampeão na cidade. ?Este é um dos mais justos e merecidos títulos de Cidadão Honorário. Ele nos traz alegria e orgulho, e é um grande exemplo para todos nós?, disse.

Giba, que teve a ?escolta? dos pais, da esposa, a ex-jogadora romena Cristina Pirv e da filha Nicoll, estava visivelmente feliz. ?Olha, é uma honra para mim receber este título, depois de tantos anos morando aqui?, discursou o jogador, que mora na capital paranaense desde 1990. Ele voltou a agradecer os familiares e aproveitou para brincar com a mãe. ?Viu, você queria que eu estudasse, agora estou aqui?, afirmou, para depois reiterar o agradecimento à família. ?Eles são o suporte de todos nós na seleção.?

Para o melhor jogador do planeta, o reconhecimento a ele serve também para outros atletas paranaenses que fazem sucesso no exterior. ?Nosso estado tem o Emanuel, que é o melhor jogador de vôlei de praia do mundo, e o Samuel, que também é campeão mundial. Eu recebo esta homenagem em nome deles e agradeço ao povo brasileiro, pela recepção que tivemos e pela alegria que nos transmite?, resumiu.

Aqui, ali, em qualquer lugar, Giba era cercado. De um lado, jornalistas que precisavam de declarações – e todos querendo uma ?exclusiva? com o campeão. De outro, fãs de todas as idades e classes sociais, que queriam uma foto ou um autógrafo. De preferência, os dois. Os corredores da Prefeitura eram pequenos para tanta gente. E ainda para pais e esposa do jogador, sem contar a filha, que já não agüentava mais aquela turma toda a afastando do pai. Apesar de tudo isso, e do cansaço, ele não se preocupava. ?Tudo que está acontecendo me deixa muito feliz. Foi por isso que voltamos para o Brasil?, confessou.

Tanta emoção desaguou em um anúncio. Giba confirmou que, quando encerrar a carreira (?Daqui a uns quatro ou cinco anos?, avisou), vai montar em Curitiba um projeto de inclusão social através do vôlei. ?Já estou pensando nisso com minha esposa, e acho que o Brasil está precisando destas iniciativas. E, para mim, não há nenhum lugar como Curitiba para receber este projeto. Quero retribuir o que Deus me deu ajudando as crianças a terem um futuro melhor?, finalizou o melhor jogador de vôlei do mundo.

Prioridades: Pan-Americano e Copa do Mundo

O futuro dos campeões mundiais de vôlei é de muito trabalho. Para valer, são sete torneios em 2007, mas os jogadores e a comissão técnica comandada por Bernardinho sabem que é impossível disputar todas as competições com o mesmo grupo. Por isso, vai haver rodízio, e os principais destaques do Brasil, como Giba, não vão atuar em todos os jogos da próxima temporada.

A exigência do próximo ano fica clara na resposta do agora cidadão honorário de Curitiba. ?Quando acabar a Liga Mundial, estaremos a uma semana do Pan. Acabou o Pan, vem o Sul-Americano, que classifica para a Copa do Mundo, que classifica para os Jogos Olímpicos?, disse o atacante. Faltaram a Copa América e a Copa dos Campeões, que deverão ficar em segundo plano nas metas da comissão técnica. Até mesmo a Liga, na qual o Brasil é o atual bicampeão, será disputada (pelo menos em parte) pelos jogadores mais jovens. ?É uma seqüência complicada, não vai dar tempo para fazer nada?, diz Giba.

As prioridades da seleção bicampeã mundial são claras -vencer ?em casa? o Pan e garantir uma vaga nas Olimpíadas de 2008. ?Nós precisamos conquistar a vaga ainda neste ano, e para isso temos que ficar entre os três primeiros na Copa do Mundo. E o Pan é uma responsabilidade em dobro, porque não vencemos o último (na República Dominicana) e todos os torneios que não conquistamos foram no Brasil?, contou o atacante.

Projeto

Giba confirmou que a Confederação Brasileira de Vôlei está tentando repatriar os principais jogadores do país. ?O plano da CBV e do presidente (Ary Graça) é fazer com que nós voltemos a jogar no Brasil, e que uma emissora de TV aberta transmita a Superliga. Se conseguirmos isso, vamos consolidar o vôlei como segundo esporte brasileiro?, afirmou.

Um presente especial, a camisa do Paraná Clube

Que Giba gostou de ser agraciado com o título de Cidadão Honorário de Curitiba, isto ficou evidente em seu sorriso durante a cerimônia de ontem na Prefeitura. Mas um presente recebido na véspera também o deixou emocionado – uma camisa 7 do Paraná Clube, enviada pelo capitão Beto, e com o autógrafo de todos os jogadores que levaram o tricolor para a Copa Libertadores. Foi a forma que a diretoria e os jogadores paranistas tiveram para homenagear aquele que é hoje seu torcedor mais ilustre.

O melhor jogador de vôlei do mundo chegou a Curitiba em 1990, pouco depois da fusão. ?Eu nunca tinha torcido para um time de futebol até chegar aqui. E foi no ano em que Pinheiros e Colorado se juntaram. Aí passei a torcer para o Paraná. É o meu único time?, confessou Giba.

Na terça, logo após chegar à capital, o atacante recebeu a visita do vice-presidente jurídico do Paraná Clube, Luís Carlos de Castro. Ele entregou ao jogador a camisa autografada – e, de quebra, também presenteou a esposa de Giba, Cristina, com outra camisa tricolor, a produzida especialmente para esta temporada. ?É uma emoção incrível, uma honra para mim ser lembrado pelo pessoal do Paraná?, festejou Giba, que viaja para a Itália com mais um troféu na mala – e o tricolor com a torcida reforçada no ano mais importante de sua história.

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