Brasil sofre com baixa temperatura, mas vence Rússia por 1 a 0

Moscou – É evidente que um técnico experiente como Carlos Alberto Parreira não vai se basear apenas em um amistoso para definir se um jogador tem condições ou não de defender a seleção brasileira na Copa do Mundo. Ainda mais quando esse jogo é disputado num campo cheio de lama e buracos e a uma temperatura baixíssima que chegou a absurdos 19 graus negativos no fim da partida, segundo registrou o termômetro levado ao campo pela comissão técnica do Brasil.

Mas a vitória por 1 a 0 do Brasil sobre a Rússia, ontem, em Moscou, serviu para um jogador ganhar preciosos pontos com o treinador: Rogério Ceni.

O goleiro do São Paulo foi o destaque do amistoso. No primeiro tempo, quando a seleção jogou futebol razoável e dominou os russos, não teve trabalho. Mas na etapa final, quando Parreira fez várias alterações (seis no total), a seleção caiu de rendimento e a Rússia passou a pressionar, Rogério fez três excelentes defesas.

A principal delas foi aos 38 minutos, num chute à queima-roupa de Vasili Berezutski. Na seqüência do lance, Gustavo Nery salvou a conclusão de Arshavin em cima da linha.

Destaques

Além de Rogério Ceni, o zagueiro Juan se destacou. Jogou os primeiros 45 minutos e foi muito bem. Pode estar ganhando um lugar entre os titulares. Como Cris – que entrou em seu lugar ontem – também fez boa partida, aumentou o risco de Roque Júnior, titular da seleção no ano passado, ficar fora do mundial.

A seleção apresentou um futebol morno no primeiro tempo, mas saiu em vantagem graças a um gol casual de Ronaldo, aos 14 minutos. Roberto Carlos chutou e o atacante do Real Madrid desviou com o peito, enganando o goleiro Akinfeev.

A seleção criou outras chances e poderia ter ampliado o placar – Adriano e Ronaldo estavam mal, apesar de se esforçarem. Mas o Brasil só não sofreu o gol de empate ao final do primeiro tempo graças ao árbitro suíço Massimo Busacca, que aos 46 minutos assinalou impedimento inexistente numa jogada em que o atacante Arshavin penetrava sem marcação. Dois minutos antes, Kerzhakov já havia acertado a trave de Rogério. Busacca voltaria a ajudar o Brasil na etapa final, ao não marcar pênalti cometido por Cris.

Jogadores reclamam do frio de Moscou

Moscou – Os jogadores do Brasil não gostaram de se submeter a condições tão desfavoráveis para a realização do amistoso com a Rússia, ontem, em Moscou. A temperatura chegou a 19 graus negativos e todos sabiam do risco de lesões musculares. No final da partida, alguns deles pareciam não entender o que levou a seleção a marcar uma partida para uma cidade de frio tão intenso nessa época do ano e num gramado castigado por nevascas.

?Os pés ficam congelados, é difícil jogar assim?, comentou o atacante Adriano. Para o lateral Cicinho, o gramado do Lokomotiv Stadium ?não merecia comentários?. Ele declarou que atuou com medo de se contundir. ?Você tenta se esforçar e fica com receio de ter um problema muscular?, admitiu.

O meia Zé Roberto foi o único atleta da seleção que iniciou o jogo sem luvas. Mas mudou de idéia rapidamente. ?Depois de dez, 15 minutos, minhas mãos congelaram. Nunca vi nada igual?, afirmou o jogador do Bayern de Munique, acostumado a jogar sob baixas temperaturas no futebol alemão.

Cobertores

O volante Edmílson, do Barcelona, disse que o maior sofrimento foi o dos atletas no banco de reservas. Eles se enrolavam em cobertores enquanto viam os colegas em ação. ?Ficamos com os pés congelados, não estávamos agüentando?, revelou o jogador, que entrou em campo depois do intervalo, na vaga de Ricardinho.

Até o técnico Carlos Alberto Parreira, que tem em seu currículo mais de 120 países visitados, contou que jamais passara por situação idêntica. ?Nem treinando clubes ou a seleção. Igual a hoje (ontem) nunca vi. De todos os jogos que dirigi, esse foi o mais complicado por causa do frio?, garantiu.

O jogo com a Rússia foi marcado pela Ambev, uma das patrocinadoras da seleção e a única que tem direito a agendar pelo menos uma partida por ano do Brasil. A cota do amistoso, de US$ 1,5 milhão, acabou destinada à empresa.

Parreira visita mausoléu de Lenin

Moscou – O técnico Carlos Alberto Parreira teve de se curvar ao rigor da polícia especial russa, que faz a segurança permanente do mausoléu de Vladimir Ulyanov, o Lenin, líder da Revolução Comunista de 1917.

Aproveitando o sol discreto da manhã em Moscou, Parreira e dois auxiliares resolveram enfrentar o frio e ir à Praça Vermelha, local central da capital da Rússia, para visitar o túmulo de Lenin, que morreu em 1924, aos 53 anos. Parreira vestia o casaco oficial da seleção e não usava luvas. Com as mãos nos bolsos, acabou repreendido por um dos guardas. ?Não sabia disso, as mãos têm de estar livres, tive que acatar a ordem?.

Depois da primeira advertência, o treinador fez um breve comentário com um de seus acompanhantes e acabou repreendido novamente. ?Foi uma coisinha de pé-de-ouvido, mas os caras já chegaram em cima, pedindo silêncio absoluto.?

O treinador também não pôde descer a escada que dá acesso aos restos mortais de Lenin com seu celular. ?Os guardas são muito severos. Já estive em Moscou outras vezes, mas sem a oportunidade de conhecer o mausoléu. Impressiona pela beleza e pela disciplina dos soldados. O ritual todo é interessante?.

O técnico não vai voltar para o Brasil com o restante da comissão técnica. Ficará na Europa pelo menos por uma semana. Primeiro, vai para a Suíça, a fim de conhecer o local em que a seleção iniciará, em 22 de maio, a preparação final para o mundial. Depois, participará de um workshop promovido pela Fifa. No dia 8, assistirá ao clássico Arsenal x Real Madrid, pela Liga dos Campeões, na Inglaterra.

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