Brasil retribui torcida com show em campo

Robinho foi um dos
destaques do Brasil.

Porto Alegre – A torcida gaúcha preparou cuidadosamente o cenário para receber a seleção brasileira. Desde a chegada, na noite de sexta-feira, tratou os jogadores com empolgação e carinho. Ontem, transformou o Beira-Rio em um grande salão de festas. Recebeu os jogadores com fogos de artifício. Como retribuição, esperava grande atuação contra o Paraguai. Foi atendida. Robinho driblou, pedalou, entortou os beques adversários, fez gol. Ronaldinho Gaúcho brindou os conterrâneos com jogadas de efeito e dois gols – ambos de pênalti. Kaká fez grandes jogadas… O Brasil goleou por 4 a 1 e está a um passo da Copa da Alemanha.

Com 27 pontos, o Brasil garante matematicamente a vaga na quarta-feira, vencendo a Argentina (líder com 28) em Buenos Aires, ou até com um empate, dependendo dos outros resultados da rodada. Na prática, porém, a seleção saiu de Porto Alegre com o passaporte carimbado.

A seleção jogou excelente futebol. Não foi brilhante, mas em vários momentos a torcida teve motivos para ficar empolgada. Foi bonito ver as arrancadas, os dribles e a desenvoltura de Robinho com a camisa da seleção; os chapéus de Kaká e Roberto Carlos em apavorados adversários; o talento de Ronaldinho Gaúcho; a movimentação; a ousadia de Parreira (o time, na realidade, jogou com três atacantes – Robinho, Ronaldinho e o ontem atabalhoado Adriano).

Claro que a equipe teve problemas. A dupla de zaga formada por Lúcio e Roque Júnior mostrou novamente o quanto é frágil – Lúcio, expulso após entrada violenta em Paredes, não joga em Buenos Aires. Roberto Carlos abusou da ?graça? na etapa final. Nada, porém, que colocasse a vitória em risco.

O Brasil venceu como quis. No primeiro tempo, fez 2 a 0 com dois pênaltis cobrados por Ronaldinho Gaúcho, o primeiro após mão na bola de Mansur e o segundo num pênalti de Da Silva em Robinho, que confessou: ?Cavei?. Na etapa final, Zé Roberto fez o terceiro com um belo chute de fora da área. Depois disso, a seleção caiu, o Paraguai chegou a seu gol (Santa Cruz de cabeça, após falha de Lúcio). Faltava o gol de Robinho. E ele veio após um passe de Kaká, aos 37 minutos, na última jogada do santista, que tocou a bola entre as pernas do goleiro Villar e, em seguida, deixou o campo sob aplausos.

A goleada estava construída. E a seleção deixou o campo da maneira como entrou: debaixo de um merecido foguetório.

Para Parreira, Argentina será formalidade

Porto Alegre – Para Carlos Alberto Parreira, após a goleada de ontem por 4 a 1 sobre o Paraguai, o Brasil garantiu vaga na Copa do Mundo do ano que vem, na Alemanha. O jogo de quarta-feira contra a Argentina seria, portanto, ?um amistoso de luxo?, na ótica do treinador. ?O importante da vitória sobre o Paraguai é que, agora, vamos fazer um belíssimo amistoso contra a Argentina. Um amistoso de luxo entre duas seleções que já ganharam sete títulos mundiais, com os dois países já classificados para a Copa do Mundo. Será um espetáculo, um amistoso de luxo valendo a liderança?, disse Parreira.

Com 27 pontos, um a menos que a Argentina, e faltando quatro rodadas para o fim das Eliminatórias, o Brasil abriu dez pontos de vantagem sobre o quinto colocado. Uma vitória simples sobre a Argentina garante matematicamente o Brasil na Copa do Mundo.

?Isso (a facilidade para se classificar de forma antecipada) não ocorria desde 93, quando só nos garantimos na Copa no último jogo, contra o Uruguai. Em 2001 também foi aquele sufoco. Mas agora não vejo como não nos classificarmos, até em função dos confrontos que vamos ter pela frente?, disse Parreira, referindo-se aos jogos que faltarão para o Brasil após a Argentina: Chile (em casa), Bolívia (fora) e Venezuela (casa). ?Estamos 99,9% classificados?, emendou o treinador.

Segundo Parreira, com a classificação ?virtualmente garantida?, a motivação agora é conquistar a liderança das eliminatórias. ?Nós queremos ser os primeiros e precisamos ganhar da Argentina. Para isso, vamos precisar jogar muito.?

O técnico não quis confirmar a escalação para o jogo de quarta-feira. Só adiantou que, com Lúcio suspenso, Juan será o titular da zaga, ao lado de Roque Júnior.

Placar injusto

Sobre a vitória de ontem, Parreira disse: ?4 a 1 foi um resultado modesto por causa do volume de jogo que o Brasil teve. O Dida não precisou fazer uma defesa. Já o goleiro paraguaio (Villar) foi muito exigido. O time deles entrou só para se defender e ninguém agüenta 90 minutos só se defendendo?. Ele salientou: ?Jogamos muito bem apesar de termos tido uma semana atípica. Só conseguimos juntar todos os jogadores na sexta-feira?.

Parreira, primeiramente, disse que não gostaria de fazer análises individuais de seus jogadores, mas, em seguida, elogiou bastante o volante Zé Roberto. Questionado sobre Robinho, o técnico comentou: ?O Robinho é um jogador em quem sempre apostamos. Está crescendo e fez um bom jogo?.

O treinador fez questão de afirmar também que Ronaldo, do Real Madrid, continua em seus planos, apesar de ter sido cortado para estes jogos das Eliminatórias e o Brasil ter jogado muito bem sem ele, ontem. ?A gente não pode perder o foco e achar que jogamos bem porque estávamos sem o Ronaldo. Ele é um dos melhores do mundo e vai ser importante na conquista do hexa.?

Robinho não treme e entorta a zaga

Porto Alegre – O Robinho do Santos deu as caras ontem na seleção. O menino driblador, provocador, insinuante com a bola nos pés, fez sua melhor partida com a amarelinha. Era um Robinho alegre. Com personalidade e muito à vontade entre as feras brasileiras já consagradas do futebol mundial. Os paraguaios bem que tentaram marcá-lo. Em vão.

O mais novo talento da seleção também foi decisivo na vitória de 4 a 1 sobre os paraguaios. Aos 40? do primeiro tempo, ele sofreu pênalti em falta de Da Silva, seu último recurso para pará-lo.

O atacante recebeu a bola livre pela direita, com uma ?avenida? pela sua frente. Bem ao seu estilo, foi levando, levando, levando a bola até se aproximar da área. Pedalou para cima dos marcadores até ser derrubado. Abraçado à bola após a falta, passou a incumbência ao melhor do mundo, o filho da terra Ronaldinho Gaúcho, que marcou seu segundo gol na partida.

Na comemoração, Robinho ganhou um abraço apertado do craque. ?Vou levar uma boa lembrança de Porto Alegre. Graças a Deus, todos do time jogaram bem, apesar de toda a falta de entrosamento. Espero continuar bem na seleção?, disse Robinho.

O menino de ouro da Vila Belmiro faria muito mais no segundo tempo do Beira-Rio. A ele ainda estava reservado um dos quatro gols da equipe, que ocorreu aos 37?, num momento em que a seleção passava por dificuldades, após a expulsão do zagueiro Lúcio. Robinho estava para deixar o time para a entrada de Juan, uma maneira de recompor o setor defensivo.

O atacante sabia que tinha então mais alguns segundos para tentar o gol. E foi em sua última arrancada, por trás dos beques, que ele se posicionou para receber passe ?açucarado? de Kaká. Robinho dominou a bola e chutou rasteiro. Era o quarto gol da seleção. E o menino santista já não pertencia mais somente à cidade praiana. Era do Brasil. Será do mundo, em breve.

ELIMINATÓRIAS
14.ª Rodada
Em campo
Gols: Ronaldinho Gaúcho (pênaltis) aos 31? e 41? do 1.º tempo. Zé Roberto aos 25, Santa Cruz aos 27? e Robinho aos 37? do 2.º.
Árbitro: Martín Vasquez (URU).
Cartões amarelos: Belletti, Roque Júnior, Paredes e Mansur.
Cartão vermelho: Lúcio
Local: Beira-Rio (Porto Alegre – RS).
Público: não fornecido
Renda: não divulgada

BRASIL 4×1 PARAGUAI

Brasil: Dida; Belletti, Lúcio, Roque Júnior e Roberto Carlos; Emerson (Gilberto Silva), Zé Roberto, Kaká e Ronaldinho Gaúcho; Robinho (Juan) e Adriano (Ricardo Oliveira). Técnico: Carlos Alberto Parreira.

Paraguai: Villar; Caniza, Gamarra, Manzur e Da Silva; Bonet (Barreto), Ortiz, Paredes e Torres; Cabañas (Cuevas) e Santa Cruz. Técnico: Aníbal Ruiz.

Racismo fora das preocupações

Porto Alegre – A seleção brasileira está preparada para sofrer atos racistas na Argentina sem perder a cabeça. É o que garantem os jogadores comandados por Carlos Alberto Parreira.

O grupo se diz tranqüilo no aspecto psicológico para suportar eventuais insultos e assegura que qualquer ofensa dos adversários será respondida apenas na bola. Os argentinos ficaram bastante contrariados com a prisão do volante do Quilmes Leandro Desábato, acusado de racismo por Grafite no confronto entre Quilmes e São Paulo, pela primeira fase da Libertadores, no Morumbi, e podem tentar uma revanche, apostam alguns da seleção.

O Brasil fará dois treinos em Buenos Aires, hoje e amanhã, antes do duelo de quarta. Os brasileiros desconfiam que, no mínimo, os torcedores farão provocações. ?Se os argentinos praticarem atos de racismo, é problema deles. Eu espero vencer, e bem?, declarou Robinho, confiante.

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