Brasil pronto para a prorrogação

Ulsan (AE) – A segunda fase da Copa do Mundo da Coréia do Sul e do Japão representa muito mais do que um passo dado rumo à conquista do título. Com a vaga já assegurada, a seleção brasileira começa a pensar em detalhes da competição que, até agora, não apareceram. Além de a disputa passar a ser realizada no sistema eliminatório, ou seja, perdeu volta para casa, há a possibilidade de os jogos terem 120 minutos.

Isso está previsto se os times terminem o tempo normal empatados. Nesse caso, há prorrogação de 30 e, se for necessário a cobrança de penalidades. A dinâmica vale até a partida final. Mesmo admitindo que o tempo de preparação do grupo não foi o adequado, a comissão técnica não se preocupa com o condição física/clínica dos atletas.

A situação é encarada com naturalidade e não estão previstas alterações no ritmo de treinamento da equipe. “O grupo está preparado. Quando fizemos nossa programação de trabalho, já sabíamos disso. O negócio agora é muito repouso e boa alimentação”, explicou o médico José Luiz Runco. “O nosso sistema agora é o “A La Carte”, com trabalhos específicos, ao contrário do anterior, que era uma espécie de “Buffet”, igual para todos.”

Os atletas também procuram se mostrar tranqüilos diante da possibilidade de a duração dos jogos ficar maior. “Para nós isso não quer dizer nada”, afirmou o lateral-direito e capitão da equipe, Cafu. “Fizemos um bom trabalho de condicionamento e não acredito que algum de nós vai sofrer alguma dificuldade diante desse fato.”

Essa opinião é compartilhada pelo recém chegado Ricardinho. Mesmo na condição de último jogador a se integrar ao grupo – foi convocado na véspera da estréia para o lugar de Emerson, cortado por causa de uma contusão no ombro direito -, o meia corintiano não ressente a falta de preparo. “Fiquei parado apenas quatro dias no Brasil. Estou bem e à disposição para jogar os 120 minutos”, garantiu.

Outro lado

O tradicional discurso “agrada treinador” no qual os jogadores não se cansam de dizer que estão à disposição, ou que não se incomodam de jogar o tempo que for necessário, foi quebrado pelo meia Juninho Paulista. Sincero, o atleta disse que é necessário, sim, um trabalho diferenciado diante da iminência de jogos mais longos. “Muda alguma coisa, sobretudo no pós-jogo. É preciso descansar um pouco mais”, observou. Questionado sobre a forma para descansar mais, foi direto. “Ficando de fora de algum treinamento.”

Marcos tem atrito com Luiz Felipe

Wagner Vilarone Silvio Barsetti

Seul

(AE) – Poucos dias antes da estréia do Brasil na Copa do Mundo, o técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, afirmou que uma de suas armas para vencer a competição era contar com um grupo unido. Não demorou para que se criasse a “Família Scolari”. Contudo, como em todo convívio familiar, há momentos de alegria e tranqüilidade, como também de preocupação e desentendimentos. E na delegação não é diferente.

Apesar de a equipe ter conseguido se classificar por antecipação para a segunda fase do Mundial, o temperamento explosivo e oscilante do treinador ainda motiva momentos de tensão. O último deles envolveu o goleiro Marcos, um dos atletas mais admirados por Scolari, desde a época em que trabalharam juntos no Palmeiras.

Durante treino leve em Seul, técnico e jogador protagonizaram um momento de irritação recíproca. Os titulares estavam de um lado do campo para aperfeiçoarem finalizações. Marcos estava no gol. Ao notar que o goleiro não se esforçava para dificultar a ação dos atacantes, Scolari chamou sua atenção. “Não quer treinar não?” perguntou o treinador. Como não obteve resposta de Marcos, se aborreceu e chamou Dida para ocupar a vaga.

Coincidência ou não, o mal-estar com o goleiro aconteceu poucos dias depois de Scolari ter participado de outro momento constrangedor. Ainda em Ulsan, onde o Brasil passou a maior parte da primeira fase da Copa, o técnico brasileiro, insatisfeito com a ‘pontaria’ do atacante Ronaldinho Gaúcho em cobranças de falta, o fez repetir diversas vezes, até que acertasse. Nitidamente, Ronaldinho saiu da situação embaraçado.

Sem graça

Mesmo se esforçando para disfarçar o descontentamento com a situação, Marcos disse que só se comportou daquela forma porque o tipo de atividade que era realizada naquele momento não trazia qualquer proveito para sua posição. De acordo com o jogador, se tratava de um treino direcionado exclusivamente aos atacantes. Nem mesmo os zagueiros participavam. “Achei que não estava sendo produtivo para mim ficar ali. Os atacantes ficavam tocando de um lado para o outro e eu de bobinho no meio”, explicou o goleiro. “Por isso, achei melhor economizar (energia) e não ir nas bolas.”

Sobre a possibilidade de esse problema influenciar Scolari em futuras escalações, Marcos procurou evitar qualquer polêmicas. Porém, não deixou de mandar um recado. “Acho que isso não vai influenciar em escalações”, disse. “Mas se quiser escalar outro goleiro, para mim está tudo bem. Agora, depende dele (Scolari).”

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