Brasil goleia, mas apresenta falhas na zaga

Na frente, tudo certo. O Brasil se impôs ante o fragilíssimo Lucerna e venceu o amistoso de ontem por 8 a 0, na Basiléia (Suíça). Mas o jogo preparatório para a Copa do Mundo mostrou que ainda há problemas técnicos na defesa e erros táticos no sistema de marcação. Faltando 13 dias para a estréia contra a Croácia -e um amistoso contra a Nova Zelândia, domingo, em Genebra -, ainda há dificuldades a serem contornadas dentro de campo.

O clima de festa visto em Weggis se repetia na Basiléia. Os torcedores esgotaram os ingressos para o amistoso com longa antecedência, e a expectativa era de um ?espetáculo? protagonizado por Ronaldinho, Ronaldo, Kaká e Adriano. Para a seleção, basicamente seria um teste do ataque contra um time que se retrancaria completamente -mas que fora orientado a não fazer faltas duras.

E este pedido, feito também pelo próprio técnico do Lucerna, diminuiu qualquer ?força defensiva? dos suíços. Após alguns minutos de equilíbrio (e de um arremate perigoso dos donos da casa), a seleção tomou conta da partida, e marcou três gols apenas no primeiro tempo. O primeiro com Kaká, em jogada pela direita. O segundo com Adriano, após três chances desperdiçadas. E o terceiro com Ronaldo, em sua arrancada característica – claro que sem aquela velocidade de outrora.

Até aí, nada de surpreendente. Era claro que os atacantes brasileiros levariam vantagem sobre os defensores adversários. Tanto que todos exageravam nas jogadas elaboradas – se o time jogasse com mais seriedade, teria feito o dobro de gols nos 45 minutos iniciais.

O problema estava na defesa. Se Ronaldinho e Kaká pelo menos guardavam posição quando o Brasil estava sem a bola, havia buracos na marcação. O mais evidente estava na esquerda, pois Roberto Carlos saía para o apoio e deixava o corredor aberto. No meio, somente Emerson fazia a proteção da dupla de zagueiros – e quando a seleção tinha que sair jogando, Lúcio e Juan se complicavam.

Depois de um intervalo com direito a passistas, mulatas e Neguinho da Beija-Flor em pleno campo, a seleção retornou para o jogo sem alterações. Estava claro que Carlos Alberto Parreira queria dar entrosamento ao time, mesmo que os jogadores sentissem a carga de treinamentos físicos -e alguns, como Ronaldo, a falta de ritmo de jogo.

Para completar, a seleção passou a jogar com o ?freio de mão puxado?. E, aproveitando-se do desinteresse brasileiro, o Lucerna conseguiu ser superior no início da segunda etapa, só não marcando porque seus jogadores eram muito ruins. O quarto gol saiu após mais uma demonstração de inabilidade dos suíços – Adriano roubou a bola e tocou para Ronaldo completar. E até Lúcio fez gol (o quinto do Brasil), recebendo passe de Emerson.

Aos 19 minutos, não havia mais o que se avaliar dos titulares na Basiléia. Parreira fez quatro alterações de uma só vez: entraram Edmilson, Ricardinho, Juninho e Robinho. Modificações emblemáticas, pois os quatro podem ser considerados os jogadores que podem ganhar posições na seleção caso o treinador queira fazer mudanças táticas. Juninho fez a parte dele, cobrando falta com perfeição e marcando o sexto – e aumentando a pressão para que ele se torne titular.

Gilberto Silva, Cicinho e Gilberto também entraram, dando uma cara de ?mistão? à seleção na reta final do amistoso, que ainda teve um belo gol de Robinho e outro de Adriano para fechar a goleada em 8 a 0. Aos 33 minutos, o ex-meia do Atlético Paranaense Ratinho, de 37 anos, entrou no Lucerna para fazer sua despedida oficial do futebol.

Mas, desde a entrada dos reservas até o apito do árbitro, o ritmo do jogo foi moderado, como se todos percebessem que nada mudaria no time – e que, daqui a menos de duas semanas, o Brasil estaria começando a caminhada para o sexto título mundial.

Ratinho tem uma despedida de gala

Basiléia – O Lucerna se preparou para uma festa contra o Brasil e sabia que perderia o jogo. Mas o placar de 8 a 0 ficou feio, admitiram seus jogadores. Um personagem, no entanto, teve motivos para festejar: o paranaense Emerson Ratinho.

O atleta do Lucerna, apesar de ter encerrado a carreira no ano passado, entrou em campo faltando pouco mais de 10 minutos para o fim. Foi a forma que a diretoria encontrou para homenageá-lo. ?Nem o Zico teve uma despedida dessas, com tantos jogadores de alto nível, fiquei muito emocionado.?

Mesmo com o fim da carreira, o atacante disse não ter nenhum desejo de retornar ao Brasil. O motivo: a violência. ?O pessoal está assaltando demais lá, a violência no Brasil é muito grande? afirmou. ?Tenho três filhos aqui na Suíça. Dói falar, mas tenho medo de voltar para o Brasil, onde anda difícil ter sossego.?

Ratinho iniciou a carreira no Matsubara e ganhou notoriedade no Atlético-PR. Em 1991, transferiu-se para a Europa. Sua melhor fase foi no Kaiserslautern, da Alemanha, onde conquistou um título nacional. A última temporada como profissional foi em 2005, pelo Lucerna, onde é bastante querido e hoje, aos 35 anos, treina os juniores.

AMISTOSO
Súmula
Local: Saint Jakob Park (Basiléia-SUI)
Árbitro: Claudio Circhetta (SUI)
Gols: Kaká 19, Adriano 37 e Ronaldo 42 do 1º; Ronaldo 13, Lúcio 16, Juninho 23, Robinho 32, Adriano 40 do 2º

Brasil 8×0 Lucerna

Brasil
Dida; Cafu (Cicinho), Juan, Lúcio e Roberto Carlos (Gilberto); Emerson (Gilberto Silva), Zé Roberto (Edmílson), Kaká (Juninho) e Ronaldinho (Ricardinho); Ronaldo (Robinho) e Adriano. Técnico: Carlos Alberto Parreira

Lucerna
Zibung (Greco); Lambert, Dal Santo (Nordine), Meyer (Bader) e Diethelm; Mehmeti, Righetti (Makuka), Andreoli (Malige), e Schwegler (De Napoli); N?Tiamoah (Ratinho) e Tchouga. Técnico: Thomas Wyss

Voltar ao topo