Atleticano fez do jogo a sua chance de protestar

Poucas vezes o encanto da fanática torcida do Atlético se voltou contra o próprio clube na Arena. Os torcedores já mostraram sua ira contra jogadores, acusados de farristas, e treinadores, considerados incapazes. Houve agressões contra atletas na saída do estacionamento e treinadores enxotados pelos gritos de revolta. Ontem, quem caiu em desgraça foram os dirigentes do Rubro-Negro. Tudo por causa do polêmico preço do ingresso (R$ 30,00) para a disputa do campeonato brasileiro.

Antes mesmo do início da partida contra o União Bandeirante a confusão já estava armada. Três torcedores carregavam uma faixa de protesto pelo “retão” (arquibancada inferior) até serem abordados por seguranças na curva de fundos, que recolherem contra a vontade deles o símbolo do protesto. Quem presenciou a cena não perdoou a prepotência do clube e vaiou o ato.

Foi a deixa para a torcida organizada Os Fanáticos (posicionada, como sempre, na curva de entrada) começar a entoar gritos de protestos, logo seguida pela maioria no restante do estádio. “Ão, ão, ão, a Baixada é do povão”. O jogo iniciou e mais problemas com torcedores segurando faixas pelas arquibancadas. Um deles dizia, “Domingão do torcedor, se vira nos R$ 30”. Novamente, a ação de seguranças gerou mais protestos e vaias generalizadas. “Vergonha, vergonha”. Os jogadores pareciam não acreditar no que acontecia e pouco faziam em campo, além da obrigação de vencer. “Ingresso, quinzão, isso é tradição”. As arquibancadas passaram a ser o centro das atenções e os dirigentes tiveram que ouvir a ira cada vez maior dos torcedores. O presidente João Augusto Fleury da Rocha, o presidente do conselho deliberativo Mário Celso Petraglia e outros dirigentes acompanharam tudo do “pombal”. “Ingresso, trintão, é o fim do Furacão”.

Alguns torcedores aproveitaram para protestar de forma mais humorada. Teve um vestido de palhaço e até um atleticano vestido de terno e gravata, representando a possível elitização que o ingresso a R$ 30,00 poderá representar. Todos eles ganharam a simpatia do restante dos mais de cinco mil pagantes que foram até a Baixada. Até porque, o jogo era sonolento.

O símbolo da transformação do Rubro-Negro em um dos clubes mais modernos do País acabou sendo o alvo principal da organizada. “Petraglia, c…, a Baixada é do povão”. Os torcedores chegaram até a pedir a saída do dirigente. “Petraglia, chegou a hora, pega o dinheiro, enfia no … e vai embora” ou “Petraglia, vai se f…, o Furacão não precisa de você”. Mas o atual presidente Fleury também não foi poupado. “Fleury, canalha, fantoche do Petraglia”. Alguns mais eufóricos ainda esperaram no estacionamento pela saída dos dirigentes após a partida, mas o esquema de segurança não permitiu maiores transtornos.

Clube diz que preço alto passou a ser necessidade

Embora saibam que deverão enfrentar mais protestos por causa da elevação de preço dos ingressos para o campeonato nacional, os dirigentes do Atlético continuam tentando convencer o torcedor de que os valores são uma conseqüência da realidade atual do futebol. Os presidentes João Augusto Fleury e Mário Celso Petraglia (do Conselho Deliberativo) e o diretor de marketing Mauro Holzmann, passaram a semana visitando redações de jornais e estúdios das emissoras de rádio e televisão para justificar os números.

A bandeira principal dos dirigentes é a de que o futebol tem que buscar arrecadação na fatia do consumidor que tem dinheiro. “O povão já não vai a campo faz tempo”, assegura o presidente João Augusto Fleury. “É só ver o perfil da torcida que vai à Arena. A exclusão não foi imposta pelo Atlético, é conseqüência da crise econômica do País. O povão não está indo mais a lugar nenhum”, completa Mauro Holzmann.

Os três lembram que o estatuto do torcedor – “quem criou o estatuto foi o PT” – dizem eles, obriga os clubes a uma série de providências que geram mais custos com segurança, instalação de câmeras, orientadores, além de reduzir substancialmente a capacidade dos estádios. A própria Arena da Baixada, quando estiver com as cadeiras instaladas, ficará com uma capacidade de 23 mil torcedores. Essa diferença ninguém repõe, enquanto os custos para abrir o estádio continuam os mesmos. O Rubro-negro vai gastar R$ 4 milhões para adaptar o estádio com as cadeiras.

Os gastos com o futebol são assustadores, na análise dos dirigentes, ao passo que as receitas escasseiam cada vez mais. Segundo Mário Celso Petraglia, o Atlético tem um déficit de 250 a 300 mil dólares mensais com seus 240 funcionários – espalhados na administração da Arena e CT do Caju, contados também todos os jogadores das quatro categorias. “Para se manter entre os principais clubes do Brasil, o Atlético custa alto e não tem retorno”, afirma Petraglia.

Ele lembra que as receitas estão cada vez mais reduzidas, pois a televisão cortou 40% do dinheiro antes destinado, ao passo que bilheteria e venda com a marca e produtos não rendem nada. “Marca e produto, no Brasil, é traduzido em pirataria”.

Petraglia ironizou a avaliação feita pelo presidente do Flamengo, Márcio Braga, de que o ingresso do Atlético é muito caro. “É só ver onde está o Flamengo dele”. Petraglia, Fleury e Mauro têm informações de que o Botafogo também cobrará caro, cerca de R$ 40,00 no nacional.

Petraglia prevê dias mais difíceis com a única fonte de renda dos clubes, a venda de jogadores. Para ele, os europeus estão se armando com revelações de jogadores próprios, e isto signfica o fechamento do mercado para o Brasil.

Transamérica proibida de narrar

A Associação dos Cronistas Esportivos do Paraná (Acep) irá acionar o departamento jurídico da entidade, a pedido da Rádio Transamérica, para saber se pode tomar alguma medida judicial contra o Clube Atlético Paranaense. Ontem, os dirigentes do Rubro-Negro impediram a entrada da emissora nas dependências da Arena que, assim, não pôde transmitir a partida entre Furacão e União Bandeirante. A diretoria atleticana alegou ter sido ofendida em sua honra num comentário feito na quinta-feira pelo prefixo.

Antes da partida, todos os funcionários receberam a instrução de não permitirem a entrada de nenhum componente da Rádio Transamérica. Foram barrados o locutor Edílson de Sousa e os repórteres Cristiano Santos e Caco Mazanik. O comentarista Fernando Gomes, em princípio, foi barrado, mas alegou estar ali pela CNT (onde também trabalha) e entrou para tentar persuadir o presidente do conselho deliberativo, Mário Celso Petraglia. Não conseguiu e a emissora ficou de fora mesmo, sem transmitir o jogo.

“Tomei conhecimento hoje (ontem) à noite da atitude dos dirigentes do Atlético e vou consultar o departamento jurídico para apurar o fato e ver o que pode ser feito”, disse Osvaldo Tavares de Mello, presidente da entidade de classe. De acordo com ele, o clube não poderia penalizar o prefixo por uma opinião emitida pelo comentarista Aírton Cordeiro. “Se houve algum tipo de exagero ou ofensa por parte da emissora, que o clube processe. Mas não pode tirar o direito dos profissionais de exercerem a profissão”, ponderou.

Segundo o presidente da Acep, o clube agiu com prepotência, já que outras emissoras e veículos de comunicação não sofreram nenhum tipo de cerceamento. “Este é um tipo de agressão para o jornalismo como um todo e para a imprensa como um todo”, disparou.

O motivo para a proibição da Transamérica na Arena aconteceu na quinta-feira. Dois dirigentes do clube (João Augusto Fleury da Rocha, presidente, e Mauro Holzmann, diretor de marketing) foram participar de um programa da emissora e ouviram de Aírton Cordeiro que o preço do ingresso era abusivo. “Trinta reais é um assalto”, falou Airton Cordeiro. Nos bastidores, dirigentes do clube e da emissora negociaram uma retratação, mas não chegaram a um acordo e os atleticanos bateram em retirada.

De acordo com Petraglia, a emissora ofendeu a instituição do Atlético, a presidência do conselho e toda sua diretoria. “Ela nos chamou de um termo que nos deixou extremamente sentidos, magoados e ofendidos”, afirmou. Segundo o dirigente, a Transamérica não quis se retratar no ar e, por isso, não teve autorização para entrar, ontem, na Arena. “Nós já estamos tomando as providências jurídicas. Vamos processar, tanto a pessoa, quanto a rádio, em nome da instituição Atlético e em nome de toda sua diretoria”, informou.

Também hoje, o conselho deliberativo do clube deverá se reunir para tratar do assunto. “Vamos convocar uma reunião extraordinária para decidirmos o que faremos com essa rádio.

Voltar ao topo