É só um garoto

Análise: Raphael Veiga merece o massacre que vem sofrendo?

Raphael saiu de xodó da galera a odiado por muita gente. Foto: Divulgação/Coritiba FC
Raphael saiu de xodó da galera a odiado por muita gente. Foto: Divulgação/Coritiba FC

Toda semana, Raphael Veiga é assunto no Coritiba. Há pelo menos dois meses o nome do meio-campista está na mira da imprensa e da torcida. Primeiro, por ter mostrado grande personalidade ao ser lançado como titular no meio de uma crise que o time sofria em campo e o clube sofria fora. Foi pra lá de importante na arrancada que tirou o Alviverde da zona de rebaixamento e ao mesmo tempo fez a equipe avançar na Copa Sul-Americana. Em poucos jogos, Raphael virou xodó da torcida, titular absoluto com Paulo César Carpegiani e uma dupla afinada com Juan.

Aí apareceu o Palmeiras. Soube da situação contratual do jogador (vínculo perto de terminar), conversou com o empresário, encaminhou o acerto e foi ao Coxa para saber quanto precisava pagar. A diretoria alviverde não abriu mão da multa (algo em torno de R$ 8 milhões), o atual líder do Campeonato Brasileiro topou pagar. Resultado: Veiga está apalavrado com o time paulista para atuar por lá a partir de 2017.

Tudo mudou. De querido pelos torcedores, Raphael passou a ser massacrado virtualmente, através das redes sociais. Termos inacreditáveis para um garoto recém saído da base, que só tinha dado boa resposta nos jogos e no final ainda vai dar uma boa grana ao clube. Ofensas potencializadas pela covardia da internet, onde “machos” deitam falação protegidos pelo anonimato. E em campo, seu rendimento caiu. E a paciência com ele sumiu. Contra o Atlético Nacional, pela Sul-Americana, ele foi vaiado desde o primeiro erro de passe. Saiu no decorrer da partida, o que tinha acontecido já contra o Fluminense.

E quem é Raphael Veiga? É o xodó ou é o mercenário?

Ele é apenas um exemplo do que acontece no futebol brasileiro. Talentoso e com muito a progredir, o meio-campista naturalmente chamaria a atenção de outros clubes, daqui ou de fora. Não foi só o Palmeiras que tentou, Corinthians e Cruzeiro também vieram conversar. Mas a diferença do alviverde paulista é a grana. Talvez seja o único clube do País que possa investir de verdade. Só pra dar um exemplo, o Palmeiras chegou na frente do Barcelona (sim, o Barcelona!) e contratou o colombiano Yerry Mina, um zagueiraço que arrumou a defesa do time do Cuca.

O Coritiba não se preparou para resistir às ofertas. Raphael naturalmente foi ‘seduzido’ por um projeto de futuro, pela perspectiva de defender o campeão brasileiro e por um salário maior. Seu empresário da mesma forma. E o Coxa só tinha a multa pra segurar o meia. Como o Palmeiras resolveu pagar, não tem mais o que fazer.

O certo é que Raphael Veiga não merece o linchamento que vem sofrendo. Poderia colaborar muito com o Coritiba nesta reta final, sendo útil na luta para fugir do rebaixamento. Hoje, ele entra em campo com medo – das vaias, que o impedem de arriscar, e de sair do time, como Carpegiani fez sem piscar os olhos. Mesmo que seja por pouco tempo, e que em 2017 ele vista outra camisa verde, o menino ainda é patrimônio do Cori. Tanto quanto alguns pernas de pau que já passaram por aqui e eram idolatrados. Só que estes não tinham proposta de ninguém. Raphael Veiga, bom de bola, teve. E virou vilão justamente por causa de sua qualidade.