A faxineira que virou ?favorita?

Santos – Diferente da maioria das atletas, a baiana radicada em Santos, Sirlene Souza de Pinho, hoje uma das grandes fundistas do País, não começou a correr na infância, com um trabalho de base.

Até 1998, ganhava a vida como faxineira e corria só por diversão. O ?diamante bruto? foi lapidado pelo ultramaratonista Valmir Nunes, um dos maiores corredores de longa distância do mundo e se firmando como um técnico promissor.

Além de trabalhar o físico e o psicológico da atleta, confiando em sua ascensão, assegurou patrocínio antes mesmo que ela ?estourasse?, para poder treinar com tranquilidade. O trabalho começou a dar resultados de destaque no final de 2003, em sua estréia na São Silvestre, um ?divisor de águas? em sua carreira. Logo na primeira participação, foi a grande surpresa, ao subir ao pódio, na 5.ª colocação.

Aquele foi o momento de uma ?virada? drástica em sua vida, da fixação como uma atleta de ponta, de elite. De lá para cá, foram muitas conquistas importantes, como a vitória na Meia do Rio, o vice na Maratona de São Paulo e a vaga para os Jogos Pan-Americanos Rio 2007, na maratona, em sua primeira prova feita na Europa, em outubro último em Amsterdã, na Holanda.

Sirlene aparece como uma das cotadas à vitória na 82.ª São Silvestre, em São Paulo. Bem preparada e confiante, ela já sabe a tática a ser usada, principalmente com base na experiência da edição anterior, quando terminou na 7.ª posição. ?No ano passado, eu me preocupei muito com as adversárias e não com o meu ritmo, me desgastei e não consegui chegar ao pódio. Agora, vou fazer a minha prova e não quero saber o que as outras estão fazendo?, destacou a atleta de 30 anos, que ao contrário do que muitos apontam, considera o viaduto, logo no km 5, o trecho mais difícil da disputa. ?Ali é meu ponto decisivo. Para mim, não é a Brigadeiro não. O começo é a pior parte?, revelou.

Para buscar o pódio, Sirlene fez uma preparação específica por oito semanas, após a Maratona de Amsterdã. ?Para isso, sacrifiquei minhas chances na Volta da Pampulha, mas a São Silvestre é especial. Mexe com o emocional de todo o atleta. Todos sonham em vencer?, disse.

?Até duas semanas eu não estava confiante, mas com meus últimos treinos, ganhei motivação. Eu me cobro muito e sei que estou bem. Vou brigar pelo pódio e, claro, pela vitória. Desde 2002 o Brasil não ganha na feminina e quero muito comemorar esta conquista?, acrescentou Sirlene, que tem como principal meta um grande desempenho no Pan-2007.

?A partir de janeiro, o foco é totalmente para o Pan. Claro que vou buscar outras vitórias, mas os Jogos Pan-Americanos são no Rio e uma medalha será muito importante. Até abril, eu devo fazer outra maratona na Europa para melhorar a minha marca?, contou.

Técnico

Toda a preparação foi realizada em Santos, sempre ao lado do técnico Valmir Nunes. ?Treinar com ele é gratificante. Ele é um ídolo e é uma honra?, ressaltou Sirlene. ?Ele exige muito, mas sabe o que faz. Hoje em dia até que ele está bonzinho?, brincou. Para Valmir, Sirlene tem boas chances de chegar à vitória. ?Tivemos oito semanas para trabalhar para a São Silvestre. Gostaria de 10 a 12, mas ela tem tudo para brigar pelo primeiro lugar. Claro que temos outras atletas brasileiras muito fortes, como a Lucélia (Peres), a Márcia (Narloch), a Marily (dos Santos). Vai depender de vários fatores. Tem o percurso, o horário da largada, o calor. Tudo dificulta?, falou.

Ainda em atividade como corredor de longa distância, Valmir Nunes acumula mais de 30 títulos e atualmente vem se dedicando às provas de 24 horas, onde é o recordista das Américas, com nada menos que 273,8 km percorridos ininterruptamente em Taiwan. Também é bicampeão mundial dos 100 km. Como técnico, tem como principal feito justamente o desempenho de Sirlene.

?Ela teve uma carreira diferente. Não veio do infantil nas corridas. Fazia faxina e corria só por diversão. E a convenci que poderia viver do esporte. Trabalhei a cabeça e o físico e ela foi acreditando e crescendo. Na vida, se você acreditar no sonho e levar a sério, pode atingir e isso que aconteceu com a Sirlene?, explicou Valmir Nunes, contando a trajetória da atleta.

?Ela foi fazer uma faxina em casa e tivemos o primeiro contato. Percebi a força de vontade dela. Corrida é muito sofrimento e ela já estava acostumada a sofrer no trabalho e transformou o sofrimento em prazer. O mais importante é que o atleta tenha disciplina, humildade, respeito ao treinador. Isso conta muito e ela tem de sobra?, ratificou o técnico. Ainda em 98, ela iniciou nas corridas, primeiro a nível regional. No ano seguinte, engravidou e teve a filha, Beatriz, retornando em 2000. Este ano, mesmo tendo uma contusão e priorizando a vaga para o Pan 2007, garantiu resultados importantes.

Venceu a Meia-Maratona da Corpore, em São Paulo, a 29.ª Prova de Reis de Barcelona, em São Caetano do Sul, e os 6 KM da Folia Tri FM Itanhaém. Foi vice na Meia do Rio, nos 10 KM de São Paulo, nos 8 KM AT Revista Guarujá e na 23.ª Corrida da Integração e a 3.ª colocada no duro Desafio da Mata Atlântica. O grande momento foi em Amsterdã, onde conseguiu 2h35min43s, assegurando a segunda melhor marca da distância em 2006 (apenas 15s atrás de Márcia Narloch).

Franck Caldeira se preocupa com quenianos

São Paulo –  Mineiro de Sete Lagoas, Franck Caldeira era um menino preguiçoso para estudar e vivia sendo cobrado pela mãe para encontrar algo que gostasse de fazer. Ao ajudar o irmão mais velho numa corrida – acompanhou o percurso de bicicleta para levar a água – descobriu sua vocação: correr. Aos 23 anos, 1,69 m e 49 kg, o jovem fundista, encabeça a lista de favoritos ao pódio na 82.ª Corrida Internacional de São Silvestre, amanhã – a prova masculina terá largada às 17h, na frente do Masp, na Avenida Paulista.

Sem Marilson Gomes dos Santos, último campeão da São Silvestre e principal estrela das provas de fundo do País depois da vitória na Maratona de Nova York, e com a ausência dos quenianos de primeira linha, como Robert Cheruiyot, ganhador em 2002 e 2004, Franck ganhou o posto de favorito. E também pelos bons resultados que obteve na temporada, com vitórias em provas importantes como a Meia Maratona do Rio e a Volta da Pampulha. ?Um brasileiro tem sempre de ser pego para Cristo. Este ano sou eu que levo a responsabilidade do favoritismo nas costas?, brinca Franck. Mas confirma que está preparado e encara o favoritismo como estímulo, não pressão. ?Ser favorito significa estar trabalhando duro?. A namorada, Amanda Cecílio Gonçalves, de 22 anos, estudante de Radiologia, disse que vai esperar Franck na chegada.

Mas Franck define o queniano Mathew Cheboi, de 24 anos, como ?perigoso?. Na temporada, Franck e Cheboi – que está no Brasil há três meses, treinando e morando em Nova Santa Bárbara – se enfrentaram quatro vezes, com vantagem para o brasileiro de 3 a 1. ?Na São Paulo Classic perdi nos últimos 500 metros por causa de uma hipoglicemia. Estava com a prova ganha, mas o Cheboi veio de trás e passou. Ainda fiquei em terceiro. Ele é esperto e conhece bem as táticas dos brasileiros?, comenta Franck.

O queniano, que é da cidade de Eldoret, foi político ao falar do adversário e da prova. ?Vim porque gosto de correr, não só para ganhar.? Mas quer ser um minuto mais rápido que em 2005, quando ficou em sexto lugar, com 45min51. ?Desta vez vim para conseguir um bom resultado?.

O técnico Moacir Marconi, o Coquinho, que treina os quenianos, diz que ?Cheboi tem um caráter muito forte e cresce na prova?. Kenneth Kosgei, de 21 anos, outro jovem do projeto conduzido pelo treinador em Nova Santa Bárbara, está em boa forma.

Franck diz que ?ainda está construindo uma história, humildemente? e vai pensar na prova como ?outra corrida qualquer de 15 quilômetros, mesmo sabendo do brilho da São Silvestre?. Em 2003, foi sexto colocado, com o tempo de 44min26.

?Está na sua melhor forma. Treinou muito bem na altitude de Campos do Jordão. Se vai ganhar a São Silvestre, só vou poder dizer no domingo, lá pelas 18h?, diz o treinador de Franck, Henrique Vianna.

Premiação maior atrai destaques

Ao contrário do que se fala, a premiação da 82.ª Corrida de São Silvestre é maior que a do ano passado. Somados os bônus para quebra de recorde, a corrida deste ano totaliza R$ 111,8 mil, contra R$ 110 mil do ano passado. Além disso, neste ano, os dez primeiros, no masculino e no feminino, receberão premiação em dinheiro. Até a edição passada, o prêmio era dado apenas aos cinco mais bem colocados. Dessa forma, é natural que a competição atraia os melhores do País. A distribuição de prêmios ficou assim: 1.º) R$ 21 mil; 2.º) R$ 9 mil; 3.º) R$ 6 mil; 4.º) R$ 4 mil; 5.º) R$ 2 mil; 6.º) R$ 1 mil; 7.º a 10.º) R$ 600,00.

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