2005, um ano para o Coritiba esquecer

O Coritiba quer ver 2005 acabar logo. Foi um ano terrível, isso sem pensar no que estava projetado para a temporada. Imaginava-se um ano com o tri paranaense, uma boa campanha na Copa do Brasil e a volta à Libertadores, ficando entre os quatro primeiros do Brasileiro. Nada disso aconteceu – o Coxa perdeu a final do Estadual para o Atlético, caiu ante o modesto Treze, da Paraíba, na Copa do Brasil e foi rebaixado para a 2.ª divisão. Tanta desgraça faz de 2005 um dos piores anos da história do Coritiba – se não for o pior.

Outras temporadas foram desagradáveis. Nos anos 50, o clube amargou um jejum de títulos, mas que tinha o alento das obras do Couto Pereira. Além disso, firmavam-se ali o Coxa campeoníssimo das duas décadas seguintes. Sem aquele Coritiba, não existiria o time irresistível da época de Evangelino da Costa Neves – que tinha como preparador físico Odivonsir Frega e como capitão o volante Hidalgo. Os três, Neves, Frega e Hidalgo estão juntos de novo na atual diretoria.

Os primeiros anos da década de 80 também não foram dos melhores. Em 81, o Coxa teve que brigar para não cair para a 2.ª divisão do Estadual. Recuperou-se, lutou até pelo título, mas no ano seguinte sofreu da mesma forma. Naquele período, o máximo que o time conseguia em competições nacionais era a eliminação na 1.ª fase da Taça de Prata – equivalente à 2.ª divisão.

Outra fase complicada para o Coxa foi a de 1990. Após ser rebaixado em uma ?canetada? da CBF, o time perdeu o Paranaense para o Atlético – com um inacreditável gol contra de Berg. Depois, mesmo com várias contratações de atletas conhecidos e com o técnico Luiz Felipe Scolari, o Coxa acabou sendo rebaixado para a 3.ª divisão do Brasileiro. Só não a disputou porque a CBF mudou o regulamento da segundona e manteve o time onde estava.

Revezes consecutivos

Mas 2005 teve contornos de tragédia poucas vezes vistos no Alto da Glória. O Paranaense esteve nas mãos (e nos pés) do Coxa – primeiro, com a vantagem de atuar na Arena pelo empate; segundo, em uma jogada desperdiçada por Rodrigo Batata; finalmente, no pênalti que Capixaba mandou para fora. O Atlético conquistou o estadual com um gol de um ex-jogador coxa: Lima, que daquele jogo em diante se tornou ídolo rubro-negro.

Na Copa do Brasil, o caminho do Coritiba parecia simples: CFZ de Brasília; depois, o Náutico; nas oitavas-de-final, o Treze. Estava tudo claro para o Coxa ficar, pelo menos, entre os oito melhores da competição. Só que o sofrimento não cessava. Em Brasília, Fernando salvou a classificação antecipada. Contra os pernambucanos, foi necessária a participação efetiva da torcida no jogo do Pinheirão. E aí veio o Treze. Os paraibanos perderam por 2 a 1 em Curitiba e seguraram o 1 a 0 em casa, eliminando o Coxa.

Esperava-se que o Brasileiro fosse a redenção. Mas uma seqüência inacreditável de falhas (quadro) acabou levando o clube para o inferno. Foram 5 técnicos (Antônio Lopes, Cuca, Antônio Lopes Júnior, Cláudio Marques e Márcio Araújo), 42 escalações diferentes em 42 rodadas, excesso de jogadores e uma crise de confiança. Apesar da torcida, que deu ao clube a 4.ª melhor média de público da competição, e da vitória sobre o Inter, o Coxa não escapou do rebaixamento.

Mas, na história alviverde, para cada fracasso sempre houve uma recuperação. Na década de 80, o Coritiba teve sua maior glória, o título brasileiro. Mesmo não tendo sido aproveitado como poderia, a conquista foi importante para incluir o Coritiba como um dos grandes do futebol brasileiro. Nos anos 90, o time se reergueu, venceu as dificuldades e voltou à Série A -com Almir Zanchi na direção de futebol, cargo que ele reassumiu no início do mês.

Rara, mas boa lembrança

O Coritiba teve muito pouco a comemorar na temporada. Não houve títulos, apenas glórias momentâneas dentro de campo. E nenhum jogo foi mais positivo para o Coxa que a vitória por 4 a 2 sobre o Fluminense, na quinta rodada do Campeonato Brasileiro, no dia 21 de maio. Após um início vacilante na competição, o time treinado por Cuca aprontava em cima do então líder, e dava a impressão que poderia ser uma das surpresas do ano.

Naquele jogo, ficou claro para os torcedores o acerto das contratações de Tiago e Alexandre. Os atacantes contratados do Iraty foram os destaques do Alviverde no estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda. Parecia que ambos eram as estrelas, que o Coritiba jogava em casa e na liderança do Brasileiro. Logo no início do jogo o time abriu 2 a 0 – o segundo gol numa belíssima jogada de Flávio, que saiu como líbero e deixou Ricardinho na cara do gol.

Na segunda etapa, Cuca mandou o Coxa forçar as jogadas ofensivas e aumentou a vantagem com um gol de Rafinha. Apesar do Fluminense pressionar (e descontar), os visitantes mantiveram o ritmo e ampliaram a vantagem com Tiago, depois de jogada individual de Alexandre. Os cariocas fizeram mais um, mas em momento algum foram ameaça séria para o Coritiba, que com aquela vitória voltava a figurar entre os primeiros do Brasileirão e retomava a expectativa por uma boa campanha. Mas as esperanças ficaram pelo caminho, e aquele jogo se tornou uma exceção na triste campanha coxa.

Tropeços que doem na alma

É complicado para o torcedor do Coritiba lembrar de cada tropeço na temporada 2005. Poder-se-ia recordar da derrota na final do Campeonato Paranaense, nos pênaltis, para o Atlético, quando o título parecia estar nas mãos. Ou então da eliminação na Copa do Brasil para o Treze. Ou de alguma das 19 derrotas no Brasileiro – e uma delas, justamente para o Atlético, é a que cala mais fundo na alma ferida do coxa-branca.

O Alviverde entrou no Joaquim Américo como amplo favorito para o primeiro Atletiba do campeonato nacional. Afinal, estava em alta, vindo de um categórico 3 a 1 sobre o Paysandu, enquanto o rival, preocupado com a Copa Libertadores, ainda não vencera na competição e entrava em campo com o time reserva. Era a chance de vingança para o Coritiba – de esquecer a perda do título estadual e, para a torcida, era a hora de ?exorcizar? Antônio Lopes, que deixara a equipe e seguira para o Furacão.

Mas deu tudo errado. O técnico Cuca tentou surpreender deixando Rafinha completamente livre, sem obrigação de fixar-se em algum setor. A tática não funcionou, e logo nos primeiros minutos do clássico o Atlético já vencia, com um gol de Evandro. Enquanto o ?mistão? dos donos da casa mandava no jogo, o Cori estava atarantado, sem saber sair da marcação imposta pelo Delegado.

No segundo tempo, só havia um jeito de buscar o empate – atirando-se completamente ao ataque. E foi o que o Coritiba tentou, mas o goleiro Tiago Cardoso acabou se tornando um dos heróis do Rubro-negro, que segurou o resultado e conseguiu sua primeira vitória no Brasileiro. Para fechar, Antônio Lopes foi xingado pelos torcedores alviverdes, fez gestos para a arquibancada e se envolveu em uma briga com Cuca – vencedor, o Delegado saiu dando lições de moral aos alviverdes.

A derrota quebrou a corrente única que guiava o Coritiba. Dali em diante, a diretoria não confiava mais totalmente no treinador, o que ficou evidente após o rebaixamento, quando o presidente Giovani Gionédis disse que seu grande erro na temporada foi não ter demitido Cuca após o Atletiba. A torcida passou a cobrar na mesma intensidade em que ia ao Couto Pereira, e os jogadores assumiram uma carga de responsabilidade que eles não tinham como carregar. Depois do ocorrido (quando sempre é mais fácil analisar os fatos), pode até se dizer que o primeiro passo do Coxa para a degola foi dado naquele clássico da Arena.

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