Curitiba

Terreno em Curitiba, antes cuidado por senhor que faleceu, vira alvo dos moradores

Moradores do Juvevê reclamam de barulho em terreno que era cuidado pelo senhor Francisco Toda, morador do bairro. Foto: Marco Charneski/Tribuna do Paraná
Escrito por Giselle Ulbrich

Depois da morte de homem que cuidava de um terreno no Juvevê, mantendo-o como uma praça, ninguém sabe o que será do lugar

É fato que o terreno na esquina das Ruas Manoel Eufrásio e Marechal Mallet, no bairro Juvevê, em Curitiba, pertence à União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes). Isso ninguém discute. O que ninguém no bairro sabe dizer é se o local continuará sendo uma “praça”, que nos últimos 14 anos estava sendo cuidada pelo aposentado Francisco Toda, morador do bairro que faleceu em agosto, ou se novamente voltará a abrigar a sede da Upes, que já foi destruída duas vezes e foi alvo de briga judicial nas últimas décadas. O caso é que o terreno virou palco de confusão e bate-boca nas últimas semanas, com a Upes tentando retomar o seu espaço e os moradores locais tentando evitar o que consideraram uma “baderna” na “praça” do “seu” Francisco.

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Para entender a confusão, é melhor contar a história do começo. E quem mostra essa trajetória é o jornalista Bernardo Carlini, dono de um jornal do bairro que acompanha tudo de perto. Ele conta que, na década de 40, a Upes ganhou o terreno do governo estadual e construiu uma sede de madeira. Por mais de cinco décadas, os estudantes secundaristas viveram em harmonia com a comunidade local. Até torneios de truco e pinque pongue promoveram juntos. Na década de 90, um dos presidentes da Upes vendeu o terreno a uma construtora, de forma irregular, ao preço de R$ 7 mil, muito abaixo do preço de mercado. Quando a gestão seguinte assumiu, descobriu a venda. Mas o antigo presidente da Upes já tinha sumido, tanto quanto o dinheiro.

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Neste meio tempo, a construtora vendeu o terreno para outra empresa, que destruiu a casa de madeira. Então estudantes de todo o Paraná vieram a Curitiba acampar no local, para evitar invasões, no que ficou conhecido como o “Acampamento dos 100 Dias”. Neste período, apesar da comunidade concordar com a histórica atitude dos estudantes, reclamava também um pouco da baderna, regada à bebidas, drogas e sexo na frente de quem estivesse passando na rua. Mas depois de uma extensa briga judicial, a Upes conseguiu reaver o terreno. Na época, o advogado que defendeu os interesses da Upes era o atual ministro do Supremo Tribunal Federal, Edison Fachin.

Reconstrução

Ao final dos 100 dias, os estudantes conseguiam a doação de uma casa pré-fabricada e lá conviveram enquanto tramitava o processo judicial (segundo os moradores antigos do bairro, com a mesma “baderna” do acampamento). Em 2004, o aposentado Francisco Toda, morador do prédio ao lado, passou a cuidar do terreno (que não tinha muros) de forma espontânea e voluntária. Varria o entorno, cuidava das plantas, fazia o que estava ao seu alcance para manter o local limpo e agradável para estudantes e moradores.

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Em 2012, a sede pegou fogo e nada sobrou. Até hoje, ninguém sabe se foi acidental ou criminoso. Assim que os escombros foram limpos do local, Francisco começou a cuidar do terreno e a transformá-lo numa pequena praça para os moradores. Varria, mantinha a areia limpa para crianças brincarem com suas pazinhas e baldinhos, construiu bancos, mesinhas e até balanços para as crianças. Todos se admiravam com o capricho e a presteza, sem pedir nada em troca, só pelo simples prazer de gerar bem estar aos outros.

Herdando o cuidado

Foto: Marco Charneski/Tribuna do Paraná
Foto: Marco Charneski/Tribuna do Paraná

Em agosto desse ano, Francisco morreu de pneumonia. Desde então, quem passou a cuidar da “praça” foi o relojoeiro aposentado Valdomiro Zamodzke, 71 anos, que mora no mesmo prédio de Francisco. “Já estou aposentado, então encontrei algo com que ocupar minha mente. Era gostoso conversar com as pessoas, ouvir os elogios e os parabéns das pessoas pelo zelo, pela iniciativa de continuar cuidando do espaço”, disse o seu “Miro”, com os olhos marejados, porque há duas semanas foi orientado pela vizinhança a não mais cuidar do local.

Retomada

Quando chegou à União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes) a notícia da morte do aposentado Francisco Toda, que cuidava e mantinha limpo o terreno da Upes no bairro Juvevê, em Curitiba, a entidade decidiu retomar o espaço que lhe pertence, para construir uma nova sede. “Foi uma promessa que fiz em janeiro, quando assumi, de reconstruir a sede”, explicou Wellington Tiago, presidente da Upes.

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Então, há pouco mais de duas semanas, a Upes fechou o terreno com tapumes, que recebeu de doação do acampamento em apoio ao Lula). Mas como os tapumes continham frases em apoio a Lula e ao PT, os moradores da região pensaram que se tratava de alguma invasão política e, na manhã seguinte, derrubaram tudo. Isso gerou uma enorme confusão e bate boca.

Batucada

Dois dias depois, estudantes vieram treinar uma bateria de escola de samba no local. A vizinhança reclamou da perturbação de sossego, que acabou indo parar dentro de um Batalhão da Polícia Militar e um termo circunstanciado foi lavrado. Desde então, não houve mais “barulho” e na quarta-feira da semana passada a prefeitura recolheu do terreno os restos de tapumes e materiais de construção deixados no local.

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“Nós ganhamos de parceiros cerca de R$ 5 mil em materiais de construção, para reerguer a sede. Por isso decidimos fechar o terreno com os tapumes que ganhamos, para resguardar os materiais gahados. Com a retirada dos tapumes no dia seguinte, tivemos um prejuízo de R$ 3 mil. Mas nós não quisemos fazer nenhum boletim de ocorrência. Entramos num consenso de nos reunir com os moradores para apaziguar a situação. Decidimos fazer um projeto que contemple a sede com um jardinete na frente, para uso da vizinhança, com bancos, iluminação e uma homenagem ao ‘seu’ Francisco”, esclareceu Wellington.

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Sobre o autor

Giselle Ulbrich

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