Curitiba

Mulheres guerreiras, deslumbrantes e que fazem um trabalho essencial são homenageadas no Dia da Mulher

Foto: Sérgio Sossella/Colaboração
Escrito por Lucas Sarzi

No dia a dia, a gente nem vê o quão importante é seu trabalho, tão essencial quanto respirar. Dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher

Na maioria do tempo, elas passam despercebidas, mas a realidade é que jamais viveríamos sem elas. No dia a dia, a gente nem vê o quão importante é uma trabalhadora da limpeza, mas seu trabalho é tão essencial quanto o ato de respirarmos. Foi pensando nisso que neste dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, essas mulheres ganharam uma homenagem emocionante e deixaram de ser coadjuvantes em histórias alheias para serem protagonistas da própria história. Como deveria ser.

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Numa proposta inusitada, o Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação de Curitiba (Siemaco) e o Estúdio Sossella, de fotografias, se uniram para dar ainda mais um motivo para essas mulheres tão importantes terem força de seguir em frente. Como comemoração pelo dia delas, dez trabalhadoras da limpeza foram escolhidas para uma sessão de fotos que mostrou a elas próprias a beleza que têm e, às outras pessoas, a beleza que existe por trás dos uniformes.

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Primeiro, elas foram fotografadas no dia a dia, trabalhando como coletoras de lixo, varredoras da cidade, serventes de limpeza, serventes de limpeza hospitalar, limpadoras de vidros em altura, recepcionistas, copeiras e encarregadas. Depois, viveram a experiência de, pela primeira vez, entrar num estúdio fotográfico e posar para as lentes de um fotógrafo profissional com uma super maquiagem que valorizou ainda mais o momento.

Valéria disse que se sente esquecida nas ruas. Foto: Gerson Klaina.
Valéria disse que se sente esquecida nas ruas. Foto: Gerson Klaina.

“Me sinto esquecida, não vista, pelas pessoas. Nosso uniforme sempre chama muito a atenção, mas devido a gente coletar o lixo, as pessoas têm receio ou algo parecido”, comentou a gari Valéria Ribeiro de Lima, de 41 anos, uma das guerreiras nesta função que é considerada uma das funções campeãs de invisibilidade social. No trabalho diário, por se movimentar o tempo todo, Valéria sente o desgaste do corpo (as dores nas costas), mas foca no lado positivo e não desanima. “Se prejudica por um lado, ajuda de outro. É como se estivesse fazendo academia todos os dias: no começo a gente sente mais, mas depois acostuma. Até o braço fica mais rígido e o corpo fica melhor”, brincou a gari, completando que o trabalho não acaba quando termina. “Porque tem o trabalho em casa também, né?”.

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Valeria é carioca e viu na profissão uma chance de crescimento. “Quando cheguei aqui (na cidade), trabalhei como balconista e soube que os garis ganhavam um pouco mais do que eu ganhava naquela época. Me interessei, procurei a empresa e me tornei funcionária. Minha ideia era dar uma vida um pouco melhor aos meus filhos, mas nem imaginava que tudo mudaria”.
Hoje, oito anos depois de se arriscar numa profissão que, até então, era desconhecida até mesmo para ela, Valéria disse ter melhorado até mesmo na questão intelectual. “Quando entrei, eu tinha só a 5ª série e a empresa me proporcionou estudar, terminei os estudos e completei com técnico de enfermagem no ano passado. Me tornei outra pessoa, com outro objetivo e muitos conhecimentos por causa da empresa. Mesmo sendo uma gari, eu sou muito feliz com o que eu tenho”, comentou.

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Valéria que, tem quatro filhos, disse que nunca teve preconceito com a profissão e que isso se reflete também em casa. “Nunca tive vergonha. Tem gente que fala que pensa em entrar “nisso daí”, mas não é “isso daí”, é um emprego digno, uma profissão importante. Meus filhos sempre me olham e comentam com os amigos que a mãe deles é uma gari. Eles sentem orgulho de mim e reforçam isso às outras pessoas. É uma profissão não reconhecida para os outros, mas que dá o sustento da minha casa e que fez com que a nossa vida mudasse bastante”.

Carla acompanhou uma de suas funcionárias. Foto: Divulgação.
Carla acompanhou uma de suas funcionárias. Foto: Divulgação.

Emoção compartilhada

Assim como na rua, também passa despercebido quem trabalha na limpeza de outros lugares. Atuando num hospital de Curitiba, Carla Rocha dos Santos, de 39 anos, supervisora de limpeza, percebe o quanto os profissionais são esquecidos pelas pessoas. “Digo que 90% do tempo. A gente só é lembrado quando acontece alguma coisa de errado. Tirando situações em que precisam da gente, a profissão ainda é uma área que as pessoas precisam aprender a valorizar”, comentou a mulher, que trabalha no hospital há cinco anos e é responsável por 35 funcionários da limpeza, apenas dois deles homens.

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Na sessão de fotos, Carla era a única supervisora e, além de observar uma de suas colegas de trabalho, teve a chance de ouvir ainda mais histórias. “Isso me fez repensar num paralelo com o que eu já vivo. No hospital, já conheço praticamente toda a vida dos funcionários que eu cuido, mas o que vivi naquele dia me fez ter um olhar ainda mais humano. Sempre busquei não ser uma chefe, mas sim uma líder, até porque na função em que estou, as mulheres me ensinam muito mais do que eu aprendo”.

Junto com Carla, a servente Roseli do Rocio Silveira Campos de Assis, 50 anos, teve seu momento especial. “A gente se acostuma a fazer o nosso trabalho sem que as pessoas percebam que estamos ali, não ligo, pois sei que estou fazendo algo digno. Mas o mais legal é sentir que meus filhos sentem orgulho da mãe que eles têm”, revelou a mulher, que além dos quatro filhos, tem três netos. “Luto muito, desde sempre”.

Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação.

Homenagem bem feita!

A sessão de fotos não foi só um momento de fazer as mulheres pararem para olhar para si mesmas, mas também um momento de muita emoção que atingiu todos os envolvidos no projeto. “Nas fotos, durante o trabalho, elas estavam mais sérias e contidas, mas no dia do estúdio, demonstravam felicidade, lembrando que são mulheres deslumbrantes, cada uma com suas histórias, verdades e desejos”, comentou Sérgio Rubens Sossella Filho, fotógrafo responsável pelo trabalho.

A gari Valéria, que gosta de tirar selfies, definiu seu momento como um dia de princesa. “Nunca tinha feito uma sessão de fotos. Foi um presente pra gente, um incentivo a mais para continuarmos nos cuidando. Levantou ainda mais a autoestima e me fez ver como a gente muda com uma maquiagem bem feita, o tratamento e os cuidados certos. Viramos outras pessoas e me senti uma diva”.

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Valorize e se valorize!

Foto: Gerson Klaina.
“Um agradecimento ou um simples ‘bom dia’, muda o nosso dia”, disse Valéria. Foto: Gerson Klaina.

O trabalho dessas mulheres costuma não ser fácil, mas tudo sempre compensa para elas. “Compensa ainda mais quando algumas pessoas chegam e agradecem pela limpeza que fazemos. Afinal de contas, o nosso trabalho é uma função que só é percebida quando você precisa, a importância só é reconhecida quando falta a limpeza, por qualquer motivo que seja. Um agradecimento ou um simples ‘bom dia’ muda o nosso dia”, finalizou a gari Valéria Ribeiro de Lima.

Do hospital, a servente de limpeza falou para o mundo: “Sempre dizem que a mulher é o sexo frágil, né? Mas as pessoas se enganam. Mulher é o sexo forte e é assim que a gente deve se considerar. Às pessoas, sobre nossa profissão, peço apenas para que olhem para a gente com respeito, pois se não fosse a gente, nada estaria em ordem. Não teria como viver em meio à sujeira”, comentou Roseli do Rocio Silveira Campos de Assis.

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Durante todo o mês de março, a partir de hoje, as fotos dessas mulheres guerreiras vão ficar em exposição na sede do Siemaco, que fica na Rua Duque de Caxias, 191, no São Francisco, em Curitiba. Além disso, especialmente neste Dia Internacional da Mulher, o sindicato vai distribuir rosas às trabalhadoras que passarem por lá. Mas e você: já agradeceu hoje alguma mulher por ela simplesmente existir? Faça isso sempre. E feliz dia da mulher!

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Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

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