Estamos doentes

Você já ouviu falar de uma doença chamada “atestadite”?

É uma pergunta justa. Afinal, estamos em um país em que a malandragem parece transpirar por todos os poros.

A atestadite é um grave transtorno moral, no qual muitos pacientes simulam um mal-estar qualquer para não ir ao trabalho. Sistematicamente, visitam os consultórios com um único propósito: conseguir atestado médico.
Enxaqueca, diarreia, labirintite… as queixas costumam ser de difícil comprovação clínica. Parece coisa pouca, mas é uma vergonha que acaba escancarando algo bem maior, que é o caráter de todo um povo.

Tempos atrás, um homem procurou a emergência do pronto-socorro relatando ter sido assaltado por dois rapazes. Entre lágrimas de crocodilo, ele jurou que havia sido espancado. O esforço valeu a pena, pois acabou recebendo um atestado para três dias.

Na mesma semana, a diretoria clínica do hospital recebeu um e-mail da empresa do sujeito, questionando o atestado fornecido. Caro leitor, olha só o tamanho do relaxo. Na frente do número 3, o cara desenhou o número 1. E a palavra “três” acabou virando um curioso “trêse”.

Agora calma, porque tem mais. Além da façanha de transformar um atestado de três para “trêse” dias, o esperto fez essas alterações com caneta azul, sendo que o médico havia escrito o texto original com caneta preta.

Este celebrado jeitinho brasileiro, visto por tantos como uma espécie de charme, é o câncer que se alastra e condena todo o país.

Ninguém quer ver, mas estamos doentes.

Moralmente doentes.