Padaria centenária de Curitiba tem doce exclusivo com muitas camadas

Se todos os lugares que trabalham com alimentação em Curitiba formassem uma grande família, um lugarzinho especial poderia ser considerado como a “vovó” carinhosa, que prepara os melhores doces e tortas, aquela que sempre espera os netos com um bom cafezinho. Esse lugar é a centenária Padaria América, cheia de histórias e sabores.

A padaria sempre foi conhecida pela sua famosa broa de centeio, acompanhante principal da tradicional Carne de Onça, prato típico paranaense. O petisco mais famoso dos bares da capital pede uma cerveja geladinha. E é aí, da cerveja, que nasce a história dela.

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A família Engelhardt, fundadores da Padaria América, começou a empreender em Curitiba no ano de 1882, quando o alemão Friedrich Philipp Ludwing Eduard Engelhardt fundou a primeira cervejaria a vapor da cidade.

Eduardo, filho de Friedrich, fundou a primeira padaria da família, em 1913. Nessa época, funcionava como um armazém de secos e molhados. A padaria ficava na esquina das ruas Alferes Poli com Sete de Setembro, ao lado da cervejaria. Naquela época, não havia fermento industrializado. A padaria então usava a levedura de cerveja para produzir pães.

Um ano depois, a padaria mudou de endereço. Ela foi para a esquina das ruas Paula Gomes e Trajano Reis. Aí então ela recebeu o nome definitivo: “Padaria América”. A atual Trajano Reis chama-se Rua América naqueles tempos. Por isso o nome.

Eduardo e Elsa fundaram a Padaria América. Deles, nasceu Evaldo, que herdou todo o conhecimento da padaria. Anos mais tarde, o filho de Evaldo, Eduardo, o neto, passou a administrar o negócio da família. Receitas, criações e preparos foram passados por gerações.

Torta exclusiva e centenária

Entre tantas tortas, pães, broas e doces, uma em especial tem receita centenária, sabor especial e exclusividade da Padaria América. É a torta Aída. “Ela foi trazida por uma cliente do meu avô. A receita original leva nove camadas de pão de ló, creme amanteigado, nozes e chocolate”, conta o proprietário Eduardo Engelhardt. Ela é mais sequinha que um bolo normal, mas não deixa de ter um sabor único.

Torta Aída. Foto: Átila Albrti / Tribuna do Paraná.

“Para servir no café, a fatia fica muito alta. Então, a maneira que encontramos foi diminuir as camadas. A versão hoje tem seis chapas”, explica o proprietário. Semanalmente, Eduardo produz entre 7 e 10 tortas.

Eduardo é quem prepara todos os dias a exclusiva torta Aída. Trabalhosa, o doce leva pelo menos dois dias para ficar pronto. A fatia no café, que é servida somente na Padaria América da sede do São Francisco, custa R$ 17,50. A torta também pode ser encomendada, com preço de R$ 139 o quilo. As duas outras unidades da América, Bacacheri e Água Verde, oferecem a torta apenas por encomenda.

Patrimônio Imaterial de Curitiba

Se a torta Aída é exclusividade, o produto principal da Padaria América está em processo de ser Patrimônio Imaterial de Curitiba. A broa de centeio também pode ser um dos primeiros produtos da capital a receber o selo de Indicação Geográfica do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). As duas certificações estão em processo.

A chancela IG garante ao produto a originalidade de um local, região ou país. Assim como a bala de banana de Antonina e o Barreado do Litoral do Estado – que são alguns dos produtos paranaenses que já receberam o reconhecimento.

Eduardo Engelhardt. Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

Por que a broa é tão especial?

Sabe quando existe um apego, uma memória afetiva com um prato ou receita? Um bolo de fubá com erva doce pode ser uma lembrança gostosa da infância, aquele salgado da cantina da escola um sabor de recreio. A broa de centeio da Padaria América é memória afetiva para dezenas de famílias de imigrantes que vieram para Curitiba.

“Alemanha, Polônia, Ucrânia. Os imigrantes desses países que chegaram até aqui consumiam a broa nos países deles. Veio esse costume com os imigrantes. O trigo, durante muitos anos, era considerado artigo de luxo. Para refinar o trigo, misturava outros grãos, para se ter mais fartura”, explica Eduardo.

A broa de centeio é mais natural que o pão de trigo refinado, branco. “Tem fibras, tem uma cadeia do glúten diferente. É melhor na digestibilidade. Tem vários benefícios”, revela.

Você come a broa da forma que quiser. Com carne de onça, virou prato consagrado de boteco. A broa vai bem com geleias, a chimia, mas é na versão com banha de porco que vira tradição colona. Entre os alemães, broa com banha de porco, sal ou até açúcar por cima. Até um torresminho retirado da lata de banha vai bem.

Na Padaria América, a broa de centeio é o produto mais vendido. Na semana, são vendidas em média 1.200 broas. Para preparar tudo isso, quase meia tonelada de sacos de farinha são desmanchados por dia! A importância da broa? Os números revelam rapidinho. Então, quando passar pelo São Francisco, vale a pena fazer uma pausa pela padaria.

Padaria América – três unidades

A Padaria América abre de segunda a sábado, das 8h30 às 20 horas, na unidade da Rua Pres. Carlos Cavalcanti, 942. Na unidade do Bacacheri, que fica na Rua Estados Unidos, 412, ou no Água Verde, na Avenida Água Verde, 470, o funcionamento é de segunda a sexta, das 9 às 19 horas.

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