Quando um cavalheiro saudava uma senhora, ele sempre tirava o chapéu

O povo antigo era refinado. Não vou dizer que era mais refinado que o de hoje, porque hoje a regra é o sujeito ser mal-educado. Mas antigamente era assim, um homem nunca estendia a mão para uma senhora, ele esperava sempre que ela o fizesse primeiro. A moça solteira levantava-se para cumprimentar a casada, mesmo que fosse jovem. E o homem levantava-se sempre quer fosse para uma mulher casada ou solteira ou mesmo para um colega.

O aperto de mão nasceu na Roma antiga como um emblema de fidelidade e se tornou uma forma predominante de saudação no Ocidente. O aperto de mão era considerado a união dos corações. No Brasil o aperto de mão sempre foi usado com exagero. No entanto, os índios achavam ridículo esse negócio de apertar a mão. Na cidade de Kazan, capital da República do Tartaristão, na Rússia, chegou-se a fundar um clube denominado: “Não apertamos a mão de ninguém”. Em compensação, os russos beijam na boca. Com tártaros e tudo. Eu fico com o aperto de mão.

Antigamente, para cumprimentar alguém na rua, o cavalheiro deveria retirar o chapéu pela aba, se fosse de palha e pela copa de fosse de feltro. Sempre com a mão direita. E mais: tirar o cigarro da boca se estivesse fumando e inclinar respeitosamente a cabeça e o busto. Sem se esquecer de colocar novamente o chapéu, mas sem alisar os cabelos.

Quando um cavalheiro cumprimentava uma senhora, ele se mantinha sem o chapéu. Então cabia a ela dizer: “Cubra-se, por favor, Dr. Fagundes”. O cavalheiro agradecia e colocava novamente o chapéu. Nos cumprimentos de rua não era preciso dizer nada, embora sempre houvesse os que queriam ser mais agradáveis que as normas e diziam: “Bons dias, minha senhora”, “Como vai, Senhor Comendador?” entre outras manifestações efusivas.

O certo é que estas gentilezas deviam ser feitas nas ocasiões oportunas e não no meio do turbilhão das ruas que as tornavam grotescas. Outra coisa: entreter conversação com senhoras na rua era de uma deselegância sem fim. Estes colóquios eram reservados para uma sala de chá, nos clubes ou nos footings. Numa rua comercial ou numa entrada de loja, eram considerados incômodos, incorretos e grotescos.

Quanto ao beija-mão, manteve-se durante muitos anos no Brasil como prova de respeito. Na escravidão era sinal de humilhação, mas nos salões era questão de fidalguia. Hoje o beija-mão perdeu a sua pompa, foi devorado pelas atitudes modernas. Hoje estas coisas são ultrapassadas. Eram do tempo em que havia boas maneiras.