Nunca chame um gordo de forte

Meu amigo Alfredo Nascimento é jovem, bem disposto, humorado, inteligente, atleticano e gordo. ‘Exatamente. Eu sou gordo, não me chame de forte, nem de robusto. Gordo é gordo. E ponto final‘. Foi o que disse com a legitimidade de quem não é magro. E aconselhou: ‘Gordo é como mulher que não é bonita. Não tente agradar, que ela não gosta. Não a chame de bonitinha ou simpática. Estragou. Ela sabe que é prêmio de consolação. Ninguém gosta disto‘. Segundo Alfredo, o galanteador desajeitado estragou o dia da moça. Ela não vai esquecer. Para não complicar, diga que ela é inteligente, elegante, competente, alegre, alto astral, otimista, etc. Toda pessoa, por mais estranha, tem alguma qualidade. Fique com ela. E esqueça o resto.

Mas Alfredo é da teoria do fat power. Ele enumera 2.500 pessoas gordas que foram importantes para a humanidade e é capaz de juntar outras 2.500 magras que tornaram o mundo pior. Hitler, por exemplo, era magro. Churchill que ajudou a livrar o mundo do nazismo era gordo. Assim como Fernando Collor de Mello era magro e esbelto quando presidente – e ainda hoje é. Getúlio Vargas era baixinho e gordo. Alfredo não exagera no futebol: jogador de futebol não pode ser gordo. Quer dizer, muito gordo. Porque Coutinho era gordo e foi o maior companheiro de Pelé. Um craque. O ponta-esquerda Edu era gordo e foi craque.

Até Neto do Corinthians era gordo e craque. Ronaldo foi um fenômeno de gordura e de futebol. Maradona foi gordo, parrudo, baixinho e metido a besta – mas craque. Este moço do Goiás, o Walter, está fazendo gols a granel. Ele é gordo – gordinho é ofensa. É cobiçado por vários clubes. Orson Wells era gordo e gênio do cinema. Na literatura, basta o caso de G. K. Chesterton. Se eu deixasse, Alfredo me convencia que os magros são uns bananas e os gordos são todos bacanas. Ele foi embora e eu fiquei pensando no assunto.

Porque na vida é assim. Um gordo quer ser chamado de gordo, mas têm outros dez que não querem. Pela teoria do Alfredo, chamar gordo de forte, rechonchudo, cheinho, parrudo, robusto, grandão, é ofensa. É quase certo que outros gordos concordem com ele. Mas Alfredo não se ofende em ser chamado de gordo – ao contrário, prefere assim. O diacho é que muitos gordos se ofendem se forem chamados de gordo. Claro que balofo, ossos largos e outros nomes que procuram denotar afeto ou bom humor, acabam sendo ofensivos.

Outro amigo, Adriano, acha que Alfredo tem razão. Ele tem uma explicação plausível para esta profusão de adjetivos. ‘Acho melhor chamar gordo de gordo porque na tentativa de encontrar outra expressão, na realidade a pessoa se expõe, revelando achar que não pode chamar gordo de gordo porque ela acha que gordo é uma palavra feia ou um perfil estético ofensivo. Ou seja, quem acha gordo feio é quem usa expressões que acreditam ser atenuantes e servem apenas para revelar preconceito‘, diz ele. Pode ser. Eu fico com a versão da Chris. É melhor chamar a pessoa pelo nome e não fazer referências ao peso – nem perguntar se ela vai fazer regime. Afinal, em sociedade todo cuidado é pouco e você pode cometer suicídio social, por ser sincero demais. E pode ser um chato se tentar ser criativo.