Esse som alto é uma droga

Eu acredito que esta maldita mania de alguns sujeitos colocarem um verdadeiro arsenal sonoro em seus carros e sair pelas ruas da cidade bombardeando com bombas de decibéis os ouvidos de quem não tem o menor interesse naquele tipo de música e muito menos em som naquela altura seja uma situação análoga a de um drogado. A droga acaba com a vida da pessoa, transforma o viciado num bagaço humano e leva sofrimento para quem vive ao lado – família, amigos e conhecidos. Neste caso, principalmente os desconhecidos. O drogado acha que ele tem razão e quando percebe que não tem, não consegue sair do buraco. Neste caso, ele não quer sair.

O mais absurdo nesta situação é que estes caras sabem o que as pessoas ao redor pensam deles. Que eles são uns malucos mal educados que acham que o fato deles serem eventualmente surdos significa que todo mundo ao redor também seja. Eles precisam ser notificados, talvez pelo poder público ou por alguém de direito, que eles despertam instintos assassinos em pessoas normais porque elas não suportam este abuso sonoro, em nome de seus eventuais estados de exaltação interior. E se estas pessoas acham isto normal, elas são umas viciadas em poluição sonora que precisam urgentemente de um tratamento psiquiátrico num sanatório.

As pessoas que usam este recurso invasivo precisam ser informadas de que a rua é um território coletivo e não propriedade privada e se elas gostam da droga de música numa altura insuportável, e não querem curar este vício, que pelo menos não arraste quem não quer padecer com a porcaria que lhes causa prazer. Ainda se fosse a Quinta Sinfonia de Beethoven ou Messias de Haendel, o argumento continuaria o mesmo: o volume. Mas tem a agravante: é uma porcaria de bate estaca de construção civil que algum lunático gravou e disse que é música e estes tontos acreditaram. Alguém pode dizer que isto é um problema geral e acontece em todas as cidades. Tudo bem, mas eu acredito que o curitibano médio não tem o menor interesse em ficar surdo.

É uma situação tensa quando um destes carros para no semáforo, todo mundo ao redor fica a ponto de explodir e o sujeito com aquela cara de quem se diverte à custa do desespero alheio. Isto é covardia. Ele confunde direito de propriedade sobre o carro e o amplia às ruas da cidade por onde passa. Isto é crime ou doença – talvez os dois. O sujeito é viciado nesta porcaria e precisa se tratar ou ele teve os tímpanos extirpados por algum médico nazista. Este problema se agrava nos fins de semana. E ele também consegue acabar com as férias de muita gente.

As praias freqüentadas por paranaenses em nosso litoral ou em Santa Catarina, no fim de ano, parecem se transformar em convenção de lunáticos. Ouvir música é algo que a humanidade desenvolveu para ser um ato prazeroso e não instrumento de tortura coletiva. Quando um carro armado com aparato sonoro de arrebentar os tímpanos passa por perto eu não posso pensar em outra coisa que não seja uma nova forma de fascismo. Ou uma espécie de viciado num tipo de droga. Não podemos esquecer que droga é tudo aquilo que aparentemente produz bem estar pessoal, mas faz um mal danado para o organismo próprio e que acaba desestabilizando as pessoas ao redor.