Ele é louco por veículos militares

Todas as cidades do mundo têm tipos originais que contrastam com o restante da sociedade – não falo de malucos, mas de pessoas normais que gostam de levar uma vida diferente das outras. Em Curitiba a cota de pessoas não convencionais é generosa. Um destes tipos é Paulo Kügelgen, conhecido pela alcunha de Taquara e que mora perto do Estribo Ahú. É um sujeito simpático e prestativo. Na quinta-feira à noite, por exemplo, ajudava algumas pessoas nas Mercês a tirar troncos de árvores que caíram sobre as ruas do bairro, durante o temporal. Ele é especialista em assuntos gerais. Uma espécie de Batman, sempre pronto para uma missão inesperada, ainda que não espetacular.  

Já criou tucano, vendeu chinchila, adestrou rã, montou Jeeps, fabricou baleiros e lanternas de carros antigos, sem contar que se for preciso trabalha na organização de eventos e mais uma dezena de atividades. Ele tem mania de restaurar coisas. Um dia botou os olhos na carcaça de uma pata choca (espécie de camioneta militar), que foi um Dodge nos anos 40, com motor diesel, feito para usar na guerra. A antiquidade estava em um ferro velho militar no Rio Grande do Sul, à venda, por importância que é irrelevante revelar. Além da lataria, não tinha nada.

Kügelgen comprou a carcaça e anunciou: “Eu vou montar a pata choca e ela vai ficar nova e bonita”. Por mais que eu o conheça, achei que não conseguiria. Isto foi no final de 2010. Ele foi paciente. Primeiro arrumou motor para a carcaça, depois pneus e lentamente, como num quebra-cabeça, remontou a pata choca. Que ficou pronta em agosto de 2011. Ele mostrou o veículo militar, com pintura verde musgo, os militares ficaram fascinados. Porque a pata choca ganhou vida. Funcionava. Peguei carona no veículo e nos semáforos as pessoas perguntava fascinadas: “Onde você achou isso?”. Ele respondia: “Eu montei”. E era verdade.

Quando Kügelgen botava roupa verde, recebia continência até de quem não era militar. Se os Estados Unidos tinham o Capitão América, ele encarnou o Capitão Curitiba. E foi convidado para desfilar no Centro Cívico no dia 7 de setembro. Se ele não foi à guerra, ao lado dele estava um orgulhoso veterano pracinha que participou da Segunda Guerra Mundial. A pata choca virou atração por onde passa, porque é um veículo antigo, mas funciona como novo; é um veículo originariamente militar, mas agora de uso civil; é rústico, diferente e tem função de pequeno caminhão – é útil.

Hoje, numa sociedade padronizada, ser diferente, vamos ser redundantes, é um diferencial. Kügelgen se orgulhou da façanha e quando terminou ele tratou logo de botar mais mostarda em sua vida: comprou outra carcaça de pata choca. E está montando. Os amigos estão preocupados. Neste ritmo, ele terá em casa uma unidade militar motorizada. Mais preocupado fiquei quando eu o vi dia destes olhar no catálogo de uma unidade do exército o que sobrou de um tanque da Segunda Guerra Mundial. Os olhos de Kügelgen brilharam. Eu deduzi que ele ficou com vontade de comprar aquilo para montar, se é que estava à venda. Mas empacou em dúvidas: o que iria fazer com o tanque, onde estacionar e como andar pela cidade sem assustar as pessoas – ou sem provocar acidentes. Mas eu acho que ele ficou com vontade de comprar o tanque.