Dois problemas e nenhuma solução

Está cada vez mais difícil andar de carro pelas ruas da cidade – principalmente as dos bairros centrais. Andar de carro, uma expressão incorreta porque andar pressupõe ir com as próprias pernas e não de automóvel. Mas, mesmo assim, está difícil porque a cada ano as fábricas despejam milhares de carros nas ruas de Curitiba e as ruas, pobres ruas, não se multiplicam na mesma velocidade e, assim, ficam cada vez mais apertadas. Resumo da ópera, qualquer grande físico ou qualquer analfabeto sabe: se você entope determinado espaço e não o amplia ele vai ficar pequeno para todo mundo. É o que acontece com as ruas da cidade.

Chega a ser um crime contra a coletividade a falta de soluçäes para este tipo de problema que deveriam ser tomadas pelos administradores e não foram ao longo dos últimos 18 anos. Dizer que o problema deve ser resolvido urgentemente pelo atual prefeito é no mínimo uma irresponsabilidade: é como querer tirar uma montanha de entulhos acumulados por 16 anos de um dia para o outro. Com o agravante de que a cada dia o problema ia ficando maior e a sua capacidade de solução cada vez menor. Aí está um grande pepino para ser descascado. E como poucos gostam de pepinos, ele vai apodrecendo. Isto, naturalmente, não isenta os atuais gestores municipais de ignorar a questão.

O mais bizarro e contraditório nesta história é que a cada ano se produz cada vez mais carros e ainda mais bonitos. Podem fazer os carros mais lindos do mundo, se não tiver ruas e também estradas, eles vão ter que ficar na garagem. É uma lei da física e não adianta fazer beicinho. É o que vai acontecer em poucos anos. Ou se acha mais ruas ou fórmulas para eles trafegar ou parem de fazer novos carros. Não tem mais ruas, não tem mais estacionamentos, não tem mais espaço para eles. É tão simples que parece absurdo que ninguém se atentou para este grave problema.

Outro grave problema, tão grave quanto o primeiro, o dos carros, é a questão do transporte coletivo. Os mesmos responsáveis pela gestão pública – talvez fosse mais prudente dizer irresponsáveis – não fizeram nada para melhorar a qualidade do sistema que a cada ano foi também sucateado. Andar de ônibus hoje em Curitiba é um tormento. E pensar que há 20 anos, a cidade era exemplo mundial no setor. Todo mundo vinha para Curitiba e ficava besta com a qualidade do transporte coletivo. Os gringos ficavam pirados.

O que aconteceu foi que, por falta de soluções nos últimos 20 anos, a cidade foi lentamente acumulando problemas que agora viraram um desafio do tamanho de uma montanha. A solução é complicada e não pode depender – como muitos julgam – de paliativos custosos, mas de pouco impacto na mobilidade urbana, como o metrô. Curitiba é uma bela cidade. Mas uma cidade é como uma mulher bonita. Se ela não for bem cuidada, não receber o carinho merecido, ela vai ficando cada vez mais desajeitada, gorda e insuportável – e Curitiba hoje está assim, gorda de carros e com suas veias entupidas de um colesterol viário que se não for combatido vai levar a um infarto urbano em poucos anos. Sem contar que o fluxo de pessoas pelas artérias de seu sistema de transporte coletivo é hoje digno de um cardíaco a ponto de ter um troço.