Como o Japão reinventou o tempo e tornou-se o ‘império da eficiência’

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Nos idos de 1980, a indústria automobilística Japonesa estava com tudo. O mercado mundial estava inundado de carros japoneses, cujo design era, para a época, inovador e atraente, a qualidade era acima da média de seus concorrentes e, curiosamente, o preço abaixo. Na verdade, a indústria japonesa estava vários passos à frente dos seus principais concorrentes norte-americanos.

Um estudo feito em mais de 90 fábricas em 17 países sobre produtividade na indústria automobilística mostrou o impressionante caso de duas plantas fabris, uma da Toyota no Japão, e outra da General Motors (GM) nos EUA.

Os japoneses eram aproximadamente 50% mais rápidos do que os americanos para montar um carro, ocupavam menos espaço no chão de fábrica, com menos da metade dos defeitos dos americanos e, ainda, não acumulavam estoque para mais do que 2 horas de produção! Incrível.

Fábrica Toyota (Japão) GM (Estados Unidos)
Horas de montagem por carro 16 31
Defeitos de montagem (a cada 100 carros) 45 135
Espaço de montagem por carro (m²) 0,45 0,75
Tempo médio de estoque de peças 2 horas 2 semanas

Tabela adaptada do livro “A máquina que mudou o mundo”, de James P. Womack, Daniel T. Jones e Daniel Roos.

O estudo tinha como objetivo, justamente, identificar o que é que os japoneses tinham a mais que os americanos, além de carros melhores, mais baratos e uma produção mais eficiente. Não surpreendentemente, as conclusões do estudo apontavam para o fato de que, na verdade, os japoneses faziam coisas a menos do que os americanos: menos desperdício!

Apesar de terem sido os pais da indústria de produção em massa, os americanos não acompanharam a mudança de paradigma introduzida pelos japoneses que, mais tarde, veio a ser chamada de “produção enxuta”, ou, em inglês, lean manufacturing.

A grande sacada dos japoneses foi dedicar esforços para estudar a produtividade dos trabalhadores, seres humanos, e desenvolver um método sistemático para eliminar desperdícios. A revolução causada no jeito de pensar introduzido pela produção enxuta foi tanta que mudou não somente a forma de encarar a produtividade no ambiente da manufatura, mas toda a nossa abordagem sobre o VALOR DO TEMPO.

Ao extrapolar o raciocínio além dos galpões da indústria automobilística, buscando sempre a redução nos desperdícios de recursos e a eficiência de processos, a sociedade humana havia criado uma espécie de “receita mágica” para estar cada dia mais perto da perfeição, pelo menos do ponto de vista de uso dos nossos recursos.

O método, que hoje é conhecido por alguns estudiosos da Administração e da Engenharia de Produção como o “Sistema Toyota de Produção” baseia-se em 4 pilares: resultados diferentes exigem ações diferentes, documentar e padronizar ações ao máximo, estabelecer metas para eliminação de desperdícios e testar hipóteses de melhoria segundo método científico.

Essa abordagem é extremamente vencedora do ponto de vista de gestão de tempo, eliminação de atividades inúteis e aumento da produtividade e da qualidade de vida. Vejamos a seguir:

Resultados diferentes exigem ações diferentes.

– Ora, como é que você espera ter tempo para aproveitar a vida em família, praticar mais atividades físicas ou mesmo se engajar com uma segunda carreira se continua agindo da mesma forma? Fazendo suas atividades e tarefas da mesma forma que fez a vida toda?

Documentar e padronizar ações ao máximo.

– Essa é contra intuitiva, mas é só fazendo um registro mais preciso sobre o uso dos nossos recursos que podemos enxergar onde é que estamos investindo esses recursos ou, os desperdiçando! É imprescindível controlar o uso do tempo para poder tomar melhores decisões a respeito deste recurso.

Estabelecer metas para eliminação dos desperdícios.

– A ideia aqui é que, depois de controlar os recursos de uma forma mais precisa, você crie metas, de preferência quantitativas, para eliminar desperdícios. Falando sobre o tempo, as metas poderiam ser: semana que vem vou tentar cumprir minhas tarefas no trabalho antes do fim do expediente.

Testar hipóteses de melhoria seguindo o método científico.

– Aqui é o COMO fazer para cumprir as metas estabelecidas. O método científico parte da premissa de que, após levantar uma hipótese sobre algum fenômeno observado, esta deve ser posta à prova a fim de ser confirmada ou refutada. Por exemplo: será que se eu apagasse o Facebook do meu celular me distrairia menos no trabalho e conseguiria ser mais produtivo? Bom, só tem um jeito de saber, não é mesmo?

Aí você pode estar pensando: “ok, legal essa história de manufatura enxugada ou sei lá o que. Mas como é que eu APLICO isso para ganhar umas horinhas a mais na semana?!”.

Bom, tenho certeza de que a internet está cheia de ótimos materiais gratuitos com várias técnicas para aplicar o pensamento da manufatura enxuta e eficientizar o seu uso do tempo. Vou sugerir nosso canal no YouTube como um ponto de partida. Cada vídeo é curto e direto ao ponto, mostrando uma ideia ou técnica a ser aplicada no dia-a-dia para liberar horas preciosas para você fazer o que quiser.

A questão é que os japoneses da produção enxuta (e hoje o mundo todo) efetivamente TESTAVAM a hipótese levantada, ou seja: criavam um plano de ação para, bom, agir! Se a hipótese levantada não melhorasse em nada a produção, eles partiam para a próxima, até a hora em que conseguissem melhorar a produtividade. Depois, incorporavam essa nova forma de fazer as coisas para sempre, até que alguém descobrisse uma forma melhor.

Experimente começar com uma ação por mês para eliminar desperdícios de tempo, crie um plano de ação para colocá-la em prática e monitore seu progresso. Foi assim que os japoneses reinventaram o tempo.