Nesta semana, comemora-se 30 anos da estreia da novela Roque Santeiro (1985). Para muitos, o maior fenômeno da televisão brasileira. Mas, na verdade, a novela seria exibida em 1975 pela Globo. Ou seja: dez anos antes. Com vários capítulos e chamadas gravados que anunciavam a estreia, o diretor Daniel Filho conta que a emissora recebeu ofício do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), do governo federal, censurando a novela minutos antes do primeiro capítulo. Para quem não se lembra, estávamos em meio à Ditadura Militar.
O motivo seria uma escuta telefônica de uma conversa do autor Dias Gomes em que ele afirmava que Roque Santeiro era apenas uma forma de enganar os militares, adaptando o livro O Berço do Herói para a televisão, com ligeiras modificações que fariam com que os militares não percebessem que se tratava da mesma obra. No dia da proibição, Cid Moreira leu no Jornal Nacional um editorial assinado pelo então presidente da Rede Globo, Roberto Marinho, anunciando o veto.
Em diversas oportunidades, Daniel Filho relatou que a notícia caiu como uma bomba no elenco e produção. “O elenco tinha sido escalado a dedo: Lima Duarte, Betty Faria, Francisco Cuoco… Gravamos 36 capítulos e começou uma onda de que a novela seria proibida. Isso foi uma semana antes da estreia. Então, eu parei as gravações e nós ficamos aguardando, até que chegou a informação definitiva de que Roque Santeiro não poderia ir ao ar. A gente se abraçou e chorou”, contou em entrevista ao projeto Memória Globo, em 2010.
Com a proibição, a saída foi uma reprise de Selva de Pedra (1972) para preencher a lacuna deixada pela esperada novela das 20h. Um capítulo da televisão brasileira que merece ser lembrado para que não seja repetido.