Futebol é raça

A Alemanha mostrou ao mundo Espanha e Itália, especialmente que a Coréia não precisa de um grande time para ser derrotada no próprio quintal: basta um bom juiz e um adversário bem feijão com arroz, sem outros temperos exóticos.

No início da semana, o holandês voador Johan Cruiff declarou no Japão que hoje estaria torcendo contra o Brasil. Segundo o ex-craque, a família Scolari pratica um futebol muito pragmático.

Vizinho de cerca, parece que o Cruyf não conhece o futebol tedesco. Pragmático é o futebol da Alemanha. Tão pragmático, que é de um literato alemão, Friedrich Schiller (1759-1805), a tese de que “a verdade de uma doutrina consiste no fato de que ela seja útil e propicie alguma espécie de êxito ou satisfação” (As aspas servem pra deixar bem claro que tamanha erudição é do Aurélio. Apenas copiei/colei).

Esse tedesco Schiller, se nosso contemporâneo, bem podia ser cronista esportivo. Ele diria: – Futebol não é nenhuma caixinha de surpresas. Começa com um senhor goleiro, quatro beques parrudos e o resto é só cruzar pro chuveirinho. Oito a zero ou um a zero, tanto faz, importante é não levar gol, fundamental é vencer. E que o esquema tático propicie alguma espécie de êxito ou satisfação.

Não vamos nos enganar com o jogo de hoje, torcida brasileira: pragmáticos também são os nossos “brimos” turquinhos. Eles não vão deixar barato, vão pechinchar, devem negociar muito, antes de entregar mercadoria para o Felipão. Isso, veja lá, se entregarem! Qualquer pedestre que cruza a Praça Tiradentes bem sabe: “bra turquinio da lojínia” não tem bola perdida. Na bola dividida, sempre saem ganhando.

Na Praça Tiradentes, Rua Riachuelo e adjacências, teremos na manhã de hoje uma torcida silenciosa, bem na moita se houver moita na Praça Tiradentes -, torcendo, não contra o Brasil, mas sim pela vitória da Turquia.

Esses torcedores na moita, não são turcos, como convencionou-se no Brasil. São eles os “brimos” libaneses. Eles devem torcer hoje pelos turcos como uma espécie de tardia vingança. Como se um gol do Hasam Sas fosse um grito de desforra:

– Aprenderam agora? Turcos são eles, nós somos e sempre fomos libaneses, torcida brasileira!!!

A Turquia invadiu o Líbano em 14 e lá ficou até 1918. A grande leva migratória de libaneses para o Brasil ocorreu nessa época, todos com passaporte turco. Daí que nós brasileiros passamos a chamar os libaneses de turcos, não importando o tamanho do nariz.

Mas essa vingança dos libaneses, com todas os motivos históricos para torcer contra a Turquia, não deve acontecer. Hoje vingaremos, isto sim, os invasores turcos e venceremos domingo os tedescos. Um povo cuja maior invenção – depois da Marlene Dietrich – não foi o chope, como se imagina.

Foi feita uma pesquisa em Munique para saber qual a maior invenção dos alemães. Quando perguntaram pro Fritz, ele respondeu:

– Foi o chope!

– O chope não vale, seu Fritz. É uma bebida que não pode ser atribuída somente aos alemães. Os belgas, por exemplo, se consideram os pais da matéria.

Fritz pensou, pensou e respondeu:

– Se não é o chope, então foi a bomba do chope!

E ficamos assim. Se hoje fizermos um bom negócio com os turquinhos um a zero, pechinchando – até domingo, com muito chope alemão na bomba do Roberto Carlos.