A guerra santa

(Roma) – O Estado de Santa Catarina está envolvido numa outra guerra do Contestado. Sem a presença de um monge fanático, para a felicidade de nossas Forças Armadas. Dessa vez o adversário não é o Paraná, como foi no início do século passado, por questões de fronteira. Agora a desavença é com o poderoso Estado de São Paulo e o motivo é um possível monopólio religioso, que transcende as fronteiras da fé.

Ainda no avião a caminho de Roma, um deputado catarinense ouviu do governador Aclkmin, de São Paulo, a notícia de que os paulistas pretendem erguer em São Paulo um monumental santuário para Santa Paulina, onde os restos mortais da madre estão enterrados. Na poltrona da classe executiva ao lado, dom Cláudio Hummes, cardeal-arcebispo de São Paulo e notório papável, não só apoiou a iniciativa, como também afirmou que os ossos de Santa Paulina não podem ser transferidos para Santa Catarina, como pretendiam os catarinenses. Segundo o arcebispo, uma certa lei canônica impede o translado dos restos mortais.

Assim que desembarcou em Roma, o deputado catarinense narrou a conversa do avião para o governador Esperidião Amin. O marido da prefeita de Florianópolis imediatamente se pôs em pé-de-guerra:

– Não passarão! – declarou o líder catarinense -, já indignado com a pretensão dos paulistas de sair na frente e construir uma gigantesca basílica, no Ipiranga, monopolizando o turismo religioso nacional.

A construção do santuário em São Paulo, antes de Nova Trento, até pode acontecer. Tudo depende da congregação fundada por Santa Paulina. As irmãzinhas até se adiantaram e contrataram um projeto de santuário para o Vígolo, em Nova Trento. Projeto que até foi estampado, na maquete fotografada, em calendários vendidos todo ano junto à igreja do Vígolo.

Um santuário tão enorme, com três pontas – seria a Santíssima Trindade? – avançando para o céu, que ninguém de Nova Trento gostou. Nada a ver com o gosto ou a tradição dos habitantes da “terra do pedreiro”.

Tempo vai, tempo vem, foi só agora, às vésperas da canonização, que o projeto foi abandonado. Em seu lugar está sendo feito outro, por um escritório de Blumenau.

Pelo primeiro projeto, de Brasília, as irmãzinhas tiveram que desembolsar um bom dinheiro. Mesmo assim valeu a pena: se executado, ia ser tão caro que acabaria se tornando inviável. As tais colunas voltadas para o céu, por exemplo, foram projetadas de tal maneira que nem seria possível transportar as peças até a colina do Vígolo.

Depois da guerra do ICMS, está armada a guerra das medalhas e santinhos: a notícia da pretensão dos paulistas rapidamente tomou conta da expressiva delegação catarinense presente em Roma para a canonização. Uns revoltados, outros apreensivos, todos concordam que esta é uma guerra santa e o governador Esperidião Amim precisa erguer a bandeira da construção urgente do santuário de Santa Paulina, em Nova Trento. Ou então os paulistas tomam conta da santa, pois eles são do ramo, como é conhecimento geral da nação. Nossa Senhora Aparecida está aí para provar.

Até sexta-feira e auguri!