A vitória da vida

“Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também”, é o sentimento de Fernando Pessoa. Os meninos que jogam futebol da Tailândia tinham uma vida, que a água estava afogando na caverna Tham Luang. No seu “Pequeno Principe”, Antoine de Saint-Exupéry ditou: “e a vida não tem preço, nós comportamo-nos sempre como se alguma coisa ultrapassasse, em valor, a vida humana”.

Salva a vida, agora os meninos da Tailândia têm um sonho: voltar a jogar futebol. Então, podem recorrer a Fernando Pessoa: “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”.

Vejam só a importância da vida.

Não há nenhum movimento de mídia mundial nesses dias mais forte que a Copa do Mundo. Como se fosse a coisa mais importante, paramos. Não obstante, o mundo relegou a Copa da Rússia a um acontecimento marginal, uma coisa qualquer. Ao invés de torcer por uma bola, por um craque ou por um time, torceu por mais uma vida, pelas treze vidas, todas salvas na Tailândia.

Quando França e Bélgica começaram a jogar em São Petersburgo, o técnico e os meninos jogadores já tinham o direito recuperado a vida e o direito de sonhar.

Tratado como valor, como fato, o jogo passou irrelevante.

Mas foi um grande jogo de futebol. O melhor da Copa.

Os dois melhores times foram iguais. Mas a França não foi o Brasil. A França foi séria, bem ordenada, sem estrela e sem estrelismo. Nem o grande Mpabbé renunciou ao direito de ser um comum. Isolado, foi visto defendendo, marcando e atacando. Se a solução seria por um detalhe, os franceses o procuraram. E aí aconteceu a solução secular, que o futebol criou como um valor como se fosse a salvação da vida: na bola de escanteio, o zagueiro antecipa-se no “primeiro pau”, e marca de cabeça.

Umtiti: França 1×0 Bélgica.