Opinião

Dorival e Autuori são dos poucos que podem ser ouvidos na volta do futebol

Jogadores do Flamengo durante partida no retorno do Campeonato Carioca. Foto: Instagram/Flamengo

O futebol provoca coisas tão extravagantes que esvaziam o conteúdo de verdades.  Sempre que um evento especial ocorre, é regra o jogador ser tratado, ainda, como vítima do sistema.

Não são raras as vezes em que se critica o que se supõe ser verdade, de que “o jogador, que é o mais importante, não é ouvido”. Remeto o fato para uma suposição, porque, em regra, o jogador sempre é ouvido.

No passado, por exercer a profissão de repórter de campo, e por isso, ter uma relação direta com o atleta, eu acreditava: o jogador era refém do clube, em razão de uma lei, submetendo-se a uma espécie de servidão.   

Tinha sentido. Uma das últimas resistências à liberdade plena e absoluta ao exercício do trabalho que existia no Brasil era a do do atleta profissional de futebol. Com a Lei Pelé, as coisas mudaram. 

Agora mesmo, estamos tendo uma prova inatacável dessa verdade: os jogadores do Flamengo não só aceitaram jogar no Maracanã, mesmo conscientes de que teriam que driblar as vítimas do Covid-19, como incentivaram publicamente a volta.

Com salários protegidos por multas milionárias, no pico da crise sanitária, ninguém mais do que eles tinham o poder para exercer ao retorno. Tinham o poder de criar uma conduta padrão de solidariedade e de proteção à classe, exercendo um direito social que é criado para a proteção do homem como indivíduo. 

Mas, preferindo proteger os interesses individuais atrelados aos interesses dos cartolas, estão jogando próximo ao hospital de campanha do Maracanã, onde diariamente morrem pessoas. Então, se continua sendo vítima do sistema por “não ser ouvido”, o jogador é o grande culpado por sua omissão como classe.

Mas, no Brasil, não seria um risco muito grande consultar jogadores para ser adotado um comportamento? Temo que o risco é quase fatal. Entre nós, aqui em Curitiba, tivemos um exemplo recente.

Nenhum clube no futebol brasileiro adota e executa orientações médicas e sanitárias para treinar como o Athletico Paranaense. Investindo pesado desde que voltou aos treinos presenciais, trata os jogadores como crianças de berço.

Mas, eis que um deles, no final de semana, rasgando todos os protocolos foi a uma reunião social, na qual se contaminou. De volta ao CT do Caju, disseminou o vírus para mais 7 profissionais. Todo o seu trabalho e dos contaminados de recuperação foi jogado no lixo.

Quando ouvirem dizer que não se ouve os jogadores, não acreditem. No Brasil, são poucos os profissionais podem ser ouvidos. Dos profissionais, em geral, nessa volta só me ocorrem duas exceções: Paulo Autuori e Dorival Junior.