Veneno em cápsulas

Sandra espera que tomando os mesmos remédios para emagrecer da fórmula que deu certo para sua amiga Camila possa perder 15 quilos. Marina quer encontrar um site para encomendar uma fórmula que deu certo para sua vizinha. Assim, seduzidas por anúncios tipo: ?perca 20 kg em duas semanas? ou em fotos do discutível estilo ?antes/depois?, muitas pessoas, na maioria mulheres, recorrem às ?milagrosas? fórmulas de emagrecimento. A prática está tão difundida no Brasil, que o país é o terceiro no mundo no consumo de cápsulas manipuladas em farmácias.

No entanto, esse conto de fadas pode não ter um final feliz, afinal, essas fórmulas contêm cinco, dez e às vezes 15 substâncias. Os componentes mais comuns são anorexígenos para controlar o apetite, tranqüilizantes, hormônios para tireóide, diuréticos, laxantes, antidepressivos e o que mais a imaginação de um aproveitador, formado ou não, ávido por dinheiro fácil for capaz de criar. ?Se a boa prática médica recomenda cautela ao associar duas drogas, pela dificuldade em prever interações medicamentosas, como justificar essas prescrições mirabolantes?, indaga o endocrinologista Henrique Lacerda Suplicy.

Dependência

Desde 1997, existe uma norma do Conselho Federal de Medicina que proíbe esse tipo de associação. A instrução não permite associar especificamente moderadores de apetite, calmantes, hormônios de tireóide, laxantes e diuréticos com a finalidade de perder peso. Isso porque algumas delas agem no sistema nervoso central provocando perda de apetite, mas trazem conseqüências muito piores à saúde, entre as quais, insônia, ansiedade, tremores, náuseas, alterações do hábito intestinal.

Suplicy adverte que uma das particularidades de quase todas as fórmulas milagrosas presente no mercado é a despreocupação com que são incluídas substâncias nocivas, como os hormônios para tireóide, cujas doses elevadas podem conduzir ao hipertireoidismo. ?Imagine, associadas a toda a essa gama de componentes, os efeitos, com certeza são ainda mais indesejáveis, pois podem causar perda de massa muscular, osteoporose e queda de cabelo, entre outros inconvenientes?, alerta.

De acordo com Suplicy, moderadores de apetite existem no mercado e são receitados normalmente pelos médicos. Por isso, não existe motivo para utilizá-los ?embutidos? em fórmulas. Esses remédios atuam diminuindo a fome ou aumentando a saciedade, fazendo com que a pessoa se sinta mais satisfeita à medida que vai comendo ou, ainda, inibindo a absorção de nutrientes no intestino. ?Nas fórmulas, a quantidade da substância adicionada nem sempre é exata e a associação com outras drogas pode induzir ao vício?, ressalta. O pior para os incautos usuários dessas cápsulas é que eles não têm a menor idéia das drogas nelas contidas. Não existe prescrição. Não existe bula. Os rótulos, muitas vezes, trazem nomes nada esclarecedores como ?Emagrecedor Natural? ou ?Número 1?.

EMAGRECER COM SAÚDE

De acordo com a Associação Brasileira de Estudos da Obesidade, devem ser três as preocupações do médico quando indica um tratamento para perder peso: a redução de peso propriamente dita, a melhora da saúde da pessoa como um todo e a manutenção do peso desejado. Conforme Suplicy, com as fórmulas só se consegue a primeira delas, já que a pessoa volta a ganhar peso e, conseqüentemente, sofre com a saúde debilitada.

Emagrecer sem ajuda não é fácil. Se você não consegue, procure um médico especialista. Verifique a sua capacitação. Desconfie de fórmulas que misturam medicamentos. Emagrecer é um processo lento que depende de reeducação alimentar, atividade física e muita força de vontade.

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