Vaidade além da conta pode causar transtorno dismórfico corporal

É bem provável que você conheça algumas moças nestas condições: bonitas, admiradas pelos rapazes, invejadas por outras garotas, inteligentes, simpáticas, contudo, sempre insatisfeitas com o seu corpo e consigo mesmas.

Invariavelmente, elas já passaram por algum tipo de cirurgia plástica. No entanto, essa “melhoria” só lhes trazem períodos curtos de felicidade. Logo, se privam de tudo.

Olhar no espelho e perceber alguma imperfeição é, na maioria das vezes, bastante normal. No entanto, quando essa percepção extrapola os limites do bom senso, é preciso prestar atenção para um problema que afeta cada vez mais meninas e que pode se tornar bem mais sério do que se imagina: o transtorno dismórfico corporal (TDC), uma doença caracterizada pela preocupação excessiva com a aparência física.

O distúrbio é responsável por causar nas mulheres, principalmente, nas adolescentes, aquela constante preocupação em corrigir defeitos físicos mínimos ou até mesmo inexistentes no rosto.

Não existem dados oficiais, mas estima-se que 17% das meninas sofrem do distúrbio com menor ou maior intensidade, mesmo sem conhecer os seus sintomas. Invariavelmente, o estado físico interfere na capacidade de se concentrar em outras atividades.

O TDC exige tratamento com terapia especializada e, em alguns casos, até medicamentos. “O importante é descobrir se a atenção que a pessoa dá ao corpo é normal, preocupante ou já virou doença”, avalia a psiquiatra Jocelyne Levy Rosenberg, autora do livro “Lindos de morrer – Dismorfia corporal e outros transtornos obsessivos”.

Enxergar o problema

Segundo a dermatologista Annia Cordeiro Lourenço, o paciente com TDC se sente deprimido e envergonhado e acredita que a mudança drástica em sua aparência é um fundamental para a felicidade ou bem-estar.

“A procura por procedimentos que resolvam algo que não existe é um risco, pois o indivíduo exige que seu médico faça um reparo desnecessário que pode acarretar problemas sérios no futuro”, alerta.

Maioria das pessoas desconhece os sintomas do transtorno dismórfico corporal: uma doença que pode ser bem mais séria do que se parece.

Por não aceitar que é portadora do transtorno, a maioria das pacientes não procura um especialista para saber conhecer sobre essa doença que é mais complexa do que parece.

“É difícil de o paciente admitir que possui o TDC”, revela a especialista, salientando que, cabe ao médico tentar esclarecer o diagnóstico e não submetê-lo diretamente a algum tipo de cirurgia e, além disso, é necessário um tratamento psiquiátrico para que ele consiga lidar melhor com o distúrbio e possa enxergar o verdadeiro problema.

Além da estética

É preciso muito cuidado ao tratar o distúrbio. Primeiramente, é essencial a paciente reconhecer que o problema não se encontra apenas na estética. Para a psicóloga Lucy Amoroso, ele pode aparecer camuflado pela ansiedade e se potencializar por meio de outras doenças mentais, como o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), por exemplo.

“As principais queixas são a respeito da assimetria dos olhos, manchas, tamanho da face, cabeça e perda de cabelo”, relata a terapeuta. Nesses casos, o sofrimento é intenso e a pessoa tem dificuldade de controlar suas ações e vontades, pois se imagina imperfeita em todos os quesitos.

Preocupados em serem ridicularizados pela sociedade, essas pessoas deixam de frequentar alguns lugares e adquirem também prejuízos sociais e culturais. A psicóloga conta qu,e algumas deixam de ir à escola, ao trabalho e só saem de casa no período noturno, pois assim não é possível que alguém enxergue as “supostas” imperfeições.

“Isso gera um problema importante, pois o nível dos relacionamentos fica baixo e não permite o seu desenvolvimento”, explica a especialista. De acordo com Lucy Amoroso, a principal medida é procurar um especialista para que ele possa fazer um diagnóstico preciso e, junto com uma equipe multidisciplinar, orientar sobre o tratamento da doença.

Em alguns casos é preciso introduzir medicamentos à terapia, pois o distúrbio pode ser confundido com a depressão ou com o TOC. “Assim, é necessário que o paciente seja orientado sobre a doença, mas o primeiro passo é ter consciência de que está doente”, pontua a especialista.

Distante do padrão

 “A maioria das pacientes fica bem por algum tempo, depois, volta a apresentar o distúrbio. É uma evolução tortuosa”, explica a psiquiatra Jocelyne Rosenberg, para quem é preciso uma vigilância permanente sobre o paciente, sobretudo nos momentos de transição em sua vida: uma perda, uma mudança radical ou até mesmo o ingresso na faculdade, por exemplo. Conforme a psiquiatra, nessas fases, os jovens sentem que perdem o controle sobre suas vidas.

A dismorfia corporal pode ter incidência leve, moderada ou grave. Para se caracterizar como doença é necessário que a pessoa tenha sua auto-imagem alterada ou distorcida.

De acordo com a especialista, ela pode estar se achando muito gorda, quando na realidade seria apenas “cheinha. Pode estar se vendo apenas gorda, quando na realidade é normal, enfim, pode estar se sentindo distante de algum padrão ideal de aparência física.

Na cultura ocidental atual, o conceito de beleza está associado à juventude, como se o belo fosse, necessariamente, igual a ser jovem. Talvez por isso, nos dias de hoje, batem-se recordes na cirurgia de rejuvenescimento e no consumo de medicamentos para emagrecer.

As pessoas em geral, e os adolescentes em particular, costumam crer que modelos, artistas de cinema e de televisão sejam protótipos a ser copiados. “A questão estética deixa assim de ser harmonia e passa a ser imposição”, completa psiquiatra. 

Difícil identificação

* A patologia é emocional de fundo psicossocial, motivadas pela pressão da sociedade pelos padrões de beleza

* Baseia-se em uma distorção da autoimagem corporal que as pacientes têm de si próprios, gerando permanente insatisfação.

* Pode ter componentes genéticos (predisposição) que se somam aos emocionais para desencadear a doença

* Caracteriza-se por comportamento compulsivo que leva ao isolamento e ao abandono das atividades normais

* Causa grave problemas de saúde

* É de difícil diagnóstico, os pacientes não admitem estar doentes

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