Um desequilíbrio na balança

Os candidatos a um emprego já sabem que o mercado de trabalho está ficando cada vez mais exigente. Concluir um curso de graduação, apostar em uma pós-graduação, ter fluência em mais de um idioma, ter noções de informática ou manter um bom relacionamento para trabalhos em grupo são apenas alguns dos pré-requisitos exigidos para se candidatar a uma boa vaga num posto de trabalho. A todas essas exigências, acrescente-se mais uma: também é preciso ser magro.

De acordo com dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, 10,5 milhões de brasileiros com 20 anos ou mais são obesos (8,9% da população masculina e 13,1% das mulheres). Se considerada também a população que está acima do peso ideal, o número salta para 40,6% – quase 39 milhões de pessoas. Ao confrontarmos os dados com a situação nas empresas, podemos chegar a uma conclusão: não é fácil para o obeso conseguir emprego.

O obeso se depara com muitos percalços para entrar ou se manter na vida profissional. Quem está acima do peso encontra dificuldades para conseguir cargos que exigem uma exposição maior da imagem corporal, não porque as empresas exigem pessoas bonitas, mas porque a beleza parece estar ligada à idéia de saúde e de uma boa relação das pessoas com o próprio corpo. ?Sem contar que os obesos têm maiores índices de comorbidades com faltas ao trabalho, relacionadas aos problemas de saúde e maiores índices de licenças médicas?, relata a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Centro Integrado de Terapia Nutricional.

Comportamento inadmissível

Para Durval Ribas Filho, presidente da ABRAN ? Associação Brasileira de Nutrologia, a discriminação contra o obeso é uma atitude inaceitável. ?A obesidade é uma doença e precisa ser tratada?, frisa. No entender do dirigente, as informações (ver quadro ao lado) revelam que a sociedade condena o obeso, facilitando o surgimento de sentimentos de rejeição. Rotular o excesso de peso como um desvio social, gerado pela falta de autocontrole, conforme Ribas Filho, é um comportamento inadmissível. ?Não podemos ser coniventes com essa atitude, permitindo que a ditadura da beleza se instale, também, no ambiente de trabalho?, alerta o médico.

No entender de Ellen Paiva, preocupadas com possíveis desdobramentos de problemas de saúde, as companhias evitam a contratação do profissional obeso. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 80% das doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais (AVCs), diabetes tipo II e 40% dos cânceres poderiam ser evitados com uma dieta saudável e atividade física regular. Com efeito, o sobrepeso e a obesidade estão associados ao aumento nos custos com assistência médica e nas faltas ao trabalho. ?Essa possível ?fragilidade? torna esses profissionais muito mais vulneráveis às pressões pelas metas das empresas e pela competitividade normalmente nelas existentes”, admite a especialista.

Ações no ambiente de trabalho

Hoje, o ambiente de trabalho tem se apresentado como um dos espaços mais apropriados para o enfrentamento da obesidade. Muitas organizações estão investindo em programas de qualidade de vida que disseminam informações sobre a doença, mantendo reuniões com equipes multidisciplinares em nutrição e realizando exames preventivos e de acompanhamento dos fatores de risco da obesidade.

Para a instauração de um programa corporativo de qualidade de vida que combata e previna a obesidade é necessário conhecer o número de empregados com obesidade e sobrepeso, bem como mapear a presença de outros fatores de risco (colesterol elevado, sedentarismo, tabagismo) na organização. ?O ideal é que os programas empresariais englobem informação, sensibilização para mudança de comportamento, orientação nutricional, estímulo para a prática de atividade física e acompanhamento médico apropriado?, reconhece Ellen Paiva.

Na opinião da endocrinologista, investir no combate à obesidade e na qualidade de vida do funcionário trará também a conseqüente redução dos custos com assistência médica, diminuirá o absenteísmo, melhorará a produtividade e o grau de contentamento e comprometimento do colaborador, que se sentirá valorizado e incentivado. ?Isso será bom para o ser humano e bom, também, para as empresas?, reforça a especialista.

NOTAS

Executivo obeso recebe salário menor

Pesquisa do Grupo Catho realizada junto a 31 mil executivos identificou que 65% dos presidentes e diretores de empresas têm alguma restrição na hora de contratar pessoas obesas. Isso acontece, segundo a pesquisa, porque existe, mesmo que não declarada, uma discriminação contra os trabalhadores com sobrepeso. Segundo dados do estudo, o mercado paga mais às pessoas magras. Pelos cálculos dos pesquisadores, cada ponto a mais no IMC – Índice de Massa Corporal pode representar para um gerente, por exemplo, uma redução de R$ 92,00 por mês no salário.

Sobrepeso afeta metade dos industriários

Metade dos trabalhadores da indústria brasileira está acima do peso ideal, e 26,3% deles sofrem de hipertensão arterial. Os dados são de uma pesquisa realizada junto aos trabalhadores da indústria, divulgada pelo Serviço Social da Indústria (SESI). A pesquisa revela que, além dos 49,7% dos trabalhadores que apresentaram excesso de peso, 13,5% dos industriários são obesos. Outros 7,7% têm colesterol elevado e 2,9% são portadores de diabetes. A pesquisa foi realizada com cerca de cinco mil industriários em cinco estados.

OLHO: Em algumas empresas, o sobrepeso já passou a integrar a lista das preocupações com qualidade de vida. Elas elaboram programas para combater a obesidade em seus quadros.

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