Tratamentos de infertilidade podem levar casais a exageros

A busca da gravidez a qualquer custo pode estar causando exageros na reprodução humana. No dia, 16 de janeiro, Adrian Iliescu, de 67 anos, tornou-se a mãe mais velha do mundo ao dar à luz, na cidade de Bucareste, uma menina saudável que se chama Elisa María. Adrian, que é professora universitária, nunca havia conseguido engravidar de forma natural e há nove anos era submetida a tratamentos de reprodução assistida. Para que a romena pudesse ter filhos, foi realizada uma fertilização in vitro. O esperma e o óvulo foram doados por um casal jovem. Foram implantados no útero da professora três embriões, mas um deles teve que ser retirado para que a gravidez fosse viável. O parto teve que ser antecipado, na 33.ª semana de gravidez, ao se constatar que um dos bebês, também uma menina, estava morto no útero.

O caso desperta polêmica. Jornais romenos estão questionando se a mãe viverá o suficiente para criar a filha. Ginecologistas do país alertaram para o fato de ser uma gravidez de risco e os políticos apontam para a necessidade de uma lei que regulamente a idade máxima para que as mulheres se submetam aos tratamentos de reprodução assistida.

Muita gente deve estar se perguntando: será que não está havendo um exagero? Essa é uma discussão que cabe em qualquer lugar do mundo, inclusive no Brasil. A medicina reprodutiva brasileira é uma das mais avançadas do mundo, atraindo, inclusive, pacientes do exterior. Em paralelo aos avanços do País nessa área, especialistas procuram estabelecer limites éticos para que as mulheres engravidem, sem colocar em risco suas vidas e a de seus bebês e pensando no futuro dos filhos em relação à idade da mãe.

Hoje, a maioria dos médicos estabelece um limite de 55 anos para a gravidez. Isso porque, apesar de ser um fenômeno raro, algumas mulheres ainda menstruam nessa idade e, por isso, uma gestação não é totalmente impossível de ocorrer. "Porém, mesmo 55 anos é um limite polêmico para engravidar. Como será o crescimento dessa criança? O que ela vai sentir quando perceber que seus pais são bem mais velhos que os pais de seus amigos?", questiona o dr. Arnaldo Cambiaghi, especialista em Reprodução Humana e diretor clínico do Centro de Medicina Reprodutiva do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia). O médico esclarece que fundar uma família é um direito de todos, reconhecido na Declaração Universal dos Direitos do Homem (artigos III, VII e XVI, 1), mas é uma decisão que deve ser avaliada criteriosamente, inclusive pelos especialistas em Reprodução Humana. "Deve-se ter critério ao aceitar uma determinada paciente para este tipo de tratamento", explica.

Em um de seus livros, fertilização um ato de amor, Editora Edicon, dr. Arnaldo dedica um capítulo ao assunto e explica que cada caso deve ser avaliado isoladamente, de acordo com as condições físicas e psicológicas da mulher e de seu companheiro. "É necessária uma avaliação equilibrada do universo desta futura família e uma análise rigorosa do casal do ponto de vista psicológico e médico, para saber se o organismo desta mulher suportará uma gestação. Cada caso deve ser avaliado isoladamente", afirma dr. Arnaldo. O especialista ressalta a importância do bom senso. "É preciso que tanto os médicos quanto as pacientes tenham bom senso na hora da consulta. É um fator fundamental para qualquer tratamento", completa.

Dr. Arnaldo Cambiaghi é especialista em Reprodução Humana do Centro de Reprodução Humana do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia). Também é membro da European Society of Human Reproduction and Embriology e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Escreveu os livros Fertilização, um ato de amor (2.ª Edição, ed Edicon), Manual da Gestante Orientações especiais para a mulher grávida (ed Madras) e Fertilidade Natural (que será lançado em março pela editora LaVida Press). Também ministra aulas, palestras e cursos para os profissionais da área e o público em geral, através do Centro de Estudos do IPGO.

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