Tratamento da depressão em idosos deve valorizar autonomia e perspectivas de vida

O tratamento psicológico de idosos com depressão precisa valorizar a autonomia e a individualidade dos pacientes. ‘Devemos tratá-los como sujeitos ativos’, afirma a psicóloga Cláudia Aranha Gil, que concluiu recentemente sua dissertação de mestrado sobre o tema no Instituto de Psicologia (IP) da USP. Ela considera que, controlar o idoso, dizendo sempre o que é melhor para ele, retira muitas vezes suas possibilidades de entrar em contato com seus sentimentos e pensamentos e de agir em busca de soluções, explica.

A tentativa das famílias de tornar o idoso ‘útil’, ocupando-o com diversas atividades, fruto de uma visão assistencialista, não impede que ele sofra com a depressão. Segundo a pesquisadora esse tipo de postura só valoriza uma parte do ser humano. ‘Cria-se um fazer dissociado do ser, em que para ficar bem é preciso produzir. Muitos filhos, por exemplo, lotam os pais de atividades, mas não mantém com eles um contato mais próximo’. Cláudia ressalta a importância da conversa, da presença e do acolhimento em todas as relações, terapêuticas ou não. ‘O idoso tem a necessidade de falar e de ser ouvido, e os sintomas depressivos não devem ser vistos como conseqüência natural do envelhecimento’.

O estudo constatou que a depressão simbolizava uma situação de conflito e impasse. Os pacientes atendidos não conseguiam se sentir vivos e ativos num mundo que exigia deles uma conduta cada vez mais submissa. Embora o envelhecimento traga perdas – para o corpo, para a vida social – não existe um ‘envelhecimento psíquico’. Nessa fase da vida, as fragilidades individuais podem ficar mais aparentes, mas há também grandes potencialidades a serem realizadas. A depressão pode atingir a todos, em qualquer idade, por isso ‘os idosos deprimidos não devem ser vistos como uma categoria específica’.

Diagnóstico

A depressão na terceira idade é mais dificilmente diagnosticada porque alguns dos sintomas podem ser confundidos com outros problemas. Os efeitos colaterais de medicamentos, questões próprias da velhice, como a insônia, ou sintomas de doenças que acometem mais essa faixa etária, como o esquecimento, cuja causa pode ser Alzheimer, depressão ou simplesmente a idade, são alguns dos quadros que podem provocar confusão.

Segundo Cláudia, uma pesquisa de 2002 revelou que no mundo, 22% dos idosos apresentavam sintomas depressivos. Em asilos e hospitais esse número variava entre 35% e 45%. Apesar disso, a questão é pouco estudada e o serviço público não está preparado para atender bem a essa população. Em sua pesquisa a psicóloga atendeu a pacientes que pararam de tomar os remédios antidepressivos, devido aos efeitos colaterais e à demora em acertar a dose dos medicamentos. Cláudia defende, no entanto, que o atendimento seja feito em conjunto pelo médico e pelo psicólogo.

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