Problemas afetivos podem levar à cleptomania

Na novela, a atriz Christiane Torloni vive a personagem Haydée, uma milionária cleptomaníaca. Na vida real, outra atriz, Winona Ryder, sofre do mesmo mal. Ambas não precisam furtar nenhum objeto em qualquer loja ou em residência de conhecidos, já que gozam de situação financeira confortável. No entanto, é nesse ponto que a doença ?pega?, pois é caracterizada por uma compulsão desenfreada para o roubo, podendo atingir crianças, adultos e idosos. ?De qualquer classe social?, frisa a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro ?Mentes inquietas?.

De acordo com a médica, esse desvio de comportamento é mais comum do que se imagina. As pessoas que sofrem do distúrbio perdem o controle, se sentem cada vez mais carentes e são capazes de furtar objetos nos mais diversos locais ou ocasiões. Desde um vidro de esmalte até artigos mais caros, como jóias e roupas de grife. Ana Beatriz destaca que o cleptomaníaco não furta para acumular bens ou ficar rico. Invariavelmente, ele tem plena consciência do que está fazendo, sabe que não é correto e, na maioria das vezes, se sente culpado e com remorso.

Afeto e compreensão

A psicóloga Maria da Graça Padilha, da Clínica de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná, diz que, tal como ocorre em outras compulsões, como o uso de álcool e drogas ou no jogo patológico, a pessoa passa por certa tensão antes de praticar o furto e, depois, é tomada por uma sensação de prazer e satisfação. ?Existem muitas motivações que levam a pessoa ao furto e elas variam conforme cada caso?, explica. Ela cita como importante fator o significado que a falta do objeto desejado reflete nas suas questões afetivas. Para ela, conforme o caso, o roubo tem apenas um valor simbólico no processo de resgate da estima ausente.  

Desde muito cedo os pais devem ficar atentos aos sinais emitidos por seus filhos. A melhor maneira de prevenir que uma criança se desvie para a cleptomania é lhe dando todo o afeto que necessita. Conforme Maria da Graça, nesse ponto, o que vale é a qualidade do afeto, não a quantidade. Os pais devem ficar atentos aos atos de seus filhos. Quando aparecerem com algum objeto que não lhes pertence (lápis, borracha ou brinquedo) as crianças devem ser orientadas a devolvê-lo, com os pais explicando a gravidade de tal ato.

De acordo com Ana Beatriz, o desaparecimento definitivo da cleptomania é muito difícil. Por isso, ao menor sinal os pais devem procuram um profissional capacitado para tentar impedir sua evolução. Há várias formas de psicoterapia eficazes no tratamento de cleptomaníacos. Uma indicação seria a psicoterapia comportamental, que tem por objetivo modificar os pensamentos e comportamentos do paciente. O uso de medicamentos ajuda no tratamento, mas o profissional deve buscar o desenvolvimento do autocontrole da pessoa, promovendo um diálogo aberto com o paciente, sem jamais culpá-lo pelo seu ato. É importante fazê-lo compreender o que a doença causa para si mesmo e para a sociedade, envolvendo muitas vezes a família e os amigos.

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