Prejuízos do cigarro não têm fim

Depois de trinta anos fumando a pessoa começa a sentir falta de ar ao subir uma escada ou caminhar mais rapidamente e, mesmo assim, acredita que isso são coisas da idade ou simplesmente falta de condicionamento físico. Puro engano. Na verdade, ela pode estar sofrendo de DPOC ? Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, a quarta maior causa de morte no mundo. Um comunicado da Organização Mundial de Saúde adverte que se não forem tomadas medidas urgentes, a DPOC se tornará uma grave epidemia até o ano de 2020.

O alerta serviu para que a classe médica se mobilizasse criando o Comitê “Gold” para disseminar o conhecimento sobre a doença, suas formas de prevenção, diagnóstico e tratamento. No Brasil, a DPOC é responsável por cerca de 300 mil internações por ano, o que gera um gasto aproximado de R$ 100 milhões para o SUS. São 30 mil mortes anuais, onde 90% das vítimas eram fumantes. Segundo o pneumologista José Roberto Jardim, coordenador científico do comitê brasileiro, a doença, na maioria dos casos, surge após os 50 anos de idade, porque é necessário ter o vício de fumar durante décadas para que ela apareça. Segundo o coordenador, além do tabagismo, a doença pode afetar pessoas expostas a ambientes poluídos por gases tóxicos ou produtos químicos, como ocorre com trabalhadores de indústrias químicas e de vidro, por exemplo.

Associação de duas doenças

Roberto Pirajá Moritz de Araújo, da Sociedade Paranaense de Tisiologia e Doenças Torácicas, explica que, na verdade, a DPOC engloba outras duas doenças: a bronquite crônica, uma inflamação nos brônquios caracterizada pela presença de tosse e catarro por pelo menos dois anos, e o enfisema pulmonar, uma doença que destrói as paredes dos alvéolos e dos brônquios. “Na DPOC, as duas sempre estão juntas, mas pode haver predominância de uma ou de outra”, explica o pneumologista.

Conforme os especialistas, a primeira iniciativa para tratar a doença é a suspensão imediata do uso de cigarros. A seguir, o paciente deve passar por um centro de reabilitação pulmonar para recuperar o condicionamento, já que a falta de ar faz com que ele abandone a atividade física. O tratamento medicamentoso inclui o uso de broncodilatadores e, nos casos mais graves, a oxigenoterapia, um tratamento que comprovadamente reduz a progressão da DPOC, melhorando a qualidade de vida do paciente, mas que devido ao seu alto custo não atinge todos os portadores do distúrbio.

Para José Roberto Jardim, a doença tem a mesma importância de outras, como o infarto e a diabetes, por exemplo, mas nunca foi tão divulgada quanto estas. Ele admite que a DPOC pode ser considerada a “prima pobre” de outra doença, a asma, que foi sempre um alvo maior de pesquisas e atrai mais a atenção dos laboratórios fabricantes de medicamentos.

Como a DPOC é uma limitação progressiva, os tratamentos disponíveis não são capazes de curar a doença. Nenhum medicamento, por enquanto, é capaz de regenerar o pulmão, por isso, explica o especialista, é apenas parcialmente reversível. “Por mais que o paciente tome remédios, ele sempre sofrerá de falta de ar”, finaliza o médico.

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