Pílula pode ser inimiga do coração

O panorama das doenças cardiovasculares mudou. Muito mais comum em homens até pouco tempo, doenças, como acidente vascular cerebral (AVC) e infarto do miocárdio afetam cada vez mais mulheres.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são responsáveis por um terço de todas as mortes de mulheres no mundo, o que equivale a cerca de 8,5 milhões de óbitos por ano e mais de 23 mil por dia.

No entanto, a maioria das mulheres e parte dos médicos não dá a devida atenção à prevenção das doenças cardíacas entre elas.

Especialistas alertam para os cuidados preventivos e destacam os contraceptivos combinados (método contraceptivo com dois hormônios: estrogênio e progestagênio) como um dos fatores que podem aumentar os riscos cardiovasculares em pacientes com condições médicas específicas.

Dependendo da gravidade e do tempo da doença, a OMS faz restrições ao uso de métodos contraceptivos combinados em mulheres portadoras de diabetes, hipertensão, obesidade e não indicam para mulheres tabagistas acima dos 35 anos, devido à presença do hormônio etinil estradiol que aumenta os riscos cardiovasculares da paciente.

“Nesses casos, a opção é a pílula sem estrogênio, composta apenas pelo progestagênio, que tem o mesmo mecanismo de ação dos contraceptivos orais combinados, inibindo a ovulação, sem aumentar o risco de doenças cardíacas”, reconhece Nilson Roberto de Melo, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). O uso da pílula combinada é contraindicada para mulheres fumantes com mais de 35 anos.

Sintomas atípicos

Outros fatores auxiliam para que as doenças do coração tenham consequências piores nas mulheres. “A mulher demora a buscar atendimento, porque não dá a devida importância aos sintomas”, explica o cardiologista Rui Fernando Ramos, diretor de Promoção de Saúde Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Além disso, os sintomas das doenças cardiovasculares na mulher são diferentes das do homem. Elas apresentam maior incidência de sintomas, como falta de ar, fadiga, fraqueza e apenas 30% das pacientes femininas possuem dor típica como a do homem, na altura do coração.

As mulheres têm também maior incidência de depressão e problemas psicossomáticos, o que dificulta o diagnóstico, podendo ser interpretado como um simples nervosismo, angústia ou mal estar devido esforço físico ou problemas pessoais.

Como as pacientes apresentam mais sintomas atípicos, às vezes o próprio médico não reconhece os sinais do problema cardiovascular. Outro fator importante é que os tratamentos, em uma urgência médica, são menos invasivos nas mulheres.

“De modo geral, a mulher, por ter menor índice de massa corpórea e artérias coronárias mais finas, ao sofrer uma intervenção cirúrgica, pode apresentar mais complicações”, explica Ramos. Por isso, os tratamentos invasivos devem ser administrados em pacientes de alto risco.

Obesidade

O aumento na incidência da doença cardiovascular na mulher na pós-menopausa se deve ao incremento da obesidade, diabetes, hipertensão e dislipidemia (doença caracterizada por elevadas taxas de colesterol no sangue). Todas essas condições aumentam o risco de ocorrência de um problema cardiovascular.

“A obesidade favorece o desenvolvimento de diabetes e são indicativos importantes de maior risco cardiovascular, além disso, quando a mulher entra na menopausa, ocorre a centralização da gordura no abdome e maiores riscos de hipertensão, contribuindo para o desenvolvimento da doença cardiovascular”, explica Maria Teresa Zanella, presidente do Departamento de Dislipidemia e Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Endocrinologia. “Quanto maior a circunferência da cintura, maiores os níveis da pressão arterial, as chances de desenvolver diabetes e o risco para o coração”, conclui.

A especialista alerta que mulheres co,m estes quadros clínicos devem estar atentas ao uso do contraceptivo combinado ou ao uso da terapia de reposição hormonal combinada. O cigarro também é um inimigo do coração.

“O tabagismo triplica a chance de enfartar”, alerta Dr. Rui Fernando Ramos. Cerca de 90% das mulheres que enfartam antes dos 50 anos são fumantes. Para o Dr. Nilson Roberto de Melo, o perigo maior é associar o cigarro com os métodos anticoncepcionais combinados, o que eleva muito o risco cardiovascular.

Hábitos preventivos

O principal aliado do coração é o hábito de vida saudável com uma dieta alimentar balanceada, a prática regular de atividades físicas, controle do peso e uma vida sem tabagismo.

“Atualmente, 60% da mortalidade está associada aos maus hábitos de vida”, adverte Nilson Roberto de Melo. O estresse e a depressão também penalizam o coração, pois contribuem para o aumento da frequência cardíaca e a pressão arterial. “Se o paciente seguir uma dieta adequada, praticar atividades físicas e parar de fumar, diminuirá em 80% as chances de infarto agudo do miocárdio e em 40% de câncer”, garante o cardiologista Rui Fernando Ramos. Confira os hábitos que ajudam afastar as doenças cardíacas.

* uAlimentação equilibrada, incluindo frutas, verduras, legumes, carnes magras e cereais integrais
* Evitar carnes gordas e embutidos
* Não fumar
* Controlar fatores de risco, como diabetes, hipertensão e dislipidemia
* Buscar a orientação de um ginecologista para indicação de um método contraceptivo
* Evitar a automedicação
* Controlar o peso
* Praticar atividades físicas regulares
* Fazer exames periódicos com acompanhamento médico
* Estar atenta aos sinais de estresse e depressão, investindo em atividades prazerosas e buscar sempre orientação médica

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