Os riscos da síndrome de Burnout

Não há dados sobre a incidência da síndrome de Burnout no Brasil, mas os consultórios médicos e psicológicos registram um constante aumento do número de pacientes com relatos de sintomas típicos do distúrbio. O problema foi identificado pela primeira vez, em 1974, nos Estados Unidos, pelo pesquisador Freunderberger, a partir da observação de desgaste no humor e na motivação de profissionais de saúde com os quais trabalhava.

O termo síndrome de Burnout resultou da junção de burn (queima) e out (exterior), caracterizando um tipo de estresse ocupacional, durante o qual a pessoa consome- se física e emocionalmente, resultando em exaustão e em um comportamento agressivo e irritadiço. Boa parte dos sintomas também é comum em casos de estresse convencional. ?A diferença está no acréscimo da desumanização, que se mostra por atitudes negativas e grosseiras em relação às pessoas envolvidas com o ambiente de trabalho, que por vezes se estende também aos familiares?, explica a psicóloga clínica Adriana de Araújo.

Senso de responsabilidade

?No meu escritório está todo mundo estressado, eu vivo acordando durante a noite, mas não posso reclamar muito, afinal tem gente que nem consegue mais adormecer… deve ser esse mundo doido?, admite J. L. P., analista de sistemas. Segundo a psicóloga, é bom observar que o problema é sempre relativo ao mundo do trabalho. ?É importante ressaltar, que a doença atinge pessoas sem antecedentes psicopatológicos?, afirma. A síndrome afeta especialmente aqueles profissionais obrigados a manter contato próximo com outras pessoas e dos quais se espera uma atitude, no mínimo, solidária com a causa alheia. É o caso de médicos, enfermeiros, psicólogos, professores, policiais.

No Brasil, recentemente, a categoria dos funcionários de companhias aéreas inseriu-se entre aquelas de alto risco para desenvolver o distúrbio, devido às pressões intensas e ao desgaste vivido durante a crise dos atrasos nos horários dos vôos. Apesar desses perfis, a síndrome pode afetar executivos e donas de casa também. Conforme a médica Suzete Elizabeth G. Gerbers, da Associação Paranaense de Medicina do Trabalho, a maioria das vítimas do burnout são pessoas de altíssimo senso de responsabilidade e muito persistentes e intransigentes.

?Atualmente não existe nenhum consenso para definir o estressor ocupacional, ou seja, o antecedente do burnout?, explica a especialista em medicina do trabalho. Algumas das características individuais que podem incentivar o estabelecimento da síndrome são idealismo elevado, excesso de dedicação, alta motivação, perfeccionismo, rigidez. ?Em geral, são indivíduos que gostam e se envolvem com o que fazem, não medindo esforços para atingir seus próprios objetivos e os da instituição em que atuam?, avalia a psicóloga Adriana de Araújo. Com efeito, os ambientes corporativos estimulam, de alguma maneira, esse tipo de comportamento entre os profissionais, criando condições que podem predispor ao adoecimento e, na seqüência direta, em licenças médicas e eventuais afastamentos por longos períodos.

Avaliação criteriosa

Na realidade, o ritmo acelerado e as tensões no trabalho existentes atualmente, por si só, não desencadeiam a Síndrome. ?O desgaste com rotinas extenuantes, horas extras e cobranças de chefias constituem a regra quando o assunto é trabalho nos dias de hoje?, reconhece a terapeuta. O tratamento da síndrome de Burnout é essencialmente psicoterapêutico. Mas, em alguns casos, pode-se lançar mão de medicamentos, como os ansiolíticos ou antidepressivos para atenuar a ansiedade e a tensão, sendo sempre necessária uma avaliação criteriosa e, no caso medicamentoso, a prescrição feita por um médico especialista.

As áreas mais estressantes

1) Tecnologia da Informação

2) Medicina

3) Engenharia

4) Vendas e Marketing

5) Educação

6) Finanças

7) Recursos Humanos

8) Operações

9) Produção

10) Religião

Fonte: Consultoria SWNS

Hora de parar

O profissional tem direito a afastar-se uma vez que tenha sido diagnosticada a síndrome.

"É preciso que as empresas se conscientizem da urgência de reavaliar a cultura de exigir dos funcionários metas, às vezes, impossíveis para um ser humano", alerta Adriana de Araújo. A recuperação dos portadores do distúrbio é mais bem sucedida quando medidas de suporte, com profissionais treinados para situações de crise, são mescladas com medicação adequada. Além disso, o tratamento não se limita à recuperação, mas deve fornecer instrumentos para transformar as situações problemáticas em atitudes produtivas e saudáveis. Entre as principais medidas destacam-se o aumento na variedade de rotinas, para evitar a monotonia; abandono das horas extras em excesso; melhor suporte social; implantação de melhorias nas condições sociais e físicas de trabalho e o investimento no aperfeiçoamento profissional e pessoal.

Fases

Primeira: exaustão física, mental e emocional. É a fase do "só quero um banho e cama!". O sono em geral não consegue reparar o organismo e, geralmente, durante o dia, ocorrem períodos de excitação intercalados com outros de pura apatia.

Segunda: a exaustão provoca baixa na auto-estima e dúvidas a respeito da própria capacidade. Nesse ponto, de modo geral, as pessoas que estão ao redor começam a perceber mudanças no comportamento.

Terceira: a exaustão deixa o indivíduo com "estopim curto".

A agressividade verbal acaba por afastar as pessoas ao redor. Esta fase é a mais propícia para o surgimento de doenças, especialmente as doenças coronarianas.

Quarta: a situação é de exaustão total e de crise pessoal. Nesta fase, é comum o indivíduo tentar minorar a situação utilizando bebidas alcoólicas, fumo e drogas. Essas alternativas aliadas a uma passividade física só fazem piorar o quadro.

Sintomas

Sintomas emocionais: avaliação negativa do desempenho profissional, esgotamento, fracasso, impotência, baixa auto-estima.

Manifestações físicas ou transtornos psicossomáticos: fadiga crônica, dores de cabeça, insônia, úlceras digestivas, hipertensão arterial, taquicardia, arritmias, perda de peso, dores musculares e de coluna, alergias, lapsos de memória.

Alterações Comportamentais: maior consumo de café, álcool e remédios, faltas no trabalho, baixo rendimento pessoal, cinismo, impaciência, sentimento de onipotência e também de impotência, incapacidade de concentração, depressão, baixa tolerância à frustração, ímpeto de abandonar o trabalho, comportamento paranóico (tentativa de suicídio) e/ou agressividade.

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