O que procuram os pacientes?

Muitas vezes o indivíduo com uma doença pergunta a si mesmo se existe, por parte do médico, conhecimento da diferença sobre o conceito daquilo que é doença e do que é saúde?  O médico, do outro lado da mesa, acostumado com os sinais da doença como um fato biológico, olha exclusivamente para os indicadores da doença esquecendo o indivíduo.  É comum encontrar pacientes totalmente desapontados com essa atitude inconsciente de alguns profissionais da medicina, prejudicando como um todo o conceito da classe médica.

Situação difícil de solucionar, já que por um lado a doença pode ser muito mais daquilo reconhecido como tal pela medicina ou pelo conhecimento do profissional e, por outro, o paciente pode ter procurado o médico por motivos que não são derivados de uma doença específica.  Parece que durante a consulta ambos os lados da mesa procuram pateticamente alguma coisa perdida em algum outro lugar e, provavelmente, estejam procurando no lugar errado.

Muitos elementos colaboram para formar um ambiente impróprio para uma correta relação entre o médico e o paciente.  O paciente pode estar procurando o apoio não encontrado com um outro profissional da saúde, talvez uma explicação que sirva como consolo numa doença crônica ou explicações sobre como reparar um erro médico, um diagnóstico equivocado, mas a curta duração da consulta, a baixa remuneração dos médicos e, em muitos casos, a insatisfação com a falta de infra-estrutura nos hospitais faz com que a relação durante a consulta seja frustrante.

Um olhar humano, uma conversa com palavras amigas, escutando o paciente, dedicando mais dez minutos, perguntando a ele sobre seus problemas e angústias poderia tornar mais fluida a consulta e estabelecer vínculos menos superficiais, aumentando a empatia e a confiança na relação com o médico. Atitudes desse tipo desarmariam o ?impaciente?, transformando-o em um verdadeiro ?paciente?, o qual passará a participar de forma mais ativa no seu tratamento sem exigir respostas ou soluções imediatas, com índices menores de abandono no tratamento das doenças crônicas.

A palavra ?paciente? é utilizada há mais de dois mil anos, desde Hipócrates. Quando a população totalmente analfabeta dependia de poucos sábios para tratar suas doenças, assim, deviam ser ?pacientes? para entender os conselhos e mudar sua forma de vida, praticamente a única terapia possível na época.

Já a palavra ?consulta? é muito apropriada e deveria ser dada uma ênfase maior no seu significado, na sua compreensão pelos médicos.  Consulta vem de ?consultor?, ou seja, numa consulta o médico deve explicar detalhadamente a situação do paciente, da sua doença, mostrando o que pode vir a acontecer com seu estado de saúde tratando ou não.  Deve, ainda, explicar que a intervenção cirúrgica, os exames ou os medicamentos a serem utilizados apresentam benefícios e riscos. Explicado tudo, detalhadamente, o paciente é quem deve decidir a estratégia que aceita seguir.

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